O fluxo cambial confirma nossas expectativas e intensifica-se negativamente, os números divulgados ontem pelo BC evidenciam isto já na linha de tendência.
Em julho o fluxo financeiro já atinge em duas semanas expressivo saldo negativo de US$ 4,114 Bi e no ano acumula negativos US$ 2,858 Bi que doravante tende a expandir-se com a intensificação das saídas de recursos do país.
Também neste mês o fluxo comercial é negativo em US$ 1,312 Bi e no ano ainda acumula saldo positivo de US$ 1,578 Bi, mas tudo indica que passada a fase das exportações de grãos, deva também assumir a tendência de fluxo negativo.
Julho então acumula fluxo cambial negativo no montante de US$ 5,427 Bi em somente duas semanas, o que já eleva a posição vendida dos bancos para US$ 19,173 Bi, maior do que a migrada do ano passado e que conta com tão somente US$ 2,250 Bi de linhas de financiamento concedidas pelo BC.
Naturalmente, os bancos estão utilizando linhas de banqueiros estrangeiros para serem os geradores da liquidez no nosso mercado de câmbio à vista, enquanto o BC os supre com “hedge” através a venda de “swaps cambiais”.
O fluxo cambial liquido no ano está negativo em US$ 1,280 Bi, resultante de positivos US$ 1,578 Bi no fluxo comercial e negativos US$ 2,858 Bi.
A tendência doravante é intenso crescimento do fluxo cambial negativo, tendo em vista que deveremos ter expressivo volume de saídas de recursos do país, com destaque para os de natureza especulativa, cujos sinais iniciais já se percebe este mês e também a queda dos volumes de exportações, passada a fase dos grãos e com baixa competitividade dos manufaturados que perderam mercados, não sendo descartável um incremento das importações que vinham cadentes, visto que com baixos investimentos as indústrias podem optar por importar os produtos para atender a complementaridade da demanda daquilo que estão deixando de produzir.
O contexto que se vislumbra é bastante desafiador para o BC e mesmo para os bancos, a despeito dos ganhos que podem estar sendo auferidos com as posições vendidas, pois não enseja que se projete recuperação no curto/médio prazos de fluxos cambiais positivos para o país.
Notoriamente, o BC está levando a cabo todos os esforços para manter o preço do dólar amplamente distorcido que resulta em sua depreciação, visto que a inflação está forte e no limite e, agora mais do que nunca, precisa do preço da moeda americana atuando na contenção das pressões inflacionárias.
Ocorre que está prática só faz aumentar o déficit em transações correntes do país, estimulando as importações, gerando empregos em outros países, e deprimindo as exportações.
O outro elemento de controle inflacionário, o juro SELIC, foi mantido estável ontem pelo COPOM em 11%, pois se subir pode levar o país à recessão e se baixar estimula a inflação.
O contexto taxa cambial e juro está muito complexo neste momento no país.
Foge da razoabilidade uma taxa de cambio real/US$ de R$ 2,21, num cenário absolutamente adverso no setor externo e com os fluxos cambiais já confirmando a tendência de agravamento.
Como consolo poderá ser alegado, como habitual, não há vulnerabilidade porque temos as reservas cambiais, mas certamente a autoridade monetária sabe que a utilização das mesmas nesta fase de baixa perspectiva de reposição não é conveniente, e que, também, mexer nas reservas para suprir insuficiência de fluxos de recursos para o país pode emitir sinais ao mercado e suscitar movimentos especulativos sobre a moeda brasileira.
O certo é que em algum momento o preço da moeda americana deverá buscar a sua realidade e dado o esforço de represamento poderá provocar mudanças abruptas, o que não é recomendável.