Começamos 2013 mais esperançosos depois dos avanços nas negociações em torno do fiscal cliff pelos congressistas norte-americanos. Um pacote acabou aprovado, com elevação de Imposto de Renda para quem ganha mais de US$ 400 mil e adiamento de corte de gastos, totalizando US$ 110 bilhões, afetando, em especial, a área da defesa (Pentágono). Este acabou postergado para ser decidido em março deste ano, o que por certo deverá provocar mais volatilidade nos mercados.
Sendo assim, ganha-se tempo, mas não dá para afirmar que o pior já passou. Novos capítulos devem se desenhar para os próximos meses. Chama a atenção, no entanto, a postura intransigente dos republicanos em não abrir mão das isenções para os ricos, defendendo cortes de benefícios sociais. Muitos consideram o embate atual mais ideológico do que econômico, fruto desta intransigência dos republicanos, influenciados por facções radicais, como o Tea Party.
No Brasil, a balança comercial de 2012 acabou como destaque na semana que passou. Façamos então uma análise do seu desempenho.
O saldo comercial de dezembro foi positivo em US$ 2,25 bilhões, 40,8% menor do que o registrado em dezembro de 2011 (US$ 3,80 bilhões), mas bem melhor que o registrado em novembro (déficit de US$ 186 milhões, pior desempenho em 12 anos). Lembremos que este último acabou impactado pelo grande volume de importações antecipadas de petróleo e derivados, que aumentaram 103% no mês e 125% pela média diária.
No acumulado ao ano, o saldo foi positivo em US$ 19,4 bilhões, 34,8% menor do que o registrado em 2011 (US$ 29,79 bilhões). Pela média diária, as exportações recuaram 5,3% e as importações 1,4%.
Esta forte queda anual pode ser explicada pelo cenário global em crise, com os principais mercados brasileiros registrando fraco crescimento ou em crise política. Neste contexto, destacamos a Argentina, em crise de divisas, adotando barreiras protecionistas; a China registrando desaceleção no crescimento, pela retração da Zona do Euro e a busca de um novo modelo de crescimento; e os EUA, retomando seu crescimento de forma lenta.
Somado a isto, observamos o “Custo Brasil” como entrave, destacando a área de logística, dificultando o escoamento da produção, e o excesso de carga fiscal, embutido nos bens tradeables, encarecendo suas vendas. Ou seja, na análise da balança comercial, tanto podemos nos ater a fatores conjunturais, reversíves no curto prazo, como estruturais, crônicos e de difícil solução.
Pelo lado dos embarques, no ano, bens básicos recuaram 7,4%, semimanufaturados -8,3% e manufaturados -1,7%.
Já pelo lado das importações, no ano, matérias-primas e intermediários recuaram 2,2%, combustíveis e lubrificantes -2,4% e bens de consumo -1,8%, enquanto que bens de capital avançaram 1,5%. A recuperação destes últimos pode ser vista com otimismo, por sinalizar retomada dos investimentos, através da importação de máquinas e equipamentos.
Por destinos do fluxo de comércio, nossos principais mercados são China, participando com 17,0% do total, recuando em relação a 2011 (17,3%); EUA com 11,1% e Argentina em 7,4%. Por blocos, a Ásia respondeu com 31,1%, depois a América Latina e Caribe com 20,8% e a União Europeia com 20,1%.
