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A Melhor Ação Para os Próximos Dez Anos: RLOG3 (ou Cosan)

Publicado 09.02.2021, 12:44
Atualizado 09.07.2023, 07:32
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PASS3
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E se você tivesse que comprar uma única ação, para passar os próximos dez anos com ela, qual seria?

Pergunta difícil. Também recorrente. Vira e mexe, ela aparece em minhas interações com investidores.

Evito a responsa, fugindo como o diabo da cruz. Uma ambivalência ambulante (com orgulho, pois é do embate dialético comigo mesmo que me surgem as ideias), consigo ser um defensor ferrenho e também um crítico da teoria moderna de finanças.

Prezo pela diversificação. Ela permite reduzir dramaticamente o risco de seu portfólio, preservando retorno potencial. Num mundo de incerteza e aleatoriedade, concentrar numa única aposta pode render machucados insuperáveis. Perder uma grande valorização não muda a sua vida. Será apenas mais uma das oportunidades que lhe passaram — muitas delas você nem percebeu. Já se você comprar uma ação de forma muito concentrada, a suposta oportunidade errada destrói a sua vida.

Há um outro fator objetivo capaz de demonstrar o quanto a diversificação ajuda o investidor. Ela valoriza a ignorância, por mera aplicação da aritmética. Aquela velha discussão imaginária que contemplo na minha cabeça entre Warren Buffett e Nassim Taleb:

— A diversificação é a arma daqueles que não sabem o que estão fazendo.

— Que ótimo, porque normalmente a gente não sabe mesmo.

A gente costuma atribuir competências excessivas e alimentar nosso desejo de controle, achando que sabemos o que vai acontecer no futuro, como se pudéssemos mapeá-lo e antecipá-lo para o presente.

Então, imagine que o futuro continue impermeável. Se você investe 100% do seu dinheiro numa ação e algo inesperado acontece, você pode perder um bocado de dinheiro.

Agora, e se você comprar, sei lá, 30 ações diferentes, o que deve acontecer aleatoriamente depois de dez anos? Um terço deve dar errado. Supomos que vai a zero. Outro terço fica ali meio empatado. E um terço vai dar muito certo, se multiplicando várias e várias vezes, o que paga a conta de todo o portfólio consolidado.

A diversificação é a forma inteligente de se apropriar da convexidade e da assimetria positiva (mais para ganhar do que para perder) das ações.

Outro ponto importante diante da pergunta de “qual ação comprar para os próximos dez anos?” é que uma década é muito tempo. O mundo está muito dinâmico e tudo pode mudar rápido.

Há uma certa confusão em torno do termo “buy and hold”. Alguns pensam que isso significa comprar uma determinada ação e carregá-la indefinidamente, sem qualquer tipo de reavaliação no meio do caminho. Basta comprar e sentar em cima, que teremos a garantia do sucesso.

Obviamente, não funciona assim. O objetivo é comprar e carregar por anos. Mas você deve reavaliar suas posições em bases frequentes. No momento em que a determinada ação atingir o determinado valor intrínseco projetado, mesmo o “buy and holder” deve vendê-la. E, também, se algo mudou no cenário e o valor intrínseco subitamente caiu muito, você também pode ter de se desfazer dela.

O “holder” pode comprar uma ação pensando em vários anos, mas, mesmo dentro de sua filosofia, se desfazer dela amanhã, seja por uma alta inesperada ou por uma mudança de cenário súbita.

Por isso, crianças, não façam isso em casa. A ideia de “comprar uma única ação para dez anos” deve ser evitada. Ela aparece aqui apenas como uma metáfora, para demonstrar minha convicção no case.

Falo do Grupo Cosan (SA:CSAN3), mais especificamente de RLOG3 (SA:RLOG3), que é CSAN3 com desconto. Para mim, ela reúne os elementos necessários para o que seria um ciclo longo de crescimento e valorização, com bom nível de gerenciamento de risco. Alta barreira à entrada em seus negócios, ativos irreplicáveis, management/controlador absurdamente competente e comprometido, governança corporativa alinhada, sólida estrutura de capital, posicionamento único em infraestrutura brasileira e capacidade sem precedentes de alocar capital.

RLOG3 é a maior posição da minha carteira recomendada de ações. Pretendo mantê-la para longo prazo. 

