A Gol (BVMF:GOLL4) precisará fazer muitas escalas antes de alçar voo rumo à recuperação. A companhia aérea registrou, no segundo trimestre de 2022, um prejuízo líquido de -2,85 bilhões de reais, revertendo lucro líquido de 642,9 milhões de reais apurado um ano antes.
Mesmo sendo beneficiada pela retomada da demanda doméstica e internacional e ter mais do que triplicado a receita no período, nada foi suficiente para impedir uma reversão do lucro.
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Fatores que impactaram na piora do prejuízo
Os fatores que contribuíram para as quedas expressivas nos resultados da Gol foram: (i) a alta global no preço dos combustíveis (no caso da aviação, é utilizado o querosene) e (ii) a variação cambial negativa em quase -4 bilhões de reais no trimestre.
Após anunciar o prejuízo bilionário, a Gol anunciou que pretende reduzir a oferta de voos e manter as tarifas altas até o final do ano para tentar conter as quedas em seus resultados — postergando, assim, uma retomada integral de suas operações para 2023.
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Além dos problemas relacionados ao preço do combustível e à variação cambial, a Gol também registrou aumento de +51 por cento em seu endividamento líquido, atingindo 23,8 bilhões de reais e com uma alavancagem (Dívida Líquida/Ebitda) elevada de 9,5x.
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Desafios para retomada das aéreas
A história mostra que os problemas enfrentados pelas companhias aéreas não são recentes e não são decorrentes somente da crise sanitária [que começou no primeiro trimestre de 2020].
Além da concorrência interna e externa, grande parte dos custos dessas empresas são dolarizados e, em cenários de alta nos preços de combustíveis, o lucro se torna cada vez mais difícil de ser alcançado.
Na nossa visão, para o setor aéreo brasileiro superar os desafios de curto prazo e se manter sustentável no longo prazo, empresas como a Gol e a Azul (BVMF:AZUL4) devem sempre focar em uma gestão eficiente em relação ao seu endividamento/alavancagem, sua posição de caixa e sua política de proteção cambial.
Conseguindo atravessar essas dificuldades e podendo se beneficiar de um melhor cenário macro futuramente, quem sabe, assim, os investidores voltem a olhar com mais atenção para essas companhias.
Vale a pena comprar ações da Gol agora?
Com uma desvalorização de -70 por cento desde as máximas de 2021, não temos recomendação no momento para o investimento.
A falta de visibilidade em GOLL4 para os próximos anos e o endividamento crescente não entregam a confiança necessária para tornar-se sócio da companhia.
Outro fator que traz grandes preocupações é o histórico do setor aéreo no Brasil, que expõe a dificuldade que as companhias aéreas têm de serem rentáveis e de conseguirem controlar as suas dívidas ao longo dos anos. Dois exemplos (de muitos): Varig e Avianca Brasil.
A primeira, fundada em 1927, por muitos anos foi a maior do setor no Brasil e começou a registrar prejuízos na década de 90. Com a entrada de outras companhias aéreas estrangeiras no país, o surgimento da própria Gol e o crescimento da TAM no mercado doméstico, a Varig entrou em recuperação judicial em 2005 e teve falência decretada em 2010.
Já a segunda, que chegou a ter mais de 10 por cento de participação no mercado aéreo brasileiro, acumulou dívidas bilionárias e deixou de pagar os contratos de arrendamento das aeronaves de sua frota. Com isso, a Avianca Brasil deixou de operar ainda em 2019 e decretou falência em 2020. Um ano depois, porém, a sua holding (a colombiana Avianca) anunciou a saída da recuperação judicial após longo acordo com seus credores.
Recentemente, a Gol se uniu à Avianca Colômbia para criar o Grupo Abra, visando retomar o desenvolvimento e crescimento de ambas as empresas por meio de uma gestão mais organizada e eficiente. O novo negócio buscará fazer do grupo o maior de transportes da América Latina.
Além disso, a própria Gol já havia recebido um aporte da American Airlines (NASDAQ:AAL) (BVMF:AALL34) (passou a deter 5 por cento de participação na empresa) no início do ano para acelerar uma possível recuperação no futuro.
Por fim, ainda vemos o setor aéreo fora do favor de muitos investidores. Preferimos exposição em outras empresas, com melhores perspectivas, e não embarcar nesses voos.