A China, maior compradora de metais do mundo, está saindo dos seus mais longos bloqueios sanitários em dois anos, emitindo sinais positivos para diversas indústrias, especialmente aquelas ligadas à construção civil e infraestrutura.
O mais estranho, contudo, é que os preços do cobre, metal comum bastante influenciado pelo país asiático, voltou a cair, em vez de subir. De fato, a volatilidade não é novidade no metal vermelho.
Mas se novos surtos de Covid, após Pequim e Xangai, renovarem a pressão baixista sobre o cobre, será que seus gráficos técnicos passarão a indicar uma correção mais profunda?
Desde a máxima recorde de US$ 5,03 por libra-peso do cobre negociado na Comex de Nova York, em 7 de março, o metal caiu até a mínima de US$ 4,04 em 12 de maio. Em apenas um pouco mais de dois meses, houve uma desvalorização de quase 20%, diante do prolongamento dos bloqueios sanitários em Xangai.
Durante as negociações desta terça-feira na Ásia, o cobre da Comex estava a US$ 4,39, uma queda de 1,7% até agora na semana, após um repique cumulativo de 7% nas três semanas anteriores.
Gráficos: cortesia de skcharting.com
E não foi apenas o cobre que registrou fortes recuos desde as máximas de março, na esteira das sanções do Ocidente à Rússia por causa da sua invasão na Ucrânia.
O exército de processadores do metal na China e a virada dos traders para venda, em vista do recuo da atividade econômica, acendeu um sinal de alerta no aço, alumínio e outras commodities industriais, ressaltou a Reuters em um resumo da indústria na semana passada.
Os compradores chineses provocaram uma disparada dos preços do metal desde meados de 2020 até o fim de 2021, enquanto buscavam em todas as partes do mundo minérios e metais para alimentar seu enorme motor industrial e acumular estoques antes de uma valorização maior dos preços.
Esse fluxo de ordens sofreu uma reversão em março, segundo a Reuters, após surtos de Covid levarem o país a ampliar os bloqueios sanitários a fábricas e lojas, estrangulando as compras de produtos que fazem uso intensivo de metais, como carros e eletrodomésticos, além de pressionar os preços dos insumos industriais. As curvas de contratos futuros do alumínio, zinco, vergalhão de aço e minério de ferro mostram os preços em tendência de baixa durante o resto de 2022.
Na terça-feira, a China parecia enfrentar novos desafios contra a Covid.
Moradores de uma cidade da Mongólia Interior foram orientados a ficar em casa, após relatos de um novo surto de infecções por coronavírus, no momento em que as restrições causadas pela pandemia haviam sido flexibilizadas em Pequim e Xangai, segundo reportagem do South China Morning Post.
A Comissão Nacional de Saúde declarou que dezesseis novos casos locais haviam sido registrados na Mongólia Interior, terceiro dia seguido com mais de 10 casos comunitários, fazendo o número total de casos atingir 41. Também houve 33 novos casos assintomáticos, totalizando 49.
Os casos fizeram Erenhot, uma cidade da Liga Xilin Gol (SA:GOLL4), a impor medidas restritivas, solicitando aos moradores que ficassem em casa, exceto em caso de assuntos urgentes.
A maioria das empresas, salvo supermercados, farmácias e centros médicos, também foi orientada a suspender suas operações. Além disso, viagens para dentro e para fora da região foram restritas, segundo o SCMP.
A Mongólia foi atingida por diversos surtos de Covid-19 neste ano, com mais de 500 casos transmitidos localmente confirmados desde meados de fevereiro até o início de maio. Depois de quase um mês sem novos casos, a Liga Xilin Gol relatou três casos positivos na quinta-feira.
Em fevereiro, cerca de meia dúzia de funcionários locais da capital regional Hohhot foram demitidos por não cumprirem suas obrigações de controlar os surtos.
A fraqueza do setor de construção – que responde por cerca de metade de todo o aço e cerca de 30% do alumínio usado na China – prejudicou ainda mais o sentimento do setor de metais, levando alguns processadores e tradings a vender estoques em um mercado doméstico enfraquecido, em vez de armazená-los para venda posterior aos usuários finais.
Isso acabou prejudicando a demanda pelo cobre.
A quantidade de cobre usada em eletrodomésticos na China deve cair cerca de 2% em 2022, de 1,79 milhão de toneladas no ano passado, segundo Che Guojun, analista da consultoria estatal Antaike.
Se os fundamentos do cobre levantam dúvidas, na melhor das hipóteses, o que dizer dos aspectos técnicos?
O analista técnico Sunil Kumar Dixit disse que o cobre parecia ter chances iguais de subir ou cair nas próximas semanas, embora o cenário de curto prazo sugerisse um viés de baixa.
Ele afirmou que o cobre atingiu a retração de 50% de Fibonacci, medida de US$ 5,03 a 4,30, e era negociado na média móvel exponencial de 50 dias, a US$ 4,40.
“Isso é uma evidência de que o metal pode ganhar força e atingir níveis maiores, rompendo a máxima do mês passado”, explicou Dixit.
Ele disse ainda que a tendência de alta no curto prazo se firmaria ainda mais se os preços rompessem US$ 4,60, o que aumentaria a possibilidade de reteste da máxima recorde de US$ 5,03 no curto prazo.
Por outro lado, a perda de US$ 4 desencadearia uma profunda correção em direção a US$ 3,80, podendo se estender inicialmente para 3,5, afirmou Dixit, acrescentando:
“A atual ação dos preços indica que o metal pode cair para US$ 4,30 e 4,20.”
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.