“Meme coins são típicas de bolhas em estágio terminal” – Capitão Óbvio.
Antes de tudo, um aviso sobre viés: sempre vi o bitcoin (BTC/USD), e o universo cripto em geral, como uma forma de especulação, em diferentes graus, desde o início. Quanto aos NFTs, bastou que entusiastas de NFT/Cripto começassem a curtir, seguir e bajular o perfil NFTrh (@NFTRHgt) no antigo Twitter por causa de três letras no nome abreviado do serviço (Notes From the Rabbit Hole) para que meu "detector de golpes" disparasse até quebrar. E meme coins?
Bem, como meu detector de fraudes já pifou, vamos ativar o detector de besteiras para analisar o mundo cripto em comparação com o XAU/USD (ouro).
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Criptoativos, especialmente os de perfil altamente especulativo, são parte lógica do ecossistema de ativos que se expandiu de forma exponencial com o suporte de políticas monetárias e fiscais inflacionistas sustentadas por décadas. Banco Central e governo atuaram por vias distintas, mas convergentes.
Essa bolha parece próxima do fim (se é que já não estourou), com base em inúmeros indicadores acompanhados ao longo dos últimos anos, como no caso do movimento estrutural da Treasury de 30 anos desde a ruptura de tendência em 2022. A figura não é bonita*, embora os detalhes fujam ao escopo deste artigo.
A não ser que, assim como eu, você seja um entusiasta de macroeconomia.
A narrativa cripto que tanto fascina o público tem, de fato, seu apelo: a promessa de tecnologia libertadora (desde que ninguém tropece no cabo), design criativo, memes e uma estética que representa uma forma de resistência ao sistema bancário centralizado e à moeda fiduciária emitida por governos endividados.
Senhoras e senhores, a bolha atingiu seu ápice. Trata-se de uma peça em cartaz. Participe, se quiser, mas saiba que está especulando, não investindo (e provavelmente não faz parte das 58 carteiras com influência real no mercado).
Bolhas estouram. E as franjas mais especulativas dessa bolha tendem a desaparecer, como ocorreu com o colapso dos NFTs. O bitcoin, por sua vez, apesar de envolvido em esquemas para enganar idosos ou extorquir usuários com ameaças por e-mail, já encontrou alguma utilidade em ambientes corporativos convencionais.
Mas os slogans promocionais? “Apenas segure e fique rico!” Essa é a promessa vendida aos novatos, apresentada como alternativa monetária fora do alcance dos governos. Seus defensores posicionam o ativo como proteção contra abusos de política econômica, promovendo-o como reserva de valor operada por carteiras digitais e sistemas de transação.
Boa sorte com isso. A pergunta permanece: o que acontece se alguém, literalmente ou metaforicamente, desligar a tomada? Nesse cenário, não apenas sua aposta se desvaloriza, como o “valor” que nunca existiu se torna óbvio.
A guerra de narrativas nas redes sociais entre defensores do ouro e do bitcoin chega a ser cômica. A disputa entre esses dois "titãs" atrai a atenção de quem desconfia, com razão, do sistema monetário vigente. Mas o fato de ambos representarem uma crítica ao modelo atual não os coloca na mesma categoria.
- Bitcoin: estamos falando do criptoativo mais relevante. BTC é essencialmente dado digital, criado e negociado em dispositivos eletrônicos. Existem regras, carteiras, protocolos de segurança. Mas a ideia de que isso representa um “investimento” ou uma “moeda” com proteção é ilusória. O controle legal desse ativo reside em servidores que você não possui.
- Ouro: se até os entusiastas tradicionais do ouro evitam guardar o metal em cofres bancários, imaginar uma “moeda digital segura” em servidores distantes é, no mínimo, incoerente. Não faz sentido, e você deveria compreender tanto o BTC quanto o ouro por aquilo que cada um representa.
O ouro é um marcador histórico de valor monetário. Passa longos períodos sem atender às expectativas de preço, mas, em fases como a atual, confirma a tese de seus defensores. O reconhecimento, porém, não deveria depender da cotação. O ouro é um reflexo inverso do ambiente macroeconômico, e por isso é considerado um instrumento de proteção monetária. É isso que lhe confere valor.
O objetivo deste artigo é traçar a diferença entre especulação de preço e reserva de valor. Entre entretenimento de curto prazo e proteção de longo prazo. Em termos de desempenho, o BTC superou o ouro desde que começou a ser negociado em 2014. Mas todo esse ciclo foi alimentado por um ambiente de liquidez abundante e políticas de estímulo, favorecendo ativos de risco. Não surpreende, portanto, que o criptoativo tenha superado o metal anticíclico.
Ainda assim, o ouro chega onde precisa, no tempo necessário. Muitos se espantam com o rali que superou os US$ 3.000, alvo pessoal traçado desde a formação do padrão técnico conhecido como “xícara com alça”, iniciado em 2020. Mas esse movimento não configura uma bolha. Trata-se de um ativo que agiu como contrapeso às bolhas infladas por euforia, de criptoativos a ações de setores supervalorizados no último ciclo.
Atualmente, o ouro, embora esticado em gráficos de preço nominal, ainda está apenas no início de seu movimento e está longe de representar uma bolha. O gráfico comparativo mostra que, desde 2021, o metal praticamente não se valorizou frente ao bitcoin, e antes disso, sua performance relativa foi ainda mais desfavorável. Ou seja, os argumentos apresentados anteriormente ainda não se refletem nos preços relativos. Mas, mais uma vez: preço é uma coisa, valor é outra.
Em algum momento, o “valor” do ouro deverá se manifestar com uma valorização mais acentuada frente ao BTC, assim como já começou a acontecer, com ênfase no "começou", pois o caminho à frente é longo, em sua relação com outro ativo inflado por políticas expansionistas: o mercado acionário, representado aqui pelo S&P 500.
Considerações finais
Se você é um especulador, reconheça-se como tal. Você está operando criptoativos ao lado de exércitos inteiros de outros jogadores. Viu os dados sobre carteiras de meme coins? Aquelas 58 carteiras multimilionárias não são suas. Está entre as 764 mil que acumulam prejuízos? Não quer estar? É importante entender que as últimas modas do universo cripto são facilmente manipuláveis, uma prática tão antiga quanto o próprio mercado de ações. Se você olha ao redor e não sabe quem é o alvo, provavelmente é você.
Agora, se você é detentor de valor monetário real, sabe que passará longos períodos (às vezes, anos) fora dos holofotes. Mas se compreende o ouro pelo que ele é, esses anos passam com tranquilidade, porque valor não desaparece, e proteção nunca é uma má ideia. O valor do ouro é ajustado para cima ou para baixo conforme o ambiente econômico e social em que está inserido. Neste momento, o metal precioso habita um contexto que se move contra o ciclo e além da bolha. Está apenas começando.
***AVISO: Este artigo é meramente informativo e não constitui qualquer oferta ou recomendação de investimento.