Quebrando a rotina
Não, não pense que a euforia dos mercados se dá por qualquer outro motivo... Os ativos domésticos seguem completamente reféns das nuances eleitorais.
Nesta segunda-feira, a disparada da Bolsa, o movimento da curva de juros e a valorização do real ante o dólar respondem à confirmação do apoio de Marina Silva e da família Campos à candidatura da oposição, além da indicação contundente da pesquisa Sensus (seja lá qual for a credibilidade dela).
A quebra de rotina se dá em outra esfera: após dezenove semanas seguidas de revisões para baixo, o mercado enfim aumentou a expectativa para a atividade econômica brasileira: de 0,24% para 0,28% de crescimento este ano.
Não deixa de ser uma grata surpresa, embora longe de algo a comemorar...
PS: em paralelo, o relatório Focus trouxe revisão para cima nas apostas para a inflação, agora em 6,45% para o final de 2014, ou seja, flertando com o teto da meta (que virou meta).
A carne está cara? Coma grãos!
Relatório divulgado na sexta-feira pelo USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) ampliou a pressão sobre os preços de soja e milho nos mercados internacionais, dado que elevou as estimativas para as produções e estoques finais das culturas no país e no mundo na safra 2014/15.
Diante da curva descendente das cotações desde dezembro do ano passado e das boas perspectivas de colheita também no Hemisfério Sul, é cada vez mais remota a possibilidade de uma recuperação expressiva das cotações dos grãos no ciclo atual, o que nos mantêm cautelosos quanto à performance de curto prazo das ações ligadas ao setor.
Por conta disso, quem deseja se expor ao carro-chefe do PIB brasileiro nos últimos trimestres deve fazê-lo via ações da BrasilAgro (AGRO3). A empresa tem boa parte das receitas proveniente dos negócios com terras e, com isso, um componente complementar de renda para enfrentar o cenário de preços mais baixos previsto para a safra.
Quem diria, ter uma veia “imobiliária” no momento pode ser vantagem...
Faltou combinar com o zagueiro
Quem também está com os preços em baixa é o petróleo. Para ser mais específico, o barril do petróleo Brent, referência da commodity em Londres, negocia próximo do menor patamar dos últimos quatro anos nesta segunda-feira.
Depois da Arábia Saudita cortar preços de fornecimento, o Irã vai vender uma carga para a Ásia com o maior desconto dos últimos seis anos, segundo informações da agência Bloomberg.
Neste caso as implicações por aqui são mais óbvias - embora de um paradoxo tremendo. Petróleo em baixa no mercado internacional é bom para a Petrobras, por em tese reduzir o prejuízo potencial de sua política de importação de combustíveis, dados os preços de venda (represados) no mercado interno...
Agora só falta combinar com o dólar, que apesar da queda mais recente, ainda está próximo dos R$ 2,40, e com todos os elementos (estruturais) a seu favor.
O fim do superciclo
Percebeu? Temos falado diariamente sobre um cenário de queda no preço dos grãos, do petróleo, do minério de ferro, o que remete a uma inversão de ciclo das commodities. Da demanda irrestrita na primeira década do século XXI, para a contestação das condições de demanda em meio a um cenário de crescimento da oferta e estoques em geral elevados.
Bom, exportamos commodities e sofremos nos últimos quatro anos o maior processo de desindustrialização da nossa história...
O que nos resta?
As duas regras de cabeceira
Prefira empresas anticíclicas às cíclicas. O tal “beta elevado”, ou risco alto com retorno potencial elevado paga muito bem quando o mercado vai bem, mas muito mal quando o mercado vai mal. Ou seja, quando as coisas estão ruins e você mais precisa do dinheiro, sua ação estará desvalorizada.
Assuma sua ignorância sobre as commodities. É muito difícil predizer o comportamento do mercado de matérias-primas, que envolve uma infinidade de variáveis e costuma responder sensivelmente a cada uma delas. A rigor, ninguém sabe em que ponto do ciclo estamos, ou seja, se vivemos um pico ou um fundo de preços. Qualquer afirmação de que o preço de uma ação de empresa de commodities está atrativo merece diligência adicional.
A Vale pode negociar a 5x lucros com o minério a US$ 110 por tonelada, mas perto de 10x lucros com o minério na casa de US$ 80. No caso, ela está atrativa em ambos os cenários. Mas é um caso...
Cara, cadê o meu upside?
Os acionistas da Usiminas vivem hoje um paradoxo interessante: torcem por um acirramento da disputa entre Nippon Steel e Techint, os dois principais acionistas, a fim de uma solução radical para a disputa, que envolva a compra de participação de um pelo outro (e o consequente disparo do tag along, cláusula de extensão da oferta para toda a base de acionistas). Isso, o acionista curtoprazista, é claro.
Como ambos têm o poder de veto, a coisa não anda na Usiminas com o Conselho rachado entre ítalo-argentinos x japoneses. Torcer por um acirramento da disputa, portanto, é o mesmo que torcer contra o avanço operacional da companhia.
No meio deste imbróglio, matéria do Valor Econômico desta segunda-feira indica que os rivais estão próximos de encontrar uma solução amigável: presidente neutro e seis diretores executivos, dois indicados pelos argentinos, dois pelos japoneses e dois brasileiros.
Positivo ou negativo?
Vai depender do tipo de acionista que você é.