Publicado originalmente em inglês em 18/01/2021
As autoridades do Federal Reserve enfrentaram dificuldades para assegurar aos investidores que o banco central seguiria a mesma trajetória e apoiaria os esforços do novo governo de ajudar na recuperação econômica diante da pandemia, antes da cerimônia de posse de Joseph Biden como presidente dos EUA, nesta quarta-feira.
“Precisamos ter cuidado para não sair muito cedo", declarou Jerome Powell, presidente do Fed, em um evento virtual da Universidade de Princeton, prometendo manter as compras de ativos.
“Aliás, é preciso evitar falar em saída se esse sinal estiver sendo emitido, pois os mercados estão ouvindo”.
Seus comentários pareciam ter a intenção de acalmar os investidores, depois que o chefe do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, sugeriu, na semana passada, que o Comitê Federal de Mercado Aberto estaria disposto a recalibrar seu programa de compras de ativos no fim deste ano.
Mas os dois não divergiram tanto assim. Powell também estava otimista com as projeções econômicas. No webcast de Princeton ele afirmou.
“Estamos em uma situação em que podemos voltar ao pico econômico anterior em breve e até ultrapassá-lo.”
Powell se pronunciou a favor do estímulo fiscal discutido no Congresso, inclusive os US$ 2,2 trilhões em março e os US$ 900 bilhões em dezembro.
O presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren, foi a primeira autoridade do Fed a comentar o novo pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão proposto por Biden, classificando-o como “apropriado” para enfrentar o menor crescimento esperado no primeiro semestre. Entre outros aspectos, o pacote prevê mais pagamentos em dinheiro e estende os benefícios de seguro-desemprego.
Ele disse a Steve Liesman em uma entrevista à CNBC:
“Trata-se de um pacote muito grande, mas acredito que, até que as pessoas sejam vacinadas e as empresas voltem a contratar, precisamos de uma política fiscal expansionista”.
Rosengren se mostrou mais a favor do rigor monetário, mas disse não estar preocupado neste momento com a estabilidade financeiro. “Minhas preocupações com a estabilidade financeira se referem a um cenário em que a economia esteja muito mais forte do que está hoje", afirmou.
Lael Brainard, governadora do Fed, enfatizou que o desemprego está muito elevado em alguns setores, destacando a importância de o Fed apoiar a economia.
“O dano da Covid-19 está concentrado nos grupos já em dificuldades”, declarou em um webcast para a Associação Canadense de Economia Empresarial. Os economistas do Fed estimam que o desemprego nos níveis salariais mais baixos será de cerca de 20%, em comparação com os menos de 5% nos níveis superiores.
O duplo objetivo do Fed é buscar o máximo emprego com estabilidade de preços.
O vice-presidente do Fed, Richard Clarida, reiterou, na semana passada, em um webcast da Hoover Institution, que o Fomc não elevaria os juros até ver a inflação a 2%. “Estamos tentando atar nossas mãos”, afirmou sobre o novo marco de política monetária do Fed. Ele disse ainda:
“Fazer isso não significa falta de credibilidade perante os mercados”.
Alguns membros do Fomc não têm certeza de que a inflação esteja continua, principalmente em vista dos setores duramente atingidos pela pandemia. A chefe do Fed de Kansas, Esther George, afirmou que a inflação está sendo pressionada por esses setores, mas pode voltar com força.
“A recuperação do mercado pós-vacinação deve impulsionar a demanda e os preços nesses setores, incluindo tarifas aéreas e acomodações, o que pode fazer a inflação voltar rapidamente".
Christ Waller, ex-economista-chefe do Fed de St. Louis, foi nomeado como sexto membro do conselho de governadores após a reunião de dezembro do Fomc e fará parte da reunião de 26-27 de janeiro como membro votante pela primeira vez.
Os analistas o classificam como moderado na política monetária e esperam que ele reafirme as posições de centro do Fomc. Em outras palavras, o ex-professor de Economia da Universidade de Notre Dame não deve causar rebuliço.