O que há de concreto
Principal notícia corporativa do dia, Petrobras convocou reunião de seu Conselho de Administração para hoje. Ações dispararam na véspera na expectativa por - enfim - a apresentação do balanço.
Como não divulgaram a pauta da reunião e essa divulgação já foi adiada algumas vezes, prefiro me abster. Comentemos disso com dados concretos em mãos.
Ainda que dados “concretos” não sejam a definição mais precisa para números não auditados.
Em que ponto chegamos
Como sabemos, Dilma abriu mão do Fórum Mundial de Davos para prestigiar a posse de Evo Morales na Bolívia.
Foi até lá passar constrangimento: “Aqui não mandam os Chicago Boys”, bradou Morales, talvez em referência a algum ministro, que, aleatoriamente, poderíamos dar o nome, hmm, vamos ver.... de Joaquim Levy.
Constrangimento maior, talvez só o de, do alto de nosso enorme potencial hídrico, estarmos recorrendo à importação de energia da argentina.
Poxa, justo dos hermanos?
Se bem que, constrangimento por constrangimento, sem dúvida prefiro ser motivo de piada nos vizinhos tentando corrigir erros crassos da economia, e de luz acesa, do que o contrário...
Jogo de palavras
Alheio a toda essa mesquinharia, Levy, do alto de Davos, afirmou que “o PIB no Brasil é muito resiliente”.
Por “resiliente”, alheio ao rigor da definição em física, entendo: aquilo aguenta porrada sem se mexer muito.
Com o PIB mundial rodando a 3,5%, e o nosso em 0%, bem abaixo até de nossos vizinhos latino-americanos, talvez não estejamos na melhor posição para uma afirmação dessas...
PS: a provocação hermana está, em parte, respondida.
Dura constatação (o que realmente importa)
Mas deixemos o rigor com o vernáculo de lado. Levy utilizou a expressão em contexto, de certa forma, para ponderar que teremos sim impactos de curto e médio prazo bastante sérios, que podem (em minha opinião, devem) levar a economia brasileira para a contração (em minha opinião, recessão).
A questão não é essa, mas o fato de sermos, sim, uma economia baseada em commodities, de moeda exótica, e portanto extremamente vulnerável às flutuações internacionais:
1) Se as coisas não estiverem lá tão ajustadas internamente, mas a economia global der uma guinada, podemos surfar essa onda e prosperar, como fizemos em diversas ocasiões ao longo de nossa história recente.
2) Da mesma forma, se o Brasil estiver bem internamente ainda não é garantia de que nossa economia prosperará, caso enfrentemos um colapso em nível global.
Agora, para o caso de economia interna desajustada e colapso global, deixo o leitor tirar as suas próprias conclusões...
O retrato atual dos mercados
Aonde quero chegar com isso?
Se os mercados ainda servirem de algum lastro para o que acontece na economia real, diria, do contrário, que ele (mundo) está de vento em popa...
Temos abaixo o retrato atual de Bolsas nos EUA (vermelho), Europa (verde) e China (laranja) em patamares recordes:
Isso, curiosamente, diante de sérios questionamentos quanto à desaceleração chinesa, com Europa estagnada e EUA no pós-crise, tendo de lidar com a ressaca após os programas de estímulo e recondução do balanço do Federal Reserve aos padrões de normalidade.
O que esses mercados têm em comum?
Mais uma vez: a farra do dinheiro farto e barato, diante de juros zerados, crédito fácil e injeções gigantescas de liquidez.
O sprint da Bolsa chinesa, como exemplo mais recente, é enfático: os empréstimos via conta-margem de corretoras saltaram de 400 bilhões de yuans em junho do ano passado para 1,1 trilhão de yuans na metade de janeiro.
Ou seja: 1,1 trilhão de yuans foram emprestado para investidores que não possuíam dinheiro em conta na corretora para operarem...
Aonde vai parar?
Toda a farra traz prazer pontual, mas tem o seu custo à posteriori. Nunca acaba bem.
Já recorri aos mais variados tipos de Engov, e, infelizmente, ainda não conheci porre sem ressaca.