BitBonds são instrumentos financeiros híbridos que combinam características de títulos públicos tradicionais de dívida com exposição parcial ao Bitcoin.
A estrutura básica prevê que uma porcentagem majoritária dos recursos captados — geralmente 70%-90% — seja alocada em dívida soberana convencional, enquanto o restante é utilizado para comprar BTC, criando uma componente de valorização atrelada ao criptoativo.
No vencimento, o investidor recebe a remuneração padrão do título, acrescida de uma participação nos ganhos de BTC, normalmente limitada a um teto inicial e, a partir daí, dividida entre o investidor e o emissor.
Esse modelo visa reduzir o custo efetivo de financiamento público por meio do atrativo adicional do BTC e, ao mesmo tempo, formar uma reserva estratégica de Bitcoin nas mãos do emissor.
Estados Unidos
Nos Estados Unidos, o conceito de BitBonds ganha força como um instrumento híbrido que combina 90 % em títulos do Tesouro com 10 % investidos em Bitcoin.
Na prática, a dinâmica prevê que o investidor receba 100 % da valorização do Bitcoin até um retorno anual composto de 4,5 %, com ganhos adicionais divididos meio a meio entre o investidor e o emissor — o governo. A lógica é dupla: reduzir o custo de financiamento da dívida pública e criar uma reserva estratégica em Bitcoin.
Empresas como VanEck apresentam cenários onde, mesmo que o Bitcoin não se valorize, o menor custo de juros em BitBonds seria suficiente para gerar economia significativa no serviço da dívida. Já em âmbito local, o prefeito de Nova York, Eric Adams, sinalizou interesse em emitir o primeiro BitBond municipal, embora o controlador da cidade tenha questionado os riscos dessa iniciativa
Rússia
Na Rússia, o Sberbank lançou recentemente um título estruturado atrelado não apenas ao preço do Bitcoin em dólares, mas também à variação do dólar frente ao rublo. Esse modelo simples permite aos investidores obter ganhos com a valorização do Bitcoin e/ou com a apreciação do dólar local.
O diferencial é que toda a operação é feita em rublos, via negociação OTC, sem necessidade de carteira cripto ou exposição direta a plataformas internacionais — e com planos para ser listado na bolsa de Moscou junto a futuros de Bitcoin.
Essa abordagem reflete não apenas um movimento por exposição regulada a ativos digitais, mas uma resposta estratégica ao contexto econômico do país. A habilitação desses produtos pelo Banco da Rússia fortalece um arcabouço financeiro que combina inovação e soberania monetária .
Implicações
Esses episódios apontam para a tendência do Bitcoin começa a ser visto como ativo financeiro de reserva estratégica, pronto para ser integrado a instrumentos tradicionais de dívida.
Nos EUA, a motivação é a redução do custo de capital estatal e a flexibilidade fiscal. Na Rússia, trata-se de um mecanismo para acesso controlado e regulamentado a capital digital, sem exposição direta nem evasão monetária.
BitBonds e títulos estruturados atrelados a criptoativos representam uma nova classe de ativos que conecta o mercado tradicional de dívida ao universo digital, oferecendo retorno potencial ampliado sem romper com a estrutura regulatória vigente.
A tendência é que novos formatos sejam desenvolvidos, ajustando-se a diferentes jurisdições e perfis institucionais, à medida que o mercado financeiro incorpora ativos digitais em instrumentos já consolidados.