O mercado de câmbio já havia precificado na formação da taxa cambial a previsibilidade de rolagem total da posição de US$ 10,11 Bi de “swaps cambiais” vincenda em 2 de janeiro, por isso o anúncio do BC em 8 do corrente confirmando o fato e de que ontem anunciaria os detalhes para efetivação da oferta hoje, não impactou na formação do preço da moeda americana ontem.
Desta forma, o preço da moeda americana prosseguiu em sua tendência de alta, neste momento oriunda do mercado à vista, ou seja, por demanda de dólar efetivo para pagamentos, que é acentuadamente maior do que a demanda por “swaps cambiais” para proteção de compromissos em moedas estrangeiras expostos.
O BC de fato anunciou ao final do expediente de ontem que ofertará hoje para rolagem 20.000 contratos, algo perto de US$ 1,0 Bi. O mês tem ainda 12 dias uteis em SP e se seguir esta dinâmica o processo de rolagem poderá ir até o dia 27 deste mês. Dado o volume representar em torno de 200.000 contratos é possível que aumente o valor diário dos lotes para rolagem.
O mercado tem como liquido e certo que a rolagem será total.
A opção pela oferta da rolagem no esquema “pinga gotas” cria sempre um “stress” no comportamento do mercado e contribui para a ocorrência de volatilidade.
Porém, se o BC não realizar a rolagem do todo, seguramente impulsionará ainda mais a tendência de alta, visto que descasará compromissos que estão protegidos e que voltarão ao mercado futuro demandando nova cobertura, impulsionando a alta em compartilhamento com o mercado à vista, o que há tornará mais intensa.
Tudo nos leva a crer que seja bastante provável que o BC tenha que aumentar a sua oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira aos bancos, pois com o viés de incremento da demanda no mercado à vista pela intensificação de saída de recursos do país, precisará dar suporte para lastrear o consequente aumento das “posições vendidas” dos bancos, que são as pontas da triangulação de recursos que deságua a liquidez no mercado à vista, evitando desta forma o que seria normal, o BC vender dólares à vista diretamente ao mercado.
Por enquanto, a autoridade vem se valendo desta estratégia de emprestar linhas aos bancos para que possam gerar liquidez, mas não é improvável que venha a ser colocado num “corner” que não deixe alternativa que não seja realizar leilão de venda de dólares à vista diretamente ao mercado.
O Brasil está convivendo com um momento no mercado de câmbio em que fica bastante claro que se intensifica a demanda por moeda efetiva, que tem poder liberatório efetivo para pagamento de compromissos. Isto nada tem a ver com “swaps cambiais” que são instrumentos financeiros que protegem preço e são liquidáveis no mercado da BM&F por diferença entre variação cambial e variação de juros, por diferença em reais.
O país tem as reservas cambiais como “escudo” a esta situação de insuficiência de fluxos de recursos externos para financiamento do déficit em transações correntes, mas tem também a inconveniência, o constrangimento em utilizá-las por expor de forma objetiva a fragilidade atual de sua atratividade perante os investidores internacionais, uma reversão brusca conceitual perante a comunidade internacional que até a bem pouco tempo enaltecia o país. O uso das reservas cambiais para suprir liquidez de forma direta pode ser estimulante a um ataque especulativo sobre o real.
O quadro brasileiro é bastante complexo e revela-se muito vulnerável com risco de maior intensificação de saídas de recursos estrangeiros, que para cá migraram desde o inicio da crise de 2008/2009, como consequência da alteração para pior de fundamentos relevantes como politica fiscal e crescimento, quando no mesmo período outros países, também emergentes, se revelaram melhor organizados e com fundamentos econômicos sólidos.
A percepção desta piora que ocorreu de forma gradual, mas fortemente observada no mês de setembro com o déficit fiscal e maior observância da carência de fluxos de recursos para o país, tem levado os investidores à antecipação de retirada de recursos do país antes mesmo de o FED americano anunciar a redução do seu programa de incentivo monetário. Assim, a perspectiva presente é que o volume de saídas de recursos deve intensificar-se ainda mais quando o FED a declarar efetiva.
No nosso entendimento há vários fatores negativos internos preponderantes e o externo representado pelo FED e sua decisão sobre seu programa de incentivo influenciando o mercado de câmbio e a sua formação de taxa, que acreditamos terá volatilidade, mas manterá o viés de alta.
O BC, como já salientamos, precisará aumentar a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira aos bancos para garantir liquidez no mercado de câmbio à vista, permitindo-lhes aumentar as “posições vendidas” ancoradas nestas linhas. Ao mesmo tempo, precisaria definir de forma mais rápida a rolagem total da posição de “swaps cambiais” de US$ 10,11 Bi vincenda em 2 de dezembro de 2013, evitando o “stress” do mercado.
Será importante observar e considerar a manifestação da Vice Presidente do FED americano, Janet Yellen, indicada pelo Presidente Barack Obama para suceder Ben Bernanke na Presidência do FED, que ocorrerá na próxima 5ª feira e poderá dar indicativos acerca do inicio da redução do programa de incentivo monetário.
Como temos dito, o que está ruim no mercado de câmbio tende a ficar pior, e todos sabem o “por quê”.