Aprecie com moderação
Mercados têm dia de moderação mundo afora. No Velho Continente, principais Bolsas já fechadas por conta dos novos horários de negociação: dia foi de alta, com destaque para empresas de energia e mineração, beneficiadas respectivamente pelos preços de petróleo e de minério, que interromperam sequências de baixas.
Do lado de cá do Atlântico, Nova York tem dia de alta amena: incertezas trazidas pelo revés sofrido por Trump no Congresso são deixadas em segundo plano diante de bons dados de confiança do consumidor.
Aqui, nossa Bolsa tem alta moderada com mescla de nomes locais e exportadoras. Dólar opera em leve alta; juros, idem.
Nem tudo são rosas, mas…
Não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe. Se é verdade na vida, mais verdadeiro ainda é no mercado financeiro, onde tudo acontece tão rápido.
O mau humor provocado pela rejeição das propostas de Trump para o sistema de saúde, na última sexta, deram hoje espaço a otimismo moderado em função de bons dados de confiança do consumidor. A leitura é de que, a despeito de qualquer coisa, são positivas as condições correntes da economia americana.
De fato, país opera virtualmente no pleno-emprego e caminha para razoável crescimento econômico. Desafios se concentram no front fiscal, sobre o qual sempre dá para deixar para pensar um pouquinho depois.
Ou quase sempre.
Peças de ficção
Por aqui, atenções se concentram principalmente no Relatório Trimestral de Inflação, que conhecermos na quinta-feira. Expectativa é de que dados consolidem de uma vez por todas a aposta de corte de 100 pontos na Selic na próxima reunião. Espaço para mais à frente? Achamos que não.
Seguem recebendo pouca atenção as tratativas em torno da Reforma da Previdência e demais pautas caras à equipe econômica. Me incomoda a tranquilidade com que o mercado vem tratando a situação, a despeito do recrudescimento do cenário político nos últimos dias.
Equipe econômica tem até quinta para apresentar relatório atualizado de despesas e receitas, e há relutância no anúncio de aumentos de impostos. Alternativa seria aumentar contingenciamentos… em qualquer cenário, maior desafio é fazer-se crível no orçamento: já tivemos, no passado, verdadeiras peças de ficção… e deu no que deu.
Transatlântico versus Jet Ski
A indústria de fundos de investimento tem uma peculiaridade: mais dia, menos dia, os bons fundos fecham. Não me refiro a encerrar atividades — embora, em alguns casos, de fato o gestor opte por devolver o dinheiro dos cotistas e cuidar exclusivamente do próprio capilé. Me refiro ao fechamento à captação de novos recursos.
O senso comum sugere que, à medida que o gestor é remunerado por taxas que incidem sobre o patrimônio do fundo, quanto mais dinheiro melhor. Na prática não é bem assim. Isso porque, quanto maior o fundo, mais difícil fica implementar estratégias de investimento em função da liquidez do mercado. Um jet ski manobra melhor do que um transatlântico.
Vários dos melhores fundos de investimento do mercado brasileiro estão fechados para captação há um bom tempo — alguns, aliás, provavelmente jamais voltarão a abrir. Outros seguiram o mesmo caminho recentemente. A lição que tiramos daqui é que, se você quer confiar parte do seu patrimônio aos melhores gestores de recursos do país, não deve contar com essa possibilidade por tempo indeterminado.
A bem da verdade, um dos fundos favoritos da Luciana fechará em pouquíssimos dias e esta pode ser a última oportunidade de embarcar nele.
Trégua no minério?
As últimas semanas têm sido difíceis para mineradoras, em função das sistemáticas quedas do preço do minério de ferro na China. Preços no porto de Qingdao, que servem de principal referência ao mercado, acumulam retração de quase 14 por cento desde a máxima de 94,86 dólares atingida em 21 de fevereiro.
A China responde por dois terços da demanda do mercado transoceânico de minério de ferro e por, grosso modo, metade da produção mundial de aço. Ritmo intenso de compras nos últimos meses levaram estoques nos portos do país ao maior nível de todos os tempos, na expectativa de forte retomada da atividade econômica.
Sinais do próprio governo chinês de que crescimento à frente deve ser menor parecem ter reduzido o ímpeto de compradores, abrindo espaço para que preços voltassem a ceder.
Se caminhamos para, enfim, a normalização de preços, só o tempo dirá. Até lá, sigo cauteloso com o setor.