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Baseado em Fatos Reais (E em Outros Nem Tanto)

Publicado 06.08.2018, 11:16
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Quando Ayrton Senna foi perguntado sobre quem foi seu maior rival, todos esperavam a indicação de Alain Prost.

Após uma longa respiração, a resposta veio assim: “Eu teria de voltar a 78, 79, quando eu era piloto de kart. Eu vim pra Europa pela primeira vez para competir fora do Brasil, como companheiro de Terry Fullerton. Ele era muito experiente e eu gostava muito de pilotar com ele. Porque ele era rápido, era consistente. Ele era para mim um piloto muito completo. E era pilotagem pura, corrida pura. Não existia nenhuma política, nem dinheiro envolvido. Era competição pura. Eu tenho isso como uma memória muito boa”.

Eu, Felipe, gostava mesmo era do Clube do Mé. Jogávamos aos sábados de manhã, campeonato da várzea. Pancadaria comia solta, mas era honesta. O esporte tem as suas próprias leis.

A maior raridade nos campos era a grama. A bola rolava sobre a terra. Era complicado dominar a criança naquele relevo acidentado. A redonda chegava toda viva, dificilmente rolando no chão. Também era difícil desviar das galinhas e dos cachorros, que moravam nas casas de família circunscritas aos campos – algumas delas famosas bocas de fumo e de “otras cositas más”, um bocado mais pesadas.

Ali, não tinha muita conversinha. Antes do jogo, o juiz costumava vir nos pedir um troco pra inteirar dois rabos de galo e uma maria-mole – a depender da disposição, pedia pra gente também, dose-dupla. Sem a lucidez do “homem de preto”, o futebol acabava arbitrado pelos próprios jogadores, com suas próprias leis, honra e código de conduta. Era competição pura. E se você quisesse bancar o esperto, seria simplesmente varrido dali. Do seu lado, estariam um traficante, um ladrão de carros, outro sequestrador. Malandro que é malandro demais se atrapalha. Só havia espaço para a humildade, cada um sabendo exatamente o seu lugar, com muito respeito recíproco.

Hoje virou Parque do Povo. Os campos de terra e o tráfico de drogas foram substituídos por gramados verdes bem cortados e por espaços perfeitamente arquitetados para treinamento funcional. Os homens negros sem camisa e as mulheres grávidas ainda na adolescência deram lugar às “happy socks” e às moças que retocam a maquiagem enquanto fazem “aulão de crossfit".

Se não for sofisticado ou gourmet, não vale. Eram bons os tempos em que importava apenas o essencial. No caso do mercado financeiro, o essencial é ganhar dinheiro. Minha tese pessoal é de que, quanto mais simples você for (não confundir com simplista), mais dinheiro você vai ganhar.

Querem lhe empurrar os produtos e as teses mais sofisticadas. Isso dá ao financista um certo empoderamento, possuidor de um saber especial e científico – também dá mais taxas e comissões para os bancos e as corretoras. Sou um financista que acredita pouco nos financistas. Não carregamos superpoder algum. Não somos capazes de determinar tetos e fundos dos mercados e dos ativos em particular. Também não sabemos a hora certa da próxima porrada numa determinada ação. Nem mesmo sabemos qual será a próxima porrada.

Meu foco é a alocação global de recursos. Há vários estudos sugerindo que é justamente o asset allocation que vai determinar mais de 80 por cento de seu resultado a longo prazo, não a escolha dessa ou daquela ação, desse ou daquele título.

É com esse espírito que as linhas abaixo são escritas. Bem que poderia ser uma história real. Por enquanto, porém, é só uma elucubração.

Mas, embora a ideia não possa ser replicada à risca, oferece uma clara direção para ser implementada nos portfólios individuais. Deixo claro: se não é inteiramente replicável, isso se dá apenas por conta do subdesenvolvimento do mercado de capitais local, ainda muito carente de estruturas eficientes de gestão passiva.

Um dos grandes erros de retórica do século 21 foi substituirmos o uso da palavra “subdesenvolvido" por “emergente" para caracterizar mercados da periferia – agora, temos a falsa impressão de que estamos emergindo de nosso subdesenvolvimento. Não estamos. Continuamos na mesma lama de sempre. Enquanto o mundo inventa um ETF (instrumento clássico de gestão passiva) por dia, nós não temos sequer como nos expor à renda fixa passivamente. Cabe ao investidor selecionar prazos e características dos títulos no Tesouro Direto, como se a ele pertencesse as ferramentas adequadas para identificar a atratividade da inclinação da curva de juros, o duration, a inflação implícita e por aí vai.

