Por Jayne Costa e Alcides Torres
Boa parte das indústrias frigoríficas permaneceram fora das compras devido ao auto embargo dos embarques para a China.
A oferta de rebanhos existe, porém em menor quantidade em função da queda nos preços e das pastagens em boas condições possibilitando ao produtor aguardar uma possível melhora no cenário.
O mercado está estagnado.
Oeste - BA
A cotação do boi caiu R$2,00/@, para vaca e novilha ficou estável.
Norte - MT
Com o mercado pressionado, a cotação da arroba do boi, da vaca e da novilha caiu R$5,00/@.
Ou seja, o mercado está largado em todas as praças pecuárias.
Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), traduzindo: doença da vaca louca
Popularmente conhecida como mal da "vaca louca”, é uma doença degenerativa irreversível do sistema nervoso central que acomete bovinos. É causada pela multiplicação de proteínas chamadas príon. A origem do nome vem da união de duas palavras do inglês: protein (proteína) e infection (infecção).
A identificação da doença foi fruto de pesquisas sobre uma enfermidade comum, até a década de 60, que afligia a população na Papua Nova Guiné, conhecida como kuru. Os sintomas englobavam desde tremores até a degeneração do sistema nervoso. Nos rituais fúnebres das etnias que habitavam a ilha, o cérebro de pessoas doentes era consumido.
A conclusão dos estudos se deu em 1982, com a publicação do médico neurologista estadunidense Stanley Prusiner, que em 1997 recebeu o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina.
Além do kuru, a doença de Creutzfeldt-Jakob, a síndrome de Gerstmann-Straussler-Scheinker e a insônia familiar fatal são enfermidades que acometem humanos e que também são causadas por príons.
Estudos divulgados em setembro de 2001, pela Universidade de Edimburgo, Escócia, indicaram que a forma humana das encefalopatias espongiformes crescia 20% ao ano na Grã-Bretanha e cerca de 140 mil pessoas poderiam ter sido afetadas, no período anterior ao estudo.
O tema desperta interesse não apenas pela característica singular de seu agente fortuito, mas também pela precaução quanto à transmissão da doença da “vaca louca" para humanos, através do consumo da carne de bovinos contaminados.
O que não foi o caso das recentes ocorrências no Brasil.
Linha do tempo referente às manifestações da doença, atípica, no Brasil
Em 2019, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) relatou a ocorrência de um caso de “vaca louca” atípica em Mato Grosso. Este caso ocorre geralmente em bovinos com idade avançada, velhos, que desenvolvem espontaneamente uma proteína “defeituosa” que afeta o sistema nervoso central.
Vale ressaltar que a forma atípica não traz riscos de transmissão ao rebanho, tão pouco ao ser humano. O caso confirmado, na época, tratava-se de uma vaca de corte de 17 anos, que foi abatida e incinerada.
Uma vez que o protocolo celebrado entre China e Brasil determina que a exportação deve ser suspensa nesses casos, os embarques foram cancelados. Assim, a cotação da arroba do boi gordo caiu (figura 1).
Em 2021, aconteceu a mesma coisa e a exportação foi suspensa em setembro. O mercado sentiu e, novamente, a cotação caiu.
Esses casos não modificaram a classificação brasileira de risco para a doença, que é insignificante. Desde a descoberta da doença, nenhum caso clássico foi registrado no Brasil.
O caso clássico está associado à ingestão, por ruminantes, de proteínas de origem animal contaminadas. Situação que ocorreu no Reino Unido em 1980 e em 1990.
A Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA) endossou o laudo brasileiro, confirmando que o caso não se tratava de uma zoonose e manteve a condição sanitária de baixo risco de transmissão da doença para consumo da carne bovina.
Veja, na figura 1, o comportamento das cotações do boi gordo nos períodos de embargo e de reabertura do mercado chinês, após o anúncio dos casos em 2019 e 2021.
Figura 1.
Evolução dos preços da arroba do boi gordo entre a confirmação do caso de EEB e com a reabertura do mercado chines em 2019 e em 2021 (base 100 = cotação no dia da confirmação da doença).
Fonte: Scot Consultoria
Exportação para a China
Em junho de 2019, em função do auto embargo, a exportação para a China caiu 29,1% em volume. O desempenho foi de 21,3 mil toneladas de carne in natura, frente às 29,9 mil toneladas embarcadas em maio. O faturamento foi de US$ 104,3 milhões, queda de 27,3%, na mesma comparação.
A exportação foi retomada em julho, depois de 13 dias sem exportar.
Em 2021, em setembro, outro episódio semelhante foi anunciado, os embarques, no entanto, foram mantidos, o que sustentou o desempenho da exportação durante o mês.
Contudo, queda dramática foi observada em outubro (-92,7%) tendo sido embarcado 8,2 mil toneladas, ante 111,9 mil toneladas em setembro. O cenário piorou em novembro, com o volume em queda livre. A exportação foi de 194,4 toneladas (-97,6% frente outubro), com faturamento de US$ 799,5 mil.
Em dezembro, foi anunciada a retomada da exportação para os chineses, que aconteceu plenamente somente em janeiro de 2022 (figura 2).
Em janeiro de 2023, o faturamento aumentou 47,1%, em relação a janeiro de 2022, alcançando US$483,3 milhões, com volume de 98,8 mil toneladas, aumento de 88,0%.
Veja, nas figuras 2 e 3, o comportamento da exportação (volume e faturamento nos períodos em que os casos foram notificados (2019, 2021 e 2023).
Figura 2.
Volume exportado de carne bovina in natura para a China, em milhões de toneladas, de janeiro a dezembro de 2019 a 2023.
*referência somente janeiro
Fonte: Secex
Figura 3.
Faturamento com a exportação de carne bovina in natura para a China, em milhões de dólares, de janeiro a dezembro de 2019 a 2023.
*referência somente janeiro
Fonte: Secex
Comportamento do mercado em função dos auto embargos
Em 2021, a cotação da arroba do boi gordo, que vinha firme há meses, mudou de rumo. O preço, a prazo e livre de impostos, na praça pecuária de São Paulo, que em 31 de agosto estava em R$305,50/@, atingiu R$258,00/@, em 29 de outubro.
Entretanto, em 23 de novembro de 2021, a cotação finalmente encontrou um piso e reagiu, apesar da China não ter retomado os embarques. A cotação subiu para R$310,50/@, preço bruto e livre de impostos.
O que acontece agora?
O MAPA anunciou que adotou as providências cabíveis após a confirmação de um caso de EEB em uma pequena fazenda no sudeste do Pará. Foi notificado que o bovino - macho com 9 anos de idade - fora criado em pasto e não consumia ração.
A Agência de Defesa Agropecuária do estado confirmou que o resultado do exame laboratorial deu positivo. Com esse laudo, a exportação para a China foi suspensa temporariamente a partir de 23 de fevereiro.
De acordo com o MAPA, após o comunicado feito à OMSA – Organização Mundial para Saúde Animal - as amostras foram enviadas para laboratório referência em Alberta, no Canadá. A confirmação de que se trata de um caso atípico é aguardada.
A apuração epidemiológica está sendo prioridade e transparente e poderá ser continuada ou encerrada de acordo com o resultado da contraprova.
A China é o principal destino da carne bovina in natura brasileira exportada.
A retomada da exportação depende da liberação das autoridades chinesas.