Chefe é que nem nuvem
O trânsito no Itaim foi extraordinariamente bom nesta semana. Boa parte dos financistas, suspeito, já deixou as gravatas de lado e partiu para uma breve pausa. Minha tese é reforçada pelo semblante predominantemente tranquilo dos analistas júniores que circulam pela região: muito embora tenham ficado incumbidos de fazer o plantão de final de ano (vai que o mundo vira do avesso, não é mesmo?), se valem da máxima que afirma que chefe é que nem nuvem — quando desaparece, o dia fica lindo.
Em clima de cumprimento de tabela, dia é de volumes e noticiário fracos por aqui. Nossa bolsa opera em alta moderada, com foco predominante em nomes domésticos.
Mercado de juros é plácido, com mínimas oscilações após bom desempenho dos últimos dias.
Não precisava se incomodar
No noticiário externo, destacam-se os acordos firmados entre uma leva de bancos e as autoridades americanas para por fim aos litígios relacionados às barbaridades que cometeram lá atrás, durante o boom do subprime.
O destaque cabe, evidentemente, ao Deutsche Bank. A instituição concordou em colocar uma pedra sobre o assunto mediante desembolsos da ordem de 7,2 bilhões de dólares. O valor supera as estimativas mais recentes mas, à primeira vista, exime o banco de promover uma recapitalização. Ainda bem.
Na Itália, o Monte dei Paschi sinaliza que, “por precaução”, lançará mão do socorro estatal desenhado pelo governo italiano. Precaução, é claro: a banca age, aqui, igualzinho àquele familiar que fará cara de surpresa ao receber seu presente no domingo. “Não precisava se incomodar!”
Hora da cartinha
Para os gestores de recursos, se aproxima a hora de fechar a cota do ano — o número em função do qual, a despeito de quanto suor e lágrimas despenderam neste 2016 de altos e baixos, serão julgados pela maioria.
Acho injusto, mas é do jogo. Os barões do eixo Itaim-Leblon escolhem cuidadosamente as palavras que usarão em suas cartinhas — não ao bom velhinho, mas aos clientes que lhes confiaram patrimônio.
Não resisto ao clichê: então é Natal, e o que você fez?
Quem apostou nas teses vencedoras, não tem do que reclamar: resta se preparar para o anúncio das boas novas com a consciência tranquila de bons meninos que farão jus a boas recompensas sob a árvore.
Entre os que erraram a mão, despontam dois comportamentos distintos. Uns simplesmente preparam o necessário mea culpa e depositam as esperanças em dias melhores. Outros reagem a incentivos assimétricos que os empurram na direção de riscos adicionais para melhorar a foto.
Diante da perspectiva de encontrar um pedaço de carvão dentro da meia, não custa arriscar. Vai que o jogo vira, não é mesmo?
Fica o alerta: não se deixe enganar pelas “puxetas de final de ano” na bolsa.
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O presente de Ilan
Haveremos de, lá na frente, olhar para trás e lembrar das palavras de Ilan Goldfajn. Discussões sobre o ritmo da queda da Selic à parte, o fato é que a ancoragem das nossas expectativas de inflação é um presente de valor inestimável.
Há um ano, ninguém se dispunha a incorporar às suas premissas de longo prazo uma inflação de 4,5 por cento. O esforço em quantificar os impactos dos descalabros de nossa política monetária durante nossa noite mais escura era vão. É inegável o progresso conquistado nesse front.
A reconquista da autoridade monetária passa por consistência na sinalização. Questionado se o corte de 25 pontos da última reunião foi demasiadamente conservador, o presidente do BC foi taxativo em reiterar o ponto de vista do comitê.
A mesma consistência há de se demonstrar na mudança do ritmo: a tese de que Copom poderia ir a 75 para “compensar” a decisão anterior para, em seguida, seguir com cortes de 50 não encontra suporte algum nem no histórico do comitê, nem no discurso de Goldfajn.
No mercado, aposta predominante é de chegamos ao final de 2017 com Selic a 10,5 por cento. Grosso modo, 6 por cento de juro real. Qualquer percepção adicional de melhora de fundamento de longo prazo abre espaço para ir um pouco além.