Enquanto o país do futuro vive no passado, deixo aqui uma ideia platônica, mas cujas diretrizes são úteis pragmaticamente a todos aqueles que pensam em como investir seus recursos e compor uma carteira voltada à construção de patrimônio de longo prazo, sem dispor de muito tempo e saco para acompanhar a coisa todos os dias.

Se nós vivêssemos num mercado perfeito, uma proposta de portfólio para a pessoa física poderia obedecer aos seguintes passos:

1. Pegue o volume de recursos que pretende investir e divida ao meio. Destine uma metade para aplicar em renda fixa. Quebre essa gaveta em outras três. Coloque um terço num ETF de prefixados, um terço em ETFs de pós-fixados e um terço num mecanismo de gestão passiva de indexados (resumidamente, a ideia aqui é se expor aos três tipos de títulos do Tesouro Nacional, obedecendo mais ou menos à sua proporção na dívida soberana total, sem precisar ficar fazendo seleção ativa; talvez o leitor mais sofisticado dê falta da presença de crédito no portfólio – é isso mesmo; pra mim, crédito no Brasil envolve muito risco e pouco prêmio);

2. Separe 25 por cento de todo dinheiro para investir em ações. Quais ações? Não se preocupe com isso. Desse dinheiro destinado à Bolsa, aloque 80 por cento em BOVA11 e o restante em SMAL11.

3. Compre 15 por cento em fundos imobiliários. Reze para a B3 endereçar as nuances tributárias e liberar o short em FIIs. Assim, podemos criar um ETF sobre o Ifix, ou sobre um novo índice a ser criado, caso o Ifix não seja uma boa média para ser replicada como carteira. Enquanto isso não se configura, compre os cinco maiores, na proporção de sua representatividade no Ifix.

4. Coloque 10 por cento da grana num bom fundo cambial. Você precisa de alguma proteção e de exposição a moeda forte, porque, vamos combinar, ninguém quer ter 100 por cento do dinheiro numa divisa exótica como o real.

Sem precisar estudar um ativo individualmente sequer, essa proposta já representaria um grande salto na gestão de patrimônio. Diversificada, simples e, ao mesmo tempo, sofisticada, por mais contraditório que isso possa parecer.

"Happy socks" pode até parecer homônimo homófono de “happy stocks”, mas são coisas beeeem diferentes. Favor evitar.

Mercados brasileiros iniciam a semana próximos da estabilidade, acompanhando movimentação no exterior. Dólar sobe frente às principais moedas lá fora, o que indica certa aversão a risco, mas nada muito intenso. Petróleo sobe com corte na oferta saudita – alta de commodities ajuda emergentes.

Há certa pressão por realização de lucros, depois do rali da sexta-feira, desencadeado por Relatório do Emprego amigável nos EUA e percepção de avanço da candidatura de Alckmin, tido pelo mercado como a alternativa reformista canônica.

Sob essa ótica exclusiva, haveria novos motivos para clima favorável entre os investidores e isso permite ainda algum bom humor.

Pesquisa Ibope com eleitores de SP na noite de sexta-feira mostrou aumento das intenções de voto no candidato tucano, agora à frente de Bolsonaro nessa amostra. Já o candidato do PSL teria encontrado um revés com a nomeação do General Mourão para vice de sua chapa – o militar dificultaria a atração do voto mais moderado, inibindo o avanço de Bolsonaro para eleitores de centro.

Em paralelo, a esquerda, ao menos até agora, encontra dificuldades de mobilização. Ciro Gomes formou chapa pura e confirmou seu isolamento, enquanto o PT oficializou Fernando Haddad como plano B – hipótese de Jacques Wagner, cogitada por alguns como potencialmente mais competitivo do que o ex-prefeito paulista, ficou menos provável.

É importante ponderar, porém, que mercado já vem antecipando aumento das chances de Alckmin e, diante da destacada apreciação recente, pode exigir evidências um pouco mais materiais antes de investir em alta adicional. Com tanto tiro, porrada e bomba, Ibovespa sobe 6,59 por cento no ano e isso é mais de 170 por cento do CDI – ok, boa parte da alta veio de empresas de commodities e somente uma rara seleção de ações poderia ter capturado uma valorização dessa magnitude; seja como for, nada que um bom ETF não resolva.

Agenda local traz Focus, balança comercial e dados da Anfavea. Nos EUA, sai índice de tendência de emprego em junho.

Ibovespa Futuro sobe 0,4 por cento, depois de cair nas primeiras negociações. Dólar e juros futuros estão próximos à estabilidade.

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