Hoje vivemos em um mundo tecnológico. Para comprar uma simples cerveja, basta entrar num aplicativo e, em poucos minutos, a bebida está em casa. É possível andar de carro sem dirigir — já existem veículos autônomos. Estamos, de fato, na era da tecnologia.
E, conforme o senso comum empresarial, a tecnologia diminui os preços. Essa afirmação é parcialmente correta: a tecnologia reduz o custo de produção, mas isso não significa que haverá repasse desse recuo ao consumidor final.
No modelo econômico padrão: se a oferta aumenta (graças à tecnologia) e a demanda se mantém constante, os preços devem cair. Porém, na prática, quanto maior a tecnologia, maior o preço.
Isso acontece por uma série de fatores:
Concentração de mercado. Empresas com acesso à alta tecnologia geralmente são monopolistas ou fazem parte de um oligopólio. Sendo assim, poderiam reduzir seus preços, mas não o fazem. Por quê?
A resposta está no comportamento do consumidor. Essas empresas sabem que existe mercado para seus produtos — mesmo que os preços sejam inacessíveis para a maior parte da população. A parcela que consegue pagar é suficiente para mantê-las lucrativas.
O leitor pode questionar: e os serviços gratuitos como e-mail e redes sociais? Aqui vale lembrar a célebre frase do escritor de ficção científica Robert Heinlein, em seu romance Revolta na Lua (1966), popularizada pelo economista Milton Friedman:
“Não existe almoço grátis.”
O serviço é “gratuito” porque o usuário é parte do produto. Ou seja, o pagamento é feito com o tempo e os dados que ele fornece ao usar a rede.
Mas também existem fatores externos ao mundo corporativo, como a política monetária e fiscal de cada país.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Minutos de Valor, em fevereiro de 2025, eram necessários US$ 27.283 para comprar um Toyota Corolla no Brasil, enquanto nos Estados Unidos o mesmo carro custava US$ 22.325.
No caso brasileiro, vale lembrar a teoria clássica de David Ricardo, segundo a qual os salários reais tendem ao mínimo de subsistência no longo prazo. Por aqui, além dos salários historicamente baixos, ainda enfrentamos taxas de juros elevadas, alta carga tributária e inflação persistente. Desde sua implantação em 1994, o real perdeu 87% do seu valor — ou seja, hoje R$ 100 compram o equivalente a R$ 13 de 1994.
Antigamente, o que ditava o status eram roupas de grife. Hoje, produtos com alta tecnologia são os novos artigos de luxo — a roupa pouco importa.
É nesse cenário que a tecnologia deixa de ser um fator deflacionário e passa a atuar como instrumento de diferenciação social e econômica.
Além disso, essa dinâmica tem implicações diretas para os mercados financeiros: empresas com forte domínio tecnológico tendem a manter margens altas, mesmo com custos menores — o que sustenta valuations elevados no médio prazo.