Deixo claro: meu otimismo com o Grupo Cosan é estrutural e de longa data. Ontem, porém, ele ganhou um reforço importante. A aquisição da Biosev (SA:BSEV3) mostrou uma disciplina e uma capacidade de alocar capital de maneira eficiente únicas. Se é para comprarmos um ativo que não é premium, haveremos de pagar barato. Tudo tem o preço certo. O “Binho” foi lá, falou o preço que queria pagar. Acharam pouco. Então, ele esperou. O negócio foi se deteriorando e a companhia alvo, endividada, foi naturalmente convergindo para o preço de compra. “Não é nada pessoal, são apenas negócios.” E, numa negociação, quem entra mais frágil acaba perdendo mesmo.

Raízen pagou US$ 34/tonelada de capacidade da Biosev. Isso já faria uma aquisição bem accretive, quando você compra uma empresa cujos múltiplos são inferiores a seus próprios e, ao consolidar no seu balanço, acaba derrubando os seus próprios múltiplos (média entre o múltiplo já existente e o novo da empresa adquirida). Aí temos sinergias muito importantes, tanto operacionais estritas e diretas, quanto no âmbito da Rumo e das tradings. O total estimado de sinergias é de R$ 6 bilhões, que é basicamente o que pagou entre dinheiro e ações — se incluíssemos o valor presente líquido de até R$ 2 bilhões em benefícios fiscais derivados da transação, vira um negócio simplesmente brutal. No nível atual de preço do açúcar, isso vai gerar caixa muito mais intensamente do que todos poderiam supor a priori.

Eu não consigo identificar outro nome com essa capacidade de alocar capital em Bolsa e um posicionamento estratégico tão precioso. O momento para o açúcar e a excelência operacional na Raízen Energia conferem uma interessante exposição a soft commodities no momento. Raízen Combustíveis nos dá uma posição espetacular para o momento de abertura e normalização da economia, numa marca forte e com espaço para adicionar receita no nível dos postos com pé em consumo e varejo. Compass (SA:PASS3) é uma brutalidade para geração de caixa e distribuição de dividendos, capaz de se beneficiar enormemente do desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil e com um potencial de crescimento muitas vezes subdimensionado — está na cara do pré-sal e, se pegar mesmo essa história da Rota 4, vai ser uma nova multiplicação de valor.

Rumo é um caso à parte. Ativo irreplicável, demanda resiliente e inelástica, bem-posicionada para capturar desenvolvimento do modal ferroviário no Brasil e menor dependência do rodoviário, incluindo aí avanços regulatórios — claro que há toda uma questão política delicada envolvendo o assunto, mas a capacidade de negociação do time permite a confiança —, projetos de expansão importantes, exposição ao agro, redução importante do risco de execução a partir de contratos take-or-pay, estrutura de capital finalmente adequada e um valuation atrativo. Mais importante: uma possibilidade de surpreender bastante em volume neste ano, depois de certa frustração em 2020.

Sejamos honestos aqui: Rumo foi um pouco gulosa em preços no ano passado. Achou que poderia remarcar preços, sobretudo no Mato Grosso, e não encontraria grande resistência. Mas a turma se organizou e deu um “susto” de volta. Concorrência com a BR local e até com Hidrovias do Brasil (SA:HBSA3) começou a sugerir perda de volume. Olha, tem algumas pessoas com quem é melhor não brigar. Acho que acabou a festa. Entra em cena a famosa “estratégia Skol”. Rumo voltou a ser competitiva em preços e vai amassar a Hidrovias do Brasil — “não deixa o monstrinho crescer”. Estimo mais de 90% dos volumes do ano já contratados pela Rumo neste ano; em 2020, a esta altura, era cerca de 50%. O tema todo de 2020 para Rumo, que foi alguma frustração com volume, está sendo (pra mim, já foi!) superado e pode ter espaço para surpresa.

Gosto de Cosan. Gosto ainda mais de RLOG3, que é CSAN3 com cerca de 5% de desconto. E gosto também de um long RAIL3 (SA:RAIL3) x short HBSA3.

Uns preferem os banqueiros. Outros preferem a turma da cerveja. Para mim, porém, se procuram um novo 3G ou algo parecido com isso, poderiam encontrá-lo em Rubens Ometto, Marcelo Martins e Luis Henrique.

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