Alvaro Bandeira é economista chefe e sócio do Banco Digital Modalmais
Começamos a nova semana com os mercados de risco estressados ao máximo e novamente com quedas aceleradas. Tudo por conta, claro, da expansão do coronavírus pelo mundo que exigiu de países e cidades a decretação de situação emergencial, mas, sobretudo, em função da decisão coordenada de diferentes bancos centrais e atuar sobre a política monetária.
Durante o final de semana (15/3), novamente liderado pelo FED, vários bancos centrais anunciaram medidas. O FED levou a taxa de juros para zero, reduzindo em 1% e para o intervalo entre zero e 0,25%, e adotando novas posturas anunciou US$ 700 bilhões em compras de ativo (US$ 200 bilhões no segmento de hipotecas) e reduziu reservas necessárias para os bancos.
FED está se aproximando de situação idêntica ao feito em 2008 por ocasião do evento conhecido como subprime, quando foi dado um “cheque em branco”, porém, lá o FED partia de um balanço de US$1 trilhão e foi até US$ 5 trilhões. Depois começou a reduzir o tamanho de seu balanço, e a ideia era voltar até algo próximo de US$ 2,5 trilhões ou US$ 3 trilhões. Agora tudo deve mudar e teremos nova expansão para livrar a economia americana de possível severa recessão no segundo trimestre do ano.
Já o BOJ (BC japonês) dobrou a compra de ETFs de 6 trilhões de ienes para 12 trilhões, ele que já trabalha com taxa negativa de juros de 0,10%. O BCE já tinha ampliado na semana passada a compra de TRTLOs adicional de 120 bilhões de euros, sendo seguido por outros bancos centrais como Bundesbank, BC do Canadá, Suíça Noruega, etc. No total computamos nove bancos centrais poderosos atuando no sentido de garantir liquidez para seus sistemas financeiros e tornar o câmbio mais equilibrado.
O PBOC também anunciou a injeção de 200 bilhões de yuanes em empréstimos de médio prazo e a Coreia do Sul reduziu juros. Os países da zona do euro estudam medidas de política fiscal, enquanto a Itália já anunciou recursos para diferentes setores. Há enorme preocupação com as empresas aéreas que podem começar a quebrar em sequência, com os cancelamentos de voos e restrições de mobilidade local e internacional.
Além disso, o setor de serviços também preocupa, com o fechamento do comércio e países.
Os esforços coordenados não param por aí. O grupo do G-7, as maiores economias do mundo, segue querendo implementar medidas fiscais de apoio e pediram o concurso de recursos de organismos multilaterais como FMI e Banco Mundial, que passaram a anunciar recursos da ordem de US$ 1 trilhão.
Aqui, aparentemente o governo acordou, e ainda que o Bacen possa esperar até a reunião ordinária do Copom no dia 18/3, as projeções indicam redução da taxa Selic em pelo menos 0,50 pontos. Mas em compensação, o CMN (Conselho Monetário Nacional) aprovou facilidades para renegociação de crédito de empresas e famílias, colocando como “qualificáveis” recursos da ordem de 3,2 trilhões. Já a expansão da capacidade de utilização do capital dos bancos permite uma folga de algo como R$ 566 bilhões que pode ser utilizado para acelerar o crédito.
Em termos escritos, com esse comentário aguardávamos o resultado de reunião da equipe econômica, que tinha deixado claro que baixaria medidas temporárias para ajudar empresas de pequeno e médio porte, principalmente relacionados ao setor de serviços, sempre os que mais necessitam de crédito.
Apesar de tudo que está sendo feito para minimizar o impacto do coronavírus, os mercados não reagem e aceleram a destruição de valor dos ativos em velocidade até mais forte que em outros episódios e com duração ainda mais longa. Basta ver que por aqui já entramos no quinto evento de circuit breaker, mesma quantidade quando da crise da Rússia em setembro de 1998, ou mesmo na crise global de setembro/outubro de 2008, no subprime.
Agora é torcer para a curva de contágio do coronavírus comece logo a desacelerar e infletir e que as economias possam se recuperar em modelo de “V” e haja tempo para recuperar parte das perdas ao longo do segundo semestre.