O divisor de águas
Os mercados têm mais um pregão de alívio, com o dólar perto da estabilidade e a Bolsa se aproximando do patamar de 58 mil pontos, algo que não vemos desde a metade do ano passado. Hoje o mundo ajuda, com novas evidências de resfriamento das tensões na Rússia, mas, pelo menos nos mercados, não podemos atribuir a nossa performance a elementos externos.
Nota-se um descasamento entre o comportamento da Bolsa brasileira e dos principais índices de ações do mundo, representados no gráfico pelo Stoxx 50 (Europa) e o S&P 500 (EUA). Até o divisor de águas de 14 de março, enquanto o mundo subia a nossa tendência era fortemente declinante.
A data marcou a divulgação da pesquisa CNI/Ibope, a primeira a apontar forte piora na avaliação do governo. De lá para cá tivemos muitas pesquisas eleitorais, um rali de estatais e alta acumulada de 28% para o índice de ações brasileiro.
Inflação zerada
A boa notícia desta terça-feira na esfera econômica diz respeito ao recuo da inflação: o IGP-M registrou deflação de 0,35% na segunda prévia de agosto. A queda nos índices era esperada, não somente pela estagnação da economia, mas pelo componente sazonal. Aqui cabe esclarecimento: a inflação não está em zero, como afirmou a presidente Dilma ontem ao Jornal Nacional.
No contexto, a medição da inflação (e a meta) é anual. Como se eu dissesse que a Selic está em 0,041% (e não em 11%) porque, de ontem para hoje, a taxa over (diária) foi 0,041063%. Mas o esclarecimento mais importante diz respeito às flutuações sazonais e sua relação com o regime de metas. A meta de inflação é de 4,5% (e não de 6,5%). Em tese você tem uma banda para cima para baixo para abarcar choques exógenos; e não um teto da meta que você persegue e comemora quando flutuações sazonais colocam dentro da banda, que por sinal é bem generosa.
Adiando o repasse também para o BB
Recentemente abordamos aqui no M5M o “grande truque” das contas públicas. Ou, como a União vem sangrando a Caixa para poupar o Tesouro Nacional e conseguir pagar benefícios sociais. O tema posteriormente ganhou destaque na Folha de S. Paulo: “a Caixa Econômica Federal está travando uma disputa com o Tesouro Nacional porque está pagando benefícios sociais do governo, como o seguro-desemprego e o Bolsa Família, mas só recebe os repasses correspondentes com muitos meses de atraso.”
Hoje, matéria de capa do jornal Valor Econômico mostra como o governo tem feito o mesmo com o Banco do Brasil e o crédito agrícola.
Neste ponto, a questão não chega mais a ser o cumprimento ou não da meta de superávit primário, mas sim a credibilidade do dado.
O superávit primário que seria, grosso modo, a “economia do governo”, ou quanto sobrou para o governo depois de pagar as suas contas, acabou tornando-se um resultado inflado por uma série de artifícios de contabilidade criativa ou itens não-recorrentes estratégicamente posicionados.
O(s) grande(s) truque(s)
Dentre esses artifícios de contabilidade criativa e/ou itens não-recorrentes estrategicamente posicionados, temos, entre outros:
+ atraso de repasses para CEF
+ atraso nos repasses para BB
+ leilão de linhas 4G
+ aumento dos dividendos distribuídos pelas estatais, em meio à tomada de dívida pelas mesmas
+ reabertura do Refis
+ leilão de excedente de produção futura do pré-sal com pagamento antecipado pela Petrobras, sem licitação
Sem contar artifícios sobre outras contas, como empurrão à balança comercial através da transferência de plataformas de petróleo para Petrobras brasileira para subsidiárias da Petrobras no exterior, sem que elas tenham se movido uma palha do lugar...
Em nosso evento de ontem, tanto Eduardo Giannetti quanto Mansueto Almeida frisaram que há espaço para ajuste nas contas públicas. Mas ambos mostraram-se receosos quanto ao real tamanho do ajuste. Antes, é preciso conhecer de fato a realidade das contas.
“Falta confiança”
O Índice de Confiança do Empresário Industrial marcou 46,5 pontos em agosto, ainda bastante aquém do nível mínimo satisfatório de 50 pontos e da média histórica de 57,4 pontos do indicador. O indicador subiu 0,1 p.p. sobre julho, o que seria uma boa notícia, não fosse a queda de expressiva de 6 p.p. em relação ao mesmo período do ano passado, que mostra o tamanho do atraso.
Na semana passada, Benjamin Steinbruch, da CSN e presidente interino da Fiesp, disse que “hoje em dia só louco investe no Brasil”.
Alguém vai pagar a conta
Temos algumas curiosidades interessantes na economia brasileira atual. Queixamos de ter o maior juro real do mundo, e atualmente um juro médio para o consumidor da ordem de 43% ao ano (maior dos últimos 2 anos).
Por outro lado, temos uma TJLP abaixo da inflação e taxas bem mais baixas para alguns setores beneficiados, como exemplo juro BNDES de 6% ao ano para caminhoneiros ou transportadoras dentro do Finame, dentre outros.
Quando você cria um privilegiado, automaticamente cria um desprivilegiado. Seja agora ou depois, alguém vai sempre ter de pagar a conta.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.