De hoje até a sexta-feira da semana que vem os indicadores e eventos econômicos previstos nos Estados Unidos servirão para reforçar (ou dirimir) a percepção de que os juros norte-americanos podem subir mais que o previsto inicialmente, colocando à prova o humor dos mercados globais, após a aparente estabilização nos preços dos ativos, observada ontem. A depender dos acontecimentos, pode haver uma nova carga de estresse nos negócios, sob o risco de um Federal Reserve mais agressivo.
Hoje, as atenções se voltam para a primeira estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano, às 9h30, o que eleva a cautela entre os investidores nesta manhã. A previsão é de expansão de 2,0% nos três primeiros meses deste ano, desacelerando-se em relação à taxa de 2,9% no último trimestre do ano passado, ambos em termos anualizados.
No mesmo horário, também sairá o índice de custo de empregos, que pode dar pistas sobre a pressão da inflação nos salários, além do índice de preços de gastos com consumo (PCE), medida de inflação preferida do Fed. Juntamente com os números, tem ainda o deflator do PIB, usado para inferir o nível médio de preços na economia.
De um modo geral, a expectativa é de inflação mais alta nos EUA no horizonte à frente, fruto de uma economia mais forte, com a atividade seguindo robusta, em meio às políticas expansionistas do governo Trump. Tal cenário mantém o receio de um ritmo mais intenso no processo de alta dos juros norte-americanos, o que tem sustentado os títulos do país (Treasuries) em patamares não visto há alguns anos.
Nos últimos dias, cresceu o temor de que o Fed possa alterar o plano de voo no processo de normalização monetária e promover quatro apertos na taxa dos Fed Funds (FFR) até dezembro, ante uma estimativa original de apenas três altas. E juros mais altos nos EUA têm potencial para atrair recursos aplicados em ativos de maior risco, principalmente em países emergentes, diante do maior retorno pago por um papel menos arriscado.
Obviamente, o Fed está acompanhando atentamente a evolução da inflação, da atividade e do emprego nos EUA, o que aumenta a expectativa para a próxima reunião da autoridade monetária, logo no início de maio, e também para o relatório oficial sobre o mercado de trabalho no país em abril, daqui a uma semana. Daí então, a importância da agenda norte-americana nos próximos dias.
Porém, por mais que tenha perdido atratividade o diferencial no prêmio pago por aplicar em títulos brasileiros, chama atenção o comportamento firme da Bolsa brasileira, que ontem fechou acima dos 86 mil pontos e está pouco mais de 1 mil pontos distante da pontuação recorde, ao redor dos 87,6 mil pontos, cravada em fevereiro. Na época, o dólar era cotado a R$ 3,25 e, agora, a moeda norte-americana gira em torno dos R$ 3,50.
E a explicação mais convincente é de que a Bolsa voltou a ficar “barata” (atrativa) em dólar. Apenas em abril, o Ibovespa acumulava perdas ao redor de 5% em moeda estrangeira, o que chamou de volta o capital externo, com o investidor estrangeiro alocando recursos novamente nas ações locais. Em apenas dez dias, os “gringos” ingressaram com quase R$ 4 bilhões na renda variável local, o que fez o saldo no acumulado do ano voltar a ficar positivo.
No dado mais recente, referente à última terça-feira, esse movimento de entradas sucessivas na Bolsa foi interrompido, computando uma pequena saída. Um dia depois, o dólar superou a barreira psicológica de R$ 3,50, fechando no maior nível desde junho de 2016. E somente ontem a moeda norte-americana conseguiu quebrar a sequência de cinco altas seguidas, passando por uma leve correção, mas seguindo acima de R$ 3,45.
Lá fora, o dólar mede forças em relação aos rivais, mas mantém-se estável, com o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) seguindo abaixo de 3% e negociado no menor nível em uma semana. Nas bolsas, as oscilações são estreitas, com a safra de resultados das empresas tentando embalar os negócios, porém sem muito êxito. Os índices futuros de Nova York têm leves baixas, após uma sessão de ganhos na Ásia, enquanto as praças europeias estão na linha d’água.
Entre as commodities, o petróleo lidera as perdas, com o barril do tipo cru (WTI) rondando a faixa de US$ 68, enquanto o cobre é cotado no nível mais baixo em mais de uma semana. No radar, os investidores monitoram o encontro histórico entre as duas Coreias, o que suaviza as tensões geopolíticas. O won sul-coreano é destaque de alta, ao passo que o iene está de lado, após o Banco Central do Japão (BoJ) manter seus estímulos, como esperado.
Ainda no calendário do dia nos EUA, saem também o índice regional de atividade em Chicago neste mês (10h45) e a leitura final de abril da confiança do consumidor norte-americano (11h). Na Europa, tem o índice de sentimento econômico e a leitura revisada da confiança do consumidor na zona do euro em abril, pela manhã. Além disso, ministros de Finanças da região da moeda única reúnem-se, em Bruxelas.
Já na agenda doméstica, destaque para os números do desemprego no Brasil, atualizados até março. A previsão é de que a taxa de desocupação avance pela terceira vez seguida, a 13,0%, voltando ao maior patamar desde o segundo trimestre do ano passado, com a população desocupada indo além de 13 milhões, enquanto os ocupados somam cerca de 90 milhões.
Os números efetivos serão divulgados às 9h. Antes, às 8h, sai o IGP-M de abril, que deve desacelerar em relação a março, e, depois, às 10h, sai o relatório sobre a dívida pública no mês passado. Na safra de balanços, destaque para o resultado trimestral da fabricante de aeronaves Embraer (SA:EMBR3), antes da abertura do pregão local.