O dia promete ser novamente de expectativa nos mercados domésticos, com o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a cassação da chapa eleita em 2014 podendo se estender até amanhã. O clima nos negócios locais deve seguir tenso, pois os investidores sabem que o desfecho na Corte não resolve a crise política, adiando a pauta de reformas no Congresso para o segundo semestre.
A previsão de um placar apertado no TSE, mas favorável ao presidente Michel Temer, que conquistaria quatro do total de sete votos, tende a manter o imbróglio em Brasília. Ainda que haja uma derrota dele, a adoção de recursos no Supremo Tribunal Federal (STF) prolongaria o impasse antes de culminar na perda efetiva do mandato.
A tentativa do presidente de garantir sobrevivência no cargo e evitar seu afastamento tende a impactar a votação das reformas trabalhista e previdenciária. Temer ainda confia no apoio da base aliada e pretende mobilizar para seguir no comando, deixando a agenda no Congresso em "banho-maria".
Mas há outras preocupações no horizonte. Entre os riscos, está o desembarque do PSDB do governo, o que será decidido em reunião da bancada do partido na próxima segunda-feira, abrindo espaço para a saída de outras legendas; ou mesmo a apresentação formal de denúncia contra Temer pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao STF.
Na avaliação do Palácio do Planalto, um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) ou a perda do maior aliado prolonga a instabilidade política, ameaçando a aprovação da pauta reformista. Além disso, alguma notícia de última hora, proveniente de Rodrigo Rocha Loures, “o homem da mala”, também pode vir à tona, sepultando de vez o governo.
Por ora, essas todas essas possibilidades tornam o desfecho da crise política imprevisível e reforçam a dificuldade para avançar com as reformas trabalhista e da Previdência no Congresso. Em todas as opções, a resistência de Temer em seguir no cargo, garantindo o foro privilegiado, mantém a incerteza elevada.
Para a consultoria política Eurasia, se o TSE absolver Temer, o presidente terá vencido uma batalha, mas não a guerra, voltando ao dia a dia da política mais enfraquecido e vulnerável ao um ciclo de investigação e de noticiário pesados. O presidente não será a “Fênix saindo das cinzas” e tampouco se fortalecerá a ponto de resgatar o apoio que tinha antes da crise.
Por isso, o mercado doméstico ainda espera uma solução rápida, capaz de dar sequência à política econômica. É bom lembrar que a aparente indiferença dos investidores em relação à permanência (ou não) do presidente no cargo se dá porque “o mercado não tem amor por Temer e sim pelas reformas”.
Percepção semelhante pode se aferir em relação à reação do ambiente externo sobre a questão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. É algo do tipo, com ou sem, está tudo bem, contanto que avance as agendas - pró-reformas, no caso brasileiro, e pró-crescimento, no caso norte-americano. Porém, as surpresas com o cenário político continuam grandes e não podem ser ignoradas, seja aqui, seja lá fora.
Até no Reino Unido, onde o Partido Conservador saiu vitorioso nas eleições, o resultado apertado não garante o cargo da primeira-ministra, Theresa May. Ao contrário, a perda de 12 assentos coloca em xeque a força política dela para avançar nas negociações de retirada da ilha britânica da União Europeia (UE), já que o Partido Trabalhador conquistou 31 lugares e será preciso o rival formar aliança para seguir no páreo.
Em reação ao pleito, a libra esterlina é negociada no valor mais baixo desde outubro, o que impulsiona a Bolsa de Londres ao maior nível desde abril. Os ativos britânicos ainda assimilam o rumo a ser tomado para o chamado Brexit, que não deve mais ser tão duro quanto se esperava.
As demais praças europeias também estão no azul, amparadas pelos ganhos dos índices em Nova York. Esse comportamento realça que na medida em que os investidores reduzem o voto no Reino Unido a uma dificuldade local, sem grandes proporções globais, eles também não ficam perturbados com o depoimento do ex-diretor do FBI James Comey.
Mas, parafraseando a célebre frase de James Carville durante a campanha presidencial de Bill Clinton contra Bush filho, é a política que deve ditar o ritmo dos mercados globais nesta sexta-feira, injetando uma dose extra de cautela nos negócios. Com isso, a agenda econômica segue em segundo plano.
Ainda mais diante do calendário esvaziado no exterior, que traz apenas a divulgação dos estoques no atacado em abril (11h). O indicador mais esperado do dia foi conhecido ontem à noite, com a China anunciando uma desaceleração da inflação no atacado, em um movimento alinhado à perda de tração no rali de preços das commodities.
O índice de preços ao produtor (PPI) cresceu 5,5% em maio em relação a um ano antes, menos que a previsão de +5,6% e perdendo força na comparação com a alta de 6,4% em abril. No varejo, a inflação ao consumidor chinês (CPI) acelerou para 1,5% no mês passado, em base anual, frente a um avanço de 1,2% no mês anterior.
No Brasil, o destaque do dia também fica com a inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA), às 9h. A previsão é de que o índice interrompa três meses consecutivos de desaceleração e avance 0,45% em maio. Ainda assim, se confirmado, será o menor resultado para o mês desde 2013, quando o IPCA subiu 0,37%.
Já a taxa acumulada nos 12 meses encerrados em maio seguiria no nível mais baixo em 10 anos, com alta de 3,8% no período. Antes, tem a primeira prévia de junho do IGP-M (8h). Também são esperados dados regionais de inflação ao consumidor e da indústria.