Os valores médios mensais da carne bovina (carcaça casada), negociada no mercado atacadista da Grande São Paulo, atravessaram os oito primeiros meses de 2022 em movimento de queda. A oferta de animais para abate seguiu baixa na maior parte deste ano, enquanto as exportações registraram desempenho recorde. Assim, o cenário de desvalorização da carne está atrelado ao baixo consumo da proteína bovina no mercado brasileiro, devido ao fragilizado poder de compra da população nacional, sobretudo em decorrência da elevada inflação. No acumulado deste ano (entre dezembro/21 e agosto/22), a carcaça casada bovina registrou desvalorização de 9,5%, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI). Considerando-se a série de dados do Cepea, a média de agosto ficou em R$ 19,94/kg, sendo 3,4% inferior à de julho/22, 9% abaixo da de agosto/21 e, também, a menor média real desde outubro de 2019, quando esteve em R$ 17,95/kg. Igualmente, o valor médio da carcaça também não operava abaixo de 20 Reais/kg desde outubro de 2019. Quanto ao boi gordo, a média de agosto foi de R$ 313,39, com quedas de 2,86% no comparativo de julho/22 e de 8,5% frente ao de agosto/21.
EXPORTAÇÃO – Assim como já era esperado pelo setor, os volumes de carne bovina exportados pelo Brasil cresceram nestes primeiros meses do segundo semestre – em agosto, a quantidade foi recorde, considerando-se toda a série histórica da Secex, iniciada em 1997. Esse cenário, além de elevar divisas para a cadeia e o País, ameniza as recentes quedas nos preços da arroba, que, por sua vez, vêm sendo pressionados pela demanda doméstica bastante enfraquecida. Ressalta-se que os embarques brasileiros de carne tendem a aumentar no segundo semestre, devido ao típico aquecimento nos envios à China, maior destino da proteína nacional. E o país asiático eleva as aquisições neste período do ano no intuito de formar estoques, devido a eventos festivos, como a Golden Week, ou Dia Nacional da China, que ocorre no começo de outubro, e o Ano Novo Chinês, comemorado entre janeiro e fevereiro.
Em 2018, o volume embarcado à China no segundo semestre cresceu 62% frente à primeira metade daquele ano, de acordo com dados da Secex. Em 2019, a quantidade embarcada ao país asiático de julho a dezembro mais que dobrou frente ao primeiro semestre, com expressivo aumento de 131%; em 2020, o incremento foi de quase 40%. Já em 2021, especificamente, o volume escoado pelo Brasil à China caiu 19%, devido à suspensão dos envios de carne de boi àquele país – que durou pouco mais de três meses (do início de setembro/21 até meados de dezembro/21). Em agosto deste ano, especificamente, o Brasil exportou, a todos os destinos, 203,23 mil toneladas de carne bovina in natura, um recorde, sendo 21,5% a mais que em julho/22 e 11,81% maior que no mesmo mês do ano passado. Até então, o maior volume mensal escoado pelo Brasil havia sido registrado em setembro do ano passado, quando 187,02 mil toneladas foram exportadas, ainda conforme dados da Secex. No acumulado de 2022 (de janeiro a agosto), já foram vendidas ao exterior 1,3 milhão de toneladas de carne in natura, um recorde para esse período, sendo 20% a mais que de janeiro a agosto de 2021 e 17,39% acima do de 2020, que, até então, sustentava o recorde nessa comparação (com vendas de 1,11 milhão de toneladas). Pelo lado da receita, ajudada pelo montante embarcado, os números também são históricos. Conforme dados da Secex, o setor exportador nacional recebeu US$ 1,246 bilhão com as vendas de carne bovina in natura, alta de 13,76% frente a julho/22 e 20,83% superior a agosto/21. Diante do câmbio elevado, o faturamento em moeda nacional deu um salto mensal de 9,1% e anual, de 18,54%, atingindo R$ 6,418 bilhões em agosto/22.