Publicado originalmente em inglês em 19/03/2021
Quem aposta na queda do barril de petróleo americano acredita que ele atingirá o nível de US$ 50 em breve, com o britânico Brent perdendo US$ 60 e ampliando a liquidação desta semana.
Eu acredito que a direção única do petróleo nos últimos quatro meses e meio já chegou ao fim. A cotação do óleo bruto não continuará em ascensão indefinidamente, mas deve começar a oscilar bastante daqui para frente.
Em minha visão, o mais impressionante no rali de quase 90% no petróleo desde o fim de outubro até antes da sua queda de 7% na quinta-feira foi o fato de essa alta praticamente não registrar correções.
Geralmente, as razões para um mercado subir são tão boas quanto os argumentos para sua queda.
No caso do petróleo, a eficácia de 95% da vacina da Pfizer contra a Covid-19, revelada na última semana de novembro, definitivamente foi o divisor de águas para mercados de risco mergulhados em incerteza.
O barril de WTI negociado em Nova York, naquele momento, havia subido lentamente para US$ 38 desde a cotação histórica de US$ -40 em abril, até disparar em janeiro com os inesperados cortes de produção da Opep+, responsáveis por fazer os preços ultrapassar US$ 50 pela primeira vez em quase em um ano.
Desde então, o mercado praticamente só subiu, liderado pelo ministro do petróleo da Arábia Saudita, que defendeu que somente os cortes de produção eram suficientes para os preços subirem cada vez mais.
Em seguida, bancos de investimento entraram em cena, reforçando o coro de que o barril de Brent poderia atingir 60, 70, 80 e até mesmo 100 dólares. Suas análises defendendo essa posição foram amplamente divulgadas na mídia e contribuíram para o petróleo alcançar os dois primeiros alvos em apenas dois meses.
Mas a questão mais difícil, que poucos estavam se fazendo, era se havia demanda adequada para dar suporte a preços duas vezes maiores no petróleo em menos de cinco meses, com vendas de combustível de aviação e outros meios de transporte continuando fracas por causa da pandemia que afetou as viagens internacionais.
Para estragar o otimismo dos investidores, dados começaram a mostrar que os estoques de petróleo nos países mais desenvolvidos já estavam perto das suas tendências sazonais de cinco anos e melhorarão com mais cortes de produção, independente da demanda.
Quem ousava questionar esse cenário era silenciado pela promessa das reaberturas econômicas e avanço da vacinação contra a Covid-19. Estes últimos dois fatores se tornaram mais suspeitos quando a Europa foi acometida por novos casos do vírus em meio a uma imunização em ritmo lento.
Como diz o ditado: “Quando não chove, o céu desaba”. As dúvidas não respondidas sobre a demanda, persistentes desde o início do ano, acabaram formando uma tempestade perfeita de negatividade na quinta-feira. Para piorar a situação havia ainda as preocupações com a inflação, que fizeram os rendimentos dos treasuries de 10 anos alcançar as máximas de 13 meses a 1,7% e o dólar disparar, tornando comparativamente mais caras as commodities precificadas na moeda americana, inclusive o petróleo.
Como o WTI e o Brent não conseguissem encontrar um piso na madrugada desta sexta-feira, o que estava evidente era o fato de haver tanto argumentos contra como a favor de ambos.
Quem compartilha dessa visão é Jeff Halley, analista da Ásia-Pacífico da corretora nova-iorquina OANDA, que escreveu em nota o seguinte:
“Agora que houve a seleção do rebanho, os argumentos altistas no petróleo voltarão à tona, e não acredito que os preços permanecerão em baixa por muito tempo".
Mas Halley também deixou claro que a falha em manter suportes técnicos importantes “pode acabar acionando mais ordens stop-loss e acelerar a queda”.
Eu elaborei uma lista com diversas variáveis e aspectos técnicos para você formar sua própria visão sobre a direção do petróleo.
Aspectos positivos
1. Ministro do petróleo da Arábia Saudita e cortes da Opep+
A aliança Opep+, formada pelos 13 membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e 10 aliados externos liderados pela Rússia, está evitando colocar no mercado pelo menos 7 milhões de barris por dia (mbpd).
Os cortes do cartel têm sido o principal vetor dos preços do petróleo desde as mínimas da pandemia.
Mas o ministro do petróleo saudita, Abdulaziz bin Salman, também está começando a pedir mais cautela, evitando elevar a produção em abril ao manter em vigor o corte voluntário de 1 mbpd do reino, que deveria se aplicar apenas aos meses de fevereiro e março.
É possível que a mente engenhosa de AbS, como o ministro é conhecido, esteja planejando fazer o mesmo em maio após a liquidação desta semana. Sempre se diz que, quando uma coisa é boa, é impossível não querer mais, e foi isso no que se tornaram os cortes de produção para AbS e a Opep+. Sua decisão de manter os cortes em abril acabou enfurecendo a Índia (leia mais abaixo nos pontos negativos).
Até agora, o ministro saudita teve a sorte de contar com o respaldo unânime no âmbito da aliança. Mas qualquer quebra de convicção pode provocar uma reviravolta no mercado. Para dar um exemplo: a peleja entre russos e sauditas em março de 2020 sobre os níveis de produção, ocasionando uma guerra de preços responsável por fazer o WTI entrar em terreno negativo e o quase colapso da Opep.
2. Vacinações
Os Estados Unidos atingirão nesta sexta-feira a marca de 100 milhões de doses aplicadas contra a Covid-19. Esse feito será alcançado com apenas 58 dias de mandato do presidente Joseph Biden, quando a previsão era atingir esse feito ao longo dos 100 primeiros dias.
