Acabou a aquarela?
Depois do dia rosado de ontem, mercados voltaram a ponderar riscos políticos e buscar alocações mais seguras.
O reflexo, do lado de cá, é pouca coisa abaixo da marca d’água, com hegemonia de nomes locais na ponta positiva. Commodities predominantemente no vermelho.
Juros em queda moderada ao longo de toda a curva, refletindo surpresa positiva no IPCA, logo abaixo.
Turn down for what?
Grande destaque local hoje é o IPCA de janeiro. Não só abaixo do esperado, como o menor para um mês de janeiro desde a criação do Real. Tá bom ou quer mais?
Vai aumentar a gritaria por aceleração da queda da Selic. Vão se multiplicar os valentes apostando que a inflação do ano ficará aquém dos 4,5 da meta. Mais gente falará grosso sobre a possibilidade de a meta de inflação ser reduzida.
Calma. Devagar com o andor.
(E pensar que até bem pouco tempo atrás Selic de um dígito em 2017 era call agressivo …)
Sinais de cansaço
Em dia fraco de indicadores econômicos, a propensão é sugerir que mercado americano reage com mau humor a resultados corporativos fracos. Números ruins do setor financeiro corroboram, em tese, a narrativa.
Na prática? Aquele súbito otimismo de ontem, vindo sei lá de onde, voltou a dar lugar a certo desconforto com a falta de detalhes concretos acerca dos próximos passos de Trump.
Fosse tão somente balanços ruins a motivação, não se justificaria busca por ativos de menor risco: treasuries, ouro et caterva: discurso seria de que é hora de olhar para a frente.
A mim parece que são sinais de cansaço o que vemos por lá, pura e simplesmente. Observemos.
Pense bem
Le Pen eleva o tom, delineando planos para trazer o Franco de volta caso vença as eleições.
Inflação da região avança. Juros seguem artificialmente baixos e Banco Central Europeu já detém mais de 10 por cento de todo o estoque de títulos da região.
Em resposta, Draghi reafirma a necessidade de manutenção dos estímulos monetários na zona do euro. Acena até mesmo com a possibilidade de expandir o programa em prazo e/ou magnitude se necessário.
(Não me conformo. Chego a cogitar, às vezes, a existência aqui de uma agenda oculta para gestar a próxima crise)
FMI volta a elevar o tom com Grécia, e alerta que o país caminha para um novodefault em junho.
Você já comprou os seus seguros hoje? T em certeza de que já fez tudo que podia pelo seu patrimônio?
Pense bem, pois um dia vamos nos encontrar. E eu gostaria muito de chamá-lo de meu filho.
Fazendo o diabo
Reservas chinesas em moeda estrangeira seguem em franca queda, atingindo 3 trilhões de dólares — menor nível desde 2011.
É reflexo direto da queda-de-braço entre o Banco Popular da China e o mercado em torno do nível do renminbi. Situação forçou nova desvalorização da moeda, de 0,4 por cento — não se engane: para o regime chinês de câmbio fixo, isso é uma enormidade.
A briga ocorre concomitantemente com a intensificação de esforços para promover a “desinflação ordenada” de bolhas por lá. No mais recente capítulo, iniciaram a elevação de juros interbancários, que norteiam operações de crédito de curto prazo.
Não vai parar por aí. E acrescento: tudo ocorre em meio a ano de reordenamento de forças no seio do Partido Comunista. À sua maneira, Xi Jinping e equipe têm todos os incentivos do mundo para fazer o diabo para conservar o poder.
Soa familiar?
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