Açúcar: Entre versões e fatos

Publicado 05.05.2025, 09:15

Em mais uma semana encurtada por feriado, o mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira com o vencimento julho/25 cotado a 17.27 centavos de dólar por libra-peso, após ter quebrado os 17.00 centavos durante a sessão, amargando um prejuízo de 91 pontos na semana, equivalentes a 20 dólares por tonelada. Os demais vencimentos que vão de outubro/25 até março/28 encerraram a semana em território negativo entre 30 e 84 pontos de queda (entre 7 e 18 dólares por tonelada). Como manda o figurino, as perdas foram maiores nos contratos mais curtos e suavizadas nos mais longos — o velho "quanto mais longe, menos pânico".

Os fatos, muitas vezes, não têm tanta importância quanto as versões. Em determinados momentos, a narrativa construída em torno das versões pode induzir o mercado a comportamentos erráticos, desconectados da lógica e alheios aos fundamentos. Veja que interessante: a UNICA divulgou os números da moagem da primeira quinzena de abril e, à primeira vista, os dados surpreenderam positivamente. O volume moído foi 3% superior ao do mesmo período do ano passado, o ATR médio veio consideravelmente acima das expectativas e o mix de produção de açúcar também superou o percentual registrado no ano anterior. Esperando números bem piores, o mercado reagiu de forma negativa. Com base exclusivamente nesses dados da UNICA, é razoável afirmar que o mercado exagerou na reação.

Vale lembrar que, historicamente, a primeira quinzena de abril representa, em média, apenas 2% do total de cana moída ao longo da safra, considerando os últimos cinco anos. Projetar o comportamento da safra inteira com base nesses 2% iniciais é como julgar um livro inteiro pela contracapa.

No entanto, em um ambiente de escassez de notícias concretas, o mercado muitas vezes se agarra a qualquer narrativa que justifique movimentos de curto prazo — ainda que frágeis do ponto de vista estrutural. E, nesse contexto, os fundos encontraram terreno fértil para ampliar suas posições vendidas, ainda que apenas 1,735 lotes fossem adicionados à posição atual, elevando-a a 46,495 lotes (2.36 milhões de toneladas de açúcar equivalente), de acordo com os números do COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado hoje pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição de terça-feira passada. Nada revolucionário, mas suficiente para empurrar o mercado um pouco mais para baixo.

Outro fator que pode ter reforçado a narrativa vigente no mercado é a entrega física volumosa de açúcar no vencimento do contrato de maio, ocorrido na quarta-feira, que totalizou cerca 1.5 milhão de toneladas. Como ocorre com frequência, esse volume indica que, naquele momento, entregar na bolsa se apresentava como a melhor alternativa — reflexo direto de uma demanda física enfraquecida. No entanto, como os livros de posições dos participantes não são públicos, é impossível afirmar com precisão os reais motivos por trás dessa entrega. Pode ter sido uma estratégia de rolagem, compensação ou simplesmente uma acomodação logística. Por exemplo, um player que já havia recebido açúcar anteriormente pode ter voltado a receber agora para encerrar compromissos pendentes.

O fato é que, ao conversar com diversas usinas, o sentimento predominante é de preocupação com a produtividade. Há relatos consistentes de queda significativa na tonelada de cana por hectare e no rendimento de ATR. Por isso, a leitura mais cautelosa e fundamentada ainda parece ser a mais prudente.

A baixa de 16.97 centavos de dólar por libra-peso ocorrida no pregão desta sexta-feira já é a mínima de quase 4 anos. Naquele 15 de julho de 2021, o dólar negociava a R$ 5.1118.

Se por um lado temos os fundos posicionados firmemente na venda a descoberto, a demanda fraca no mercado físico, a incerteza provocada pelo cenário macro (também conhecido como Donald Trump) e os números da UNICA bem melhores do que esperado, fatores que contribuem para um mercado baixista e anêmico; do outro lado, os preços deprimidos do açúcar começam a tornar o etanol uma alternativa mais atraente — especialmente com o desconto atual de apenas 250 pontos frente a NY. Dependendo da logística, do fluxo de caixa e dos incentivos fiscais locais, algumas usinas podem reconsiderar a velocidade da mudança no mix pró-açúcar.

Como já dissemos antes (e provavelmente diremos de novo): ainda é muito cedo. Mas é difícil imaginar o mercado sustentando cotações abaixo de 17 centavos por muito tempo. A média dos contratos das safras 26/27 e 27/28 encerrou a 17,02 centavos. Esse patamar pode ser uma excelente oportunidade para consumidores industriais fixarem compras — ou, ao menos, venderem opções de venda “no dinheiro” com preço de exercício em 17 centavos, coletando cerca de 114 pontos de prêmio. Se forem exercidos, estarão comprados a 15,86 centavos — um nível que só vimos na pandemia da Covid-19. Se isso não é um bom negócio, é pelo menos uma boa história para contar.

Há rumores de que algumas usinas estão recomprando seus hedges — o que, sejamos francos, não combina com quem se diz comprometido com uma política de risco séria. Uma alternativa mais sensata seria comprar calls fora-do-dinheiro no nível em que foi feita a fixação. Hedgear não é desfazer: é proteger.

Falando em fixação, nossa primeira estimativa sobre o volume de açúcar já fixado pelas usinas brasileiras para exportação na safra 2026/2027 (a safra do ano que vem) publicado na semana passada, dava conta que até o dia 31 de março de 2025, era de 5 milhões de toneladas, com preço médio de R$ 2.429,63 por tonelada, já incluindo o prêmio de polarização. Tomando como referência uma estimativa de 36 milhões de toneladas de exportação total para aquele período, o volume representa aproximadamente 13,89% do total previsto.

Análise Técnica – por Marcelo: Com a entrega mencionada acima o mercado sentiu o peso da pressão vendedora. O vencimento, julho/25, chegou a negociar na mínima de 16.97 centavos, exatamente no suporte inferior da banda de Bollinger dos 50 dias. Caso esse suporte seja rompido, o próximo objetivo técnico passa a ser a mínima do ano (para o contrato): 16,43 centavos de dólar por libra-peso, registrada em 17 de janeiro de 2025. As resistências mais próximas estão localizadas em 17.64/18.12 e 18.43 centavos de dólar por libra-peso. Por fim, o spread V5/H6 voltou a se alargar, encerrando a semana em 39 pontos.

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