IPCA-15 tem em agosto primeira queda em 2 anos por Bônus de Itaipu e alimentos
É famoso um meme da ex-presidente Dilma Rousseff sobre as metas que não existem, mas que seriam dobradas. Muitos não se lembram - ou nem tem idade para lembrar - mas como a história no mercado financeiro sempre se repete, dez anos depois é hora de renovar a expressão - não como tragédia nem como farsa, mas com humor.
Tudo isso porque o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, decidiu abandonar a média flexível de meta de inflação. Apenas cinco anos após criar esse modelo, ele afirmou, durante discurso no simpósio em Jackson Hole, que o Fed voltará a perseguir a meta de inflação flexível - portanto, sem a “média”.
É o que explica o analista sênior para os Estados Unidos do Rabobank, Philip Marey. Segundo ele, ao que tudo indica, o modelo adotado durante a pandemia da covid-19 foi um fracasso. Afinal, o que se seguiu foi a maior alta dos preços no país desde a década de 1980. Na época, Powell insistia que se tratava de uma “inflação transitória”.
Moral da história: o retorno ao modelo mais antigo, que havia sido abandonado por causa do “novo normal” criado pelo novo coronavírus, foi o jeito encontrado pelo Fed para acatar as ordens do presidente Donald Trump. Em outras palavras, arrumou-se a desculpa que precisava para cortar a taxa de juros dos EUA em setembro.
O Comitê de Política Monetária (Copom) deve fazer algo parecido, em breve, para acolher uma queda na Selic - apesar de o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ter escrito uma carta há cerca de um mês ao ministro Fernando Haddad (Fazenda) por ter descumprido a meta central de inflação também pela nova regra - em vigor desde janeiro.
Assim, a estratégia orientadora nos mercados é a mentalidade de “voltar aos negócios como sempre”. Como se a necessidade de baixar os juros, tanto nos EUA quanto no Brasil, nada tivesse a ver com o fato de Trump taxar todo o mundo em 15%, na média. Afinal, é o dólar que precisa ficar mais fraco contra todas as demais moedas para equilibrar os "déficit gêmeos".
Mind the gap.
O que vem por aí
- PIB nos EUA; inflação lá e aqui
A economia dos EUA cresceu 3% no segundo trimestre de 2025, na taxa anualizada. A confirmação desse número, divulgado no final de julho, será na quinta-feira (28), quando sai a segunda leitura dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano.
No dia seguinte (29), sai o índice de preços de gastos com consumo (PCE), tido como a leitura de inflação preferida do Fed. Agora que Powell abandonou a “média de inflação” e voltou à “meta flexível” qualquer alta anual do dado cheio para além de 2,6% não deve incomodar.
Antes, na terça-feira (25), no Brasil, tem a prévia de agosto da inflação oficial ao consumidor brasileiro. Apesar da alta acumulada de 5,30% em 12 meses estar bem acima da “meta contínua” de inflação de 3%, os números do IPCA-15 devem calibrar as apostas quanto ao início do ciclo de cortes nos juros básicos.
- Bancos perdem quase R$ 50 bilhões em valor de mercado
Itaú Unibanco (BVMF:ITUB4), Bradesco (BVMF:BBDC4), Banco do Brasil (BVMF:BBAS3), Santander Brasil (BVMF:SANB11) e BTG Pactual (BVMF:BPAC11) perderam, juntos, R$ 46,3 bilhões em valor de mercado na semana passada, conforme a Elos Ayta Consultoria.
O movimento nas ações dos cinco maiores bancos brasileiros de capital aberto ocorreu após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino lembrar que cabe à Corte chancelar no Brasil os efeitos sobre cidadãos brasileiros, residentes em território nacional, de leis e decisões estrangeiras. Ou seja, a legislação de outros países está abaixo da Constituição Federal e não tem status supralegal.
Com isso, o sistema financeiro brasileiro sente o impacto da aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. Porém, como disse o economista André Perfeito, “se você acredita que Itaú, Bradesco, BTG etcetera e tal vão ser excluídos do sistema financeiro internacional, aí você tem outro dilema…”.