O mercado físico do boi gordo já vive uma entressafra, no qual a queda de braço entre pecuarista e a indústria frigorífica já fica mais evidente.
Pelo lado da oferta de boiadas, a pressão da saída de boiadas de pasto já ficou para trás, ao passo que a boiada de cocho para julho e agosto está relativamente contida, saindo quase a conta gotas. Uma andorinha voando sozinha não faz verão e por isso as programações de abate tem evoluído de maneira lenta nos últimos dias.
Pelo lado da demanda, a inflação mais ancorada no Brasil deve colaborar para a renda disponível da população para o consumo doméstico no segundo semestre de 2023. As exportações de carne bovina in natura em jun/23 surpreenderam positivamente em volume, com 14,4% MoM e 26,4% YoY mas ainda com uma receita moderada em função da variação cambial. Veja na tabela abaixo:
Ao olhar especificamente, no curtíssimo prazo, para os dados prematuros das exportações de jul/23, os embarques começaram lentos. No entanto, não seria justo olhar apenas para nove dias e seria melhor contextualizar.
Ao olhar de maneira mais ampla, os sinais são mais construtivos para os embarques. De acordo com dados do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), no Paraná, a movimentação de contêineres de carne bovina congelada de janeiro a maio de 2023 foi de 6.915, um crescimento de 52% comparado com o mesmo período de 2022.
A China é o principal promotor deste crescimento, uma vez que no primeiro semestre deste ano cerca de 59,8% dos embarques brasileiros do produto foram destinados para o país asiático, de acordo com a Scot Consultoria.
Em resumo, é possível que em 2023 haja um “encontro” de alívio por parte da demanda interna combinada com uma demanda tipicamente mais forte do nosso principal importador de carne bovina entre outubro, novembro e dezembro. Neste caso não seria uma andorinha, mas sim um bando voando na mesma direção.
No mercado interno, essa queda de braço já tem implicado em menos animais ofertados e dificuldade de negociação abaixo de R$250,00/@, à vista, nas praças pecuárias paulista. Há tentativas de R$245,00/@, nas mesmas condições, mas o volume negociado trava de maneira relevante.
Diante destas condições, para aquele pecuarista que ainda não conseguiu fazer suas proteções de preço, vale a pena monitorar os fundamentos da saída de animais de confinamento nas próximas semanas e o apetite chinês pelo produto nos próximos meses. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando.