Liquidação ou Correção de Mercado? Seja como for, aqui está o que fazer em seguidaVejas ações caras

A Solução para o Setor e para o Brasil

Publicado 05.05.2014, 10:47

Sim, o mercado futuro de açúcar em NY está aberto, caso você não tenha notado. No entanto, estamos numa daquelas fases pelas quais já atravessamos no passado em que absolutamente nada acontece. O volume de negócios em NY tem sido muito baixo e grande parte das negociações do mercado futuro envolvem spreads. Para se ter uma ideia, o volume médio diário negociado nos últimos cinco pregões foi de pouco mais de 100.000 lotes, um terço abaixo da média do ano. A entrega de açúcar contra o vencimento maio/2014 que expirou dia 30 de abril, foi também um não-evento, com o Centro-Sul liderando o volume de entrega de pouco mais de 600 mil toneladas.

A semana fechou com o vencimento julho/2014 cravando 17.45 centavos de dólar por libra-peso, uma queda de 40 pontos em relação à sexta-feira anterior. Os demais meses também fecharam com queda entre 27 e 58 pontos na semana, representando uma depreciação de 6 a 11 dólares por tonelada. A demanda continua na mesma. Parece que o mercado está em compasso de espera para ver como a safra se comporta, se haverá problemas climáticos, se a Dilma cai nas pesquisas, etc.

Com o início da safra no Centro-Sul e a necessidade premente das usinas fazerem dinheiro para pagar a folha de pagamento e os gastos de plantio, a maneira mais rápida de transformar produto em dinheiro é vendendo etanol hidratado. Assim, vimos uma queda acentuada do produto nesta semana de mais de 10%. Por outro lado, o volume de exportação de açúcar em abril deve ter sido bem abaixo do esperado e um dos mais baixos volumes no passado recente. O vencimento julho/2014 agora corrige a entrega de maio negocia em patamares inferiores de preço. O mercado precisa de notícias alvissareiras para se recuperar.

Os números recém divulgados pela Agência Nacional do Petróleo mostram que o consumo de combustível no Brasil nos últimos 12 meses (de abril de 2013 até março de 2014) foi de 53.36 bilhões de litros, um crescimento espantoso de 8.13% em bases anuais. O consumo de gasolina A (pura, antes da mistura com o anidro) foi de 31.78 bilhões de litros, apenas 0.17% de aumento em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, quem sustentou essa alta de consumo, cujo incremento corresponde a exatos 4 bilhões de litros foi o hidratado com 1.52 bilhão de litros (crescimento de 15.69%) e o anidro, com 2.44 bilhão de litros (30% a mais). No mix geral, hoje o etanol responde por 40.4% de todo o combustível consumido no ciclo Otto, o maior percentual desde dezembro de 2011. Ainda inferior, no entanto, aos 54.5% alcançados em dezembro de 2009.

Se o setor tiver que suprir a cada novo ano mais 4 bilhões de etanol para atender ao apetite do mercado interno, isso significa que precisamos crescer em cana, a cada ano, pelo menos 45 milhões de toneladas. Se hoje a capacidade instalada do Centro-Sul é de 620-640 milhões de toneladas, quanto precisaremos de investimentos para atender a essa demanda nos próximos quatro anos? Para ser bem conservador, 20 bilhões de dólares. Quem vai investir?

No descalabro sem fim que parece ser esse governo, cada dia nos surpreendemos com mais tolices fresquinhas vindas de Brasília. Custo a crer que as palavras proferidas pelo ministro Mantega saiam de sua boca sem passar antes pelo cérebro. Segundo o ministro, “o setor tem que aumentar a produtividade, para poder sair da crise”. E a maior pérola é quando afirma que “não pode aumentar o preço da gasolina só para viabilizar o setor que “já tem financiamentos privilegiados, a custos reduzidos". No país do PT, o principal exercício é o da distorção da verdade, exercida com obstinação por esse pessoal que está aí.

Primeiramente, quais são esses financiamentos privilegiados dos quais fala o ministro? De acordo com vários empresários do setor, a realidade é que a menos que a usina esteja adimplente com todas suas obrigações fiscais e tributárias, o financiamento federal é quase um sonho. Segundo, as estimativas de instituições sérias como o Itaú BBA, amplamente divulgadas pela imprensa, dão conta de que o setor tem um endividamento de R$ 99 por tonelada de cana moída (R$ 12 dos quais com o BNDES). Multiplique-se isso pela estimativa de 585 milhões de toneladas de cana para o Centro-Sul essa safra de 2014/2015, e chegamos à quantia de quase R$ 58 bilhões de dívida. Terceiro, o ministro falta com a verdade quando afirma que não pode aumentar a gasolina para viabilizar o setor. Conversa fiada, o setor não consegue se viabilizar exatamente porque o preço da gasolina é controlado pelo governo federal, distanciando-o do preço praticado no mercado internacional, fazendo com que a Petrobras tenh a prejuízos constantes importando um produto por um preço maior do que aquele oferecido na bomba. E por último, mas não menos importante, com o fechamento dos preços da semana, a estimativa da Archer é que em média as usinas obtém hoje um ganho de pouco mais de 3 dólares por tonelada por cana moída, muito pouco se compararmos o endividamento e o serviço da dívida.

O preço da gasolina na bomba, para equilibrar com o valor do petróleo WTI, teria que ser de 3.1574 reais por litro. Como a média de preço da gasolina tem estado em R$ 2.8800 na bomba, por um simples exercício de substituição no modelo, chegamos ao preço máximo que a Petrobrás poderia pagar para o petróleo WTI: US$ 83.45 por barril. Logo, de maneira simples, conclui-se que a Petrobrás perde 16 dólares por barril que importa.

Comentei outro dia que a solução para o setor seria a saída do PT do governo. Precisamos de renovação, de pessoas menos preocupadas com a perpetuidade no poder, de pessoas com um mínimo de decência e respeito ao país, com pessoas que não tratem com a maior desfaçatez as instituições democráticas. Fui corrigido por um ouvinte que disse que a saída do PT não é uma solução para o setor, mas para o Brasil.


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