A crise vem de dentro
Durante diversos M5M anteriores desqualificamos o argumento de que a crise brasileira era mero reflexo do cenário internacional.
Abordamos um a um a perda de credibilidade, o enfraquecimento das instituições e as mazelas do “novo tripé econômico”, com políticas de estímulo à demanda, quando o problema é de oferta (produtividade).
E como essa combinação de fatores culminou no cenário atual de inflação acima do teto da meta, crescimento zero, maiores juros reais do mundo e rombo nas contas públicas, mesmo com os vizinhos do Brasil na América Latina e nossos principais parceiros comerciais, como EUA (PIB crescendo 4%) e China (PIB crescendo 7%), crescendo muito acima da gente.
Agora, imagine os mesmos problemas internos submersos em um mundo em forte crise...
A crise começa a vir de fora
Pode parar de imaginar. Abra os olhos, voltamos para o mundo real.
Pé no chão, estamos diante de uma combinação de eventos externos traumáticos e de enormes proporções que, juntos, podem desencadear uma nova desordem global:
(a) China em desaceleração e com claros desequilíbrios de crédito; (b) Commodities derretendo e nova realidade do petróleo’ (c) A nova crise da Rússia - produtores de commodities vulneráveis indo para o buraco; (d) A conta dos resgates de 2008 - um problema sério de balanço do Federal Reserve
Geralmente há um descolamento entre os elementos de preocupação externa. Um (positivo) compensando o outro (negativo)...
Não parece o caso.
Crise do Petróleo... Crise Russa... sequela do Subprime...
Iremos homenagear três grandes crashs mundiais em uma cerimônia só?
A nova crise russa
Tal como a economia brasileira, a russa é baseada na exportação de commodities e tem o petróleo e o gás natural como carros-chefe, respondendo por mais de dois terços das exportações do país.
Na mínima em cinco anos, o petróleo certamente é um barreira e tanto para o prognóstico de crescimento local.
Some a isso um componente inflacionário, promovido pela escassez de oferta de produtos no mercado interno, desencadeando uma crise cambial severa.
Produtora vulnerável, a Rússia consegue concentrar hoje um dos principais impactos da crise do petróleo. Com sua verve neoimperialista, sofre os reflexos das sanções econômicas por conta do conflito com a Ucrânia.
Hoje, o Banco Mundial cortou sua previsão de crescimento para a Rússia, prevendo retração de 0,7% da economia local em 2015.
Os mercados já incorporam a bomba-relógio russa sobre os preços. Mais de 50 títulos corporativos do país pagam pelo menos 10 pontos percentuais a mais do que os títulos do Tesouro americano para atrair investidores.
A moeda russa (rublo) já perdeu cerca de 40% do valor em relação ao dólar desde o início do ano com as sanções e a crise do petróleo.
As medidas iniciais se concentram em aumentar o controle de capitais e intervenções diárias no mercado de câmbio.
Lembra do LTCM?
Quem se deu pior?
Pressão do petróleo, crise cambial, aumento das intervenções... Dejá vù?
Termino com a minha homenagem aos dois grandes crashs brasileiros. Antes eles do que o crash triplo gringo...
Quem se deu pior?
a) O investidor que comprou as ações da Petrobras quando Dilma afirmou que “quem investir na Petrobras vai ganhar muito dinheiro”, no debate de 19 de outubro?
ou,
b) O investidor que apostou contra o dólar, seguindo o conselho do ministro Mantega, de que “quem apostar na alta do dólar vai quebrar a cara” ?
Que faaaase.
R: por enquanto a alternativa (a) está “ganhando”. A presidente recomendou as ações da Petrobras acima de R$ 19, queda de mais de 40% em menos de dois meses.