Em síntese, podemos tecer algumas observações a partir dos indicadores de comércio exterior de 2012:
• o desempenho da balança comercial foi sofrível no ano (US$ 19,4 bilhões), recuando 34,8% contra 2011. Isto se explica pelo mundo em crise, o que reduziu tanto nossas exportações como importações;
• as exportações continuaram divididas entre bens industrializados e básicos, com participação de 51% e 46,8%, respectivamente. Nos manufaturados houve avanço, de 36% no ano retrasado para 37,4% em 2012. Isto decorreu do “efeito câmbio”, mais sensível a estes bens. Os básicos se mantiveram praticamente estáveis (46,8% em 2012, contra 47,8% em 2011);
• pelo lado das exportações de minério de ferro, embora em queda no quantum anual, houve recuperação em dezembro, atingindo US$ 2,81 bilhões, 6,5% maior do que em novembro, graças a uma leve recuperação nos preços. Além disto, observamos recuperação na cotação do minério de ferro, que já passava de US$ 139 a tonelada ao fim de dezembro, o que deve impulsionar o valor destas exportações em 2013, ainda mais diante da perspectiva de um bom ritmo de crescimento da China (de 7,5% a 8,5%);
• outro destaque vem das exportações de milho, que acabaram como recorde, com 15 milhões de tonelados embarcadas até novembro, gerando superávit de US$ 1,9 bilhão para a balança comercial do período citado. No ano de 2012, as vendas de milho cresceram 97,3%. Isto pode ser justificado pelas estiagens no Hemisfério Norte, o que beneficiou a produção local;
• chamou a atenção o comércio bilateral com o governo populista de Christina Kirchner, extremamente protecionista. Temos, neste caso, “dois pesos e duas medidas”, pois as importações dos hermanos seguem estáveis, enquanto que nossas exportações foram afetadas. As exportações para a Argentina recuaram 20,7% no ano, com impactos na produção automobilística, máquinas e equipamentos, aparelhos eletroeletrônicos, minério de ferro, siderúrgicos e outros. Já as importações da Argentina recuaram apenas 2,7%. Para a Europa Oriental o tombo também foi grande, com recuo de 16,4% no ano, e para a União Europeia, com recuo de 7,7%;
• observa-se, também, retração das exportações para a China, de 7% no ano, com destaque para minério de ferro e petróleo. Já as exportações de soja seguem num bom desempenho. Por outro lado, as importações para o Brasil aumentaram 4,4%, ultrapassando US$ 34 bilhões;
• as importações de bens de capital cresceram pouco em 2012 (1,5%), reforçando o processo de adiamento de projetos das empresas, em decorrência dos vários ruídos gerados pelo governo, além do crescimento mais fraco no ano. Por participação, estas fecharam 2012 com 21,8%, maior do que em 2011 (21,2%); matérias-primas e intermediários (de 44,7% contra 45,1%), combustíveis (de 15,8% contra 16,0%) e bens de consumo (de 17,6% contra 17,7%).
Tracemos agora um cenário para a economia global e a balança comercial brasileira.
• As perspectivas globais para 2013 ainda indicam fraco crescimento para os países desenvolvidos, com a economia global sustentada pelos emergentes, com destaque para a China. Os EUA, sem o “abismo fiscal”, devem manter o mesmo ritmo de crescimento de 2012, em torno de 2%. A Zona do Euro deve se manter estagnada. Já a China deve crescer entre 7,5% e 8,5%, puxando nossas vendas de commodities minerais e agrícolas (minério de ferro, soja e petróleo).
• Acreditamos que as commodities devem se manter numa trajetória de lenta recuperação, como observado no gráfico a seguir. Neste caso, observamos uma parte do desempenho destas derivado de operações especulativas e outra da demanda da China e outros emergentes. Além disto, observa-se um comportamento diferenciado em alguns casos. O minerio de ferro, por exemplo, foi a US$ 139 recentemente, maior valor em cinco meses, o que deve beneficiar nossas exportações para a China.
• Pelo lado da taxa de câmbio, parece limitado seu uso como instrumento para estimular as exportações, via depreciação do real. O BACEN acha que existe “muita espuma” na taxa de câmbio, o que sinaliza o teto da taxa em torno de R$ 2,10, não mais do que isto. Numa comparação do câmbio real (preço do dólar descontado da inflação em 12 meses) com o câmbio real de equilíbrio, baseado numa cesta de moedas, em outubro o câmbio real estaria 15% acima do real de equilíbo. Tombini já ressaltou que o que interessa para a competitividade da indústria brasileira é a desvalorização da moeda nacional em termos reais (descontada a inflação) e não nominais. “É isso que dá o diferencial de competitividade... Se fosse objetivo nosso desvalorizar nominalmente o câmbio e isso redundar em inflação, aquilo que se ganha com a desvalorização do real se perde com inflação e não se ganha competitividade.”.
• Dito isto, estamos projetando a balança comercial para 2013 no mesmo patamar de 2012, em torno de US$ 20 bilhões, com as exportações e as importações num desempenho ainda fraco, variando entre 1% e 5%. Neste caso, um importante norteador continuará sendo o crescimento da China, importante demandador das nossas commodities.