Os principais estados da União Europeia devem retomar a vacinação com o imunizante da Oxford-AstraZeneca, após o órgão regulador de medicamentos do continente concluir que a vacina é “segura e eficiente”. Alemanha, França, Itália e Espanha disseram que vão voltar a usar as doses.
A resistência desses países era um dos fatores responsáveis pela derrocada do petróleo na quinta-feira. Mas cabe a cada um dos países da UE decidir se e quando retomarão as campanhas de vacinação com o imunizante da AstraZeneca. A Suécia declarou que precisará de alguns dias para decidir.
3. Compras nas correções
Uma característica inerente aos mercados de alta são as compras em correções significativas, em busca de barganhas. A queda de 7% na quinta-feira, tanto no WTI quanto no Brent, pode ensejar essa estratégia nos níveis de suporte determinados por aspectos técnicos.
Pontos negativos
1. Índia pretende substituir 25% do petróleo saudita
A Índia, terceiro maior importador de petróleo atrás da China e dos Estados Unidos, reduzirá suas compras da Arábia Saudita em cerca de um quarto a partir de maio após Riad se recusar a deixar a Opep+ elevar a oferta.
Nova Déli precisa de mais petróleo e de preços mais baixos para reduzir os preços nas bombas do país, que dispararam depois dos cortes de quase um ano feitos pela Opep+. O Irã já está se esquivando das sanções dos EUA às suas exportações petrolífera para a China graças a preços bastante descontados, minando os cortes da Opep+, sem falar que a república islâmica pode fechar um acordo com a Índia.
Como sugeri anteriormente, os cortes da Opep+ podem ser tanto uma benção como uma desgraça para o petróleo. A posição da Índia parece indicar o último cenário. Já estão surgindo rumores de que, ao não aumentar a oferta para Nova Déli, a Arábia Saudita esteja pressionando os indianos a adquirir ainda mais petróleo dos Estados Unidos, que já são o segundo maior fornecedor do subcontinente.
A estratégia saudita apresenta dois problemas: o risco de perder o mercado indicado para os EUA e a alta demanda indiana, que pode fazer os EUA aumentarem ainda mais a produção, o que a Opep+ não quer. A Índia também pode comprar do Irã, o que pioraria o cenário tanto para os sauditas quanto para o cartel.
2. Terceira onda de Covid-19 na Europa
Os casos de Covid-19 na Alemanha, país mais populoso da UE, saltaram mais de 17.000 na quarta-feira, a maior alta diária desde 22 de janeiro, segundo dados do Instituto Robert Koch de Doenças Infecciosas. Ao mesmo tempo, a Itália decretou lockdown em grandes porções do seu território.
A disparada de casos na Europa e o aumento das restrições mostram que a terceira onda de Covid-19 está recrudescendo por causa do lento programa de imunização.
3. Temporada de manutenção das refinarias nos EUA
O início da primavera e outono são tradicionalmente períodos de manutenção das refinarias nos EUA, com os operadores mudando sua infraestrutura para atender a demanda do verão e produzir mais óleo de calefação e misturas de gasolina de inverno. Também é necessário fazer revisões regularmente para garantir a segurança.
“A questão é ver quanto cairá a taxa de operação das refinarias”. Evidentemente, o impacto resultante é o volume de acúmulo dos estoques petrolíferos.
Até a semana passada, a taxa de utilização das refinarias era de 76,1%, uma alta em relação à mínima recorde de 56% após a nevasca que atingiu o Texas em meados de fevereiro. Os estoques de petróleo subiram em quase 39 milhões de barris nas últimas quatro semanas, novamente por causa da tempestade no Texas.
4. Irã e Líbia – as zebras
Desde que Biden assumiu o governo, não param de sair notícias de que o Irã está desrespeitando as sanções impostas por Trump e remetendo seu petróleo para compradores seletos, um processo que não só ajuda a melhorar seus cofres como também mina os cortes de produção da Opep+.
Nesta semana, uma reportagem da Bloomberg revelou que a China estava comprando quase 1 mbpd do petróleo sob sanção, além de condensados e óleo combustível da nação do Golfo Pérsico.
Isso se dá em substituição a frações preferidas de países como Noruega, Angola e Brasil, segundo operadores, o que está deixando o mercado à vista menos movimentando.
O governo Biden afirma que fará um acordo nuclear com o Irã para retirar as sanções se Teerã desmantelar seu enriquecimento de urânio, enquanto os persas defendem a remoção das sanções antes de qualquer tratativa. É lógico assumir que o acordo será selado em algum momento.
Mas tudo indica que o governo Biden não penalizará agressivamente o Irã por suas vendas de petróleo, em prejuízo à Opep+, principalmente se Teerã aumentar em mais 1 mbpd sua oferta.
No caso da Líbia, o país agora tem um governo unificado pela primeira vez em mais de uma década de guerra civil. Suas extrações também são de 1,3 mbpd, com planos de aumentá-la para 2,1 mbpd em quatro anos. A Líbia estava isenta de cumprir as cotas de produção da Opep durante os distúrbios políticos vividos no país. Agora, pode acabar minando os esforços de controle de preços do cartel.
Aspectos técnicos
Gráficos: cortesia de SK Dixit Charting
O WTI perdeu o suporte crítico do meio da Banda de Bollinger a 63.15 na quinta-feira e caiu forte até 58.20, mas fechando acima da MME de 50 dias a 58.70. Qualquer pullback contratendência pode resultar e altas/retrações de curto prazo até a MMS de 20 dias a 63.15 e 63.75, o ponto de rompimento.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para oferecer aos leitores uma variedade de análises sobre os mercados. A bem da neutralidade, ele apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.