É normal haver ajustes no preço da moeda após movimentos expressivos na taxa de câmbio. Chamo a atenção para a agenda da semana, que prevê divulgação de dados de inflação dos Estados Unidos e a publicação da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed). Há entre os investidores a percepção de que os cortes desse estímulo pelo banco central dos EUA precederão aumentos de juros na maior economia do mundo. Caso o Fed. acelere o ritmo de redução de suas compras de títulos e eleve os custos dos empréstimos mais cedo do que o esperado, o dólar pode ser impulsionado globalmente. Até a ala mais moderada do BC americano já começa a se engajar ao discurso dos falcões, para pedir que o Fed corra para não ficar atrás da curva.
Já na cena local o foco do mercado continuava sobre a PEC dos Precatórios, uma vez que a proposta pode ter definição nesta semana após votação no Senado. Esta prevista a votação na CCJ do Senado para amanhã, porém o texto continua indefinido. Todo o esforço está sendo feito para garantir a promulgação da parte que autoriza os recursos para o Auxilio Brasil e outras despesas sociais, de modo a abrir espaço para o pagamento do benefício ainda em dezembro. Com a proposta da PEC, a perspectiva é de que o déficit primário no ano que vem seja de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 0,5% num cenário sem a PEC.
As expectativas de inflação para este e próximos anos continuam se deteriorando, com as projeções apontando continuação do IPCA acima do centro da meta de inflação entre 2022 e 2024. Para 2021, as estimativas ultrapassaram os 10% pela primeira vez, bem acima, inclusive, do limite superior à meta de inflação para este ano. Aliás, o destaque da agenda da semana por aqui será o IPCA-15. Hoje sairá o IPC-S.
Para o câmbio interessam os dados das transações correntes e IDP em outubro, que serão divulgados na 5ª feira.
Vemos pelo Boletim Focus divulgado ontem que a continuação do pessimismo ocorre na semana que um dado importante de inflação será divulgado: o IPCA-15 de novembro, considerado a prévia da inflação. Os economistas voltaram a rebaixar as estimativas para a alta do PIB no fim do ano, com avanço projetado de 4,88% para 4,8%, enquanto há quatro semanas estava em 4,97%. Foi a sexta queda de projeções para o PIB deste ano.
Já a projeção da taxa Selic se manteve em 9,25% no fim deste ano, enquanto há quatro semanas estava em 8,25%. Os economistas mantêm a projeção de alta de 1,5 ponto percentual na taxa Selic na última reunião do ano em dezembro. Em relação ao dólar, as apostas se mantiveram em R$ 5,50 para 2021, enquanto há quatro semanas a estimativa estava em R$ 5,45. Com o DI precificando dose de 1,75 pp da Selic em dezembro e o BC falando abertamente do risco da inflação estourar a meta em 2022, vimos que o boletim Focus marcou uma nova deterioração das expectativas inflacionárias.
O presidente dos EUA Joe Biden nomeou o atual chairman do Fed Jerome Powell a frente do Fed para um segundo mandato de quatro anos. Lael Brainard será vice-chair. Após este anúncio DXY subiu. Agora devemos olhar para o risco de shutdown nos EUA, inclusive a secretária do tesouro, Janet Yellen voltou a cobrar o Congresso americano a tomar uma ação no que diz respeito ao teto da dívida pública, que expira em dezembro.
Amanha atenção na ata do Fomc, e por aqui fluxo cambial estrangeiro.