Quão graves são as nossas mazelas?
Freud dizia que a saúde psíquica, em sua essência, deriva da capacidade funcional de dois verbos ontológicos: amar e trabalhar.
Em tese, se temos inúmeros defeitos, se fumamos, bebemos, se temos uma queda por fungos fantásticos, mas somos honestamente capazes de amar e trabalhar, passamos no grande teste da vida.
O princípio freudiano aqui é: não carecemos da perfeição para triunfar. Precisamos ser bem menos do que perfeitos.
Ufa!
Podemos colecionar neuroses, investir nas dicas financeiras do Willian Bigode e, ainda assim, encontrar prosperidade, desde que sejamos hábeis na arte de focar nas poucas coisas que realmente importam, e jamais abrir mão delas.
Se a responsabilidade social é amar e o equilíbrio fiscal é trabalhar, acho que temos uma chance.
Aliás, não sou só eu que acho. Senhor Mercado também acha, embora não queira tratar do assunto publicamente, ao menos não por enquanto.
Agora, se você for com o Sr. Mercado para um bar a meia luz na Mooca, sob distância segura da Faria Lima, ele vai pedir maria mole e admitir que gosta do Haddad; não está tão desesperado assim.
Até me surpreendi com essa postura eclética do Sr. Mercado, e então ele me deu uma aula de saúde psíquica:
Tá surpreso por quê, vacilão? Você não enxerga um palmo à sua frente?
Se eu estivesse puto da vida ou surtado, você acha que o dólar estaria passeando sóbrio entre R$ 5,05 e R$ 5,50 desde as eleições?
Depois da quinta maria mole, eu não conseguia mais fazer conta, mas ele me garantiu que "essa é uma banda irrisória de 10%, e, by the way, caso você não tenha reparado, estamos agora perto do piso da banda".
Não tinha reparado mesmo.
Também não reparei quando ele pediu para ir ao banheiro, foi fumar outro cigarro, e de repente não estava mais lá. Fiquei sozinho pra pagar a conta, sempre acontece quando eu saio com ele.
Fazer o quê? Já tinha dado a minha hora. Esposa e filhos me esperavam em casa, o escritório acorda cedo a cada dia seguinte.