As Redes Sociais Vão Roubar o Seu Dinheiro – E Você Nem Vai Perceber

Publicado 28.06.2018, 12:56
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E aqueles que gostam de História talvez pudessem dizer que a Alemanha nunca ganhou nada na Rússia…

Nesta Copa, as zebras, aqueles eventos considerados raros e improváveis, têm acontecido a cada 15 minutos. Ou será que estou sob os efeitos do viés de confirmação, procurando nos resultados dos jogos uma dinâmica capaz de validar aquilo em que eu já acreditava previamente como teoria?

Não só acredito como vivo a filosofia antifrágil e a obsessão pelos cisnes negros – vira e mexe, tomo bronca das pessoas mais próximas: “lá vem você falar do Taleb…”. Elas estão certas, mas ainda não consegui desenvolver uma ferramenta para fugir de mim mesmo. Fui catequizado. Primeira Comunhão no São Luís, crisma no “Fooled by Randomness” e matrimônio no “Skin in the game”.

Seria ótimo e, por isso, sigo tentando. Por enquanto, sou um fracasso retumbante, que tem me subido à cabeça toda hora. As evidências insistem em me empurrar para aquilo em que já acreditava. Seria efeito dos algoritmos?

Esta é minha mais recente preocupação: com o desenvolvimento do machine learning e da inteligência artificial, estariam os algoritmos, tão presentes nas redes sociais, no Netflix, no Tinder, no Waze e por aí vai, reforçando a tendência a incorrermos nos problemas derivados do viés de confirmação?

Vamos do começo, das definições.

Viés de confirmação é a tendência de se lembrar, interpretar ou pesquisar informações de maneira a confirmar ou validar crenças, hipóteses e sentimentos iniciais. Seletivamente, você captura e interpreta dados e informações apenas para referendar um argumento que já possuía. Óbvio que a pessoa não percebe. Ela se acha totalmente imparcial, sendo incapaz de perceber a ambiguidade da coisa e focando apenas naquilo que lhe interessa.

Guarde isso. E agora pense em como as pessoas são expostas à informação hoje frente à prática de anos atrás – escrevi originalmente “como as pessoas procuram informação hoje”; troquei para a voz passiva de forma deliberada, justamente para transmitir a ideia de que muito da informação recebida chega até as pessoas sem uma ação deliberada, muitas vezes até sem perceber. Estamos sendo bombardeados neste momento sem que nos demos conta.

Antes, a forma natural de se informar estava nos veículos de mídia tradicional. Por maiores críticos que sejamos dos grandes jornais, sua obrigação com a isenção e imparcialidade força a presença de ideias contraditórias no jornal. Ali estão reunidos argumentos e contra-argumentos, de modo que o leitor acaba exposto naturalmente ao contraditório. Ele pode ao menos beliscar-se, sendo questionado por uma opinião diferente da sua. Estão os dois lados, tese e antítese; e ainda que ao leitor não seja apresentada diretamente a síntese, ele mesmo pode chegar à conclusão a partir das ponderações dos opostos. A caminhada dialética acontecia de forma normal.

A coisa mudou. Ninguém lê mais jornais. O sujeito se informa na rede social e em veículos de mídia nascente, muitos deles de nicho. E como acontece agora? As empresas de comunicação, munidas do interesse pelo clique e pelos pageviews para monetizar sua própria audiência, expõem aos usuários somente conteúdos sobre os quais já se demonstrou interesse prévio. O leitor não é mais exposto ao contraditório. Aliás, ao contrário. Ele só vê coisas sobre as quais já se interessava. Acaba achando que só existe aquilo. E assim vamos sendo empurrados cada vez mais na direção extrema das nossas próprias convicções.

A tese dialoga consigo mesma, e não com a antítese. É a visão inicial conversando com uma nova versão, idêntica ou mais extrema do que a anterior. Afastamo-nos da ponderação e vamos indo ao limite de uma concepção. Mitologicamente, assim como na abertura da caixa de Pandora, Sophrosyne, a deusa da moderação e do autocontrole, foge para o Olimpo e abandona em definitivo a raça humana, que parece condenada aos excessos da desmedida Afrodite.

Talvez isso ajude a explicar inclusive o esvaziamento do centro político-partidiário e a assunção de ideias extremistas por todo o mundo. O radicalismo ganha força quando não nos expomos ao diferente.

Mas o foco aqui é o efeito dessa dinâmica sobre o investidor. Sem contato com o contraditório, vendo diariamente as coisas em que nós já acreditamos, conversamos com a gente mesmo. Entramos numa paranoia interna, que vai reforçando e confirmando ideias que criamos sem necessariamente encontrarmos validação empírica.

Há resultados potenciais (e negativos) dessa exposição: sem questionar as próprias teses, o investidor pode tornar-se excessivamente confiante numa determinada posição. Como corolário, chegaríamos a carteiras muito concentradas e alavancadas. “Se tenho tanta certeza de que a ação ou o título X vai subir fortemente, vou comprar tudo o que posso disso; e ainda mais: tomo um dinheiro emprestado e compro alavancado!” Em época de bitcoin, está aí a anatomia perfeita de um desastre.

Ah, o Facebook acaba de liberar anúncios de criptomoedas novamente. Você acha mesmo que algum anunciante vai gastar sua verba de publicidade alertando o investidor sobre os riscos de determinada aplicação?

Resumo da ópera:

• Concentração e alavancagem são palavras proibidas;

• Duvide de você mesmo. Quando concluir sobre algo, duvide um pouco mais; e

• Se você também não gosta do centro e está contaminado sem perceber pela era dos extremos, ok, estou com você: esqueça os ativos de risco médio. Aloque muito dinheiro em pouquíssimo risco e pouco dinheiro em muitíssimo risco.

Em poucos minutos, poderemos checar se o centro ganhou algum espaço. Há duas pesquisas de intenção de voto para presidente esperadas para hoje: XP/Ipespe e Ibope.

Falando da agenda econômica estritamente, IGP-M de junho apontou inflação de 1,87%, um pouco acima das projeções. Destaque do dia para relatório trimestral de inflação do BC e entrevista de Ilan Goldfajn – pergunta rápida: só eu acho de um fragilismo atroz a frase “RTI vê chance de 13% de IPCA de 2020 ficar abaixo do piso da meta; anteriormente era 14%”? Você leva isso a sério? Contas do governo central fecham as referências do dia no Brasil.

Há ainda bastante expectativa em torno da atuação do Banco Central no dólar, após nova disparada do câmbio na véspera.

Lá fora, PIB dos EUA chama atenção, junto ao PCE trimestral. Esperam-se ainda índice de preços ao consumidor na Alemanha e produção industrial e desemprego no Japão.

Ainda digerindo preocupações com guerra comercial entre EUA e China, mercados brasileiros iniciam a quinta-feira perto da estabilidade. Ibovespa Futuro cai 0,1%, dólar sobe 0,15 e juros futuros recuam, após RTI ainda mostrar prognóstico benigno para a inflação, afastando um pouco a hipótese de alta da Selic no curto prazo.

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