Nós já dissemos, mas a pergunta continua chegando, então eu vou repetir a resposta: sim, vai ter relatório do IPO da Azul. Sai na próxima semana - na quarta-feira, se tudo der certo. Se atrasar, a culpa é minha.
Como será o amanhã?
Em dia fraco de indicadores, mercados globais têm atenções voltadas quase exclusivamente ao Congresso americano. Nova York e mercados europeus operam no zero-a-zero.
Como será o amanhã? Responda quem puder. E objetivamente falando, sejamos sinceros, sabe-se neste momento ainda menos que o pouco habitual.
Aqui, embalado por melhor humor para com mercados emergentes, chama atenção principalmente o mercado de DI com quedas de taxa relevantes ao longo de toda a curva.
Em reflexo, alta da Bolsa é liderada principalmente por companhias sensíveis a juros. Na outra ponta, predomínio de exportadoras e de empresas combalidas por surpresas negativas na temporada de resultados.
Cheque em branco
Trump se viu obrigado a recuar ontem, diante de uma provável derrota na votação de seu projeto para a saúde na versão gringa da Câmara dos Deputados. A narrativa é de que voltarão, talvez ainda hoje, ainda mais fortes.
“Great”, “huge”, “massive”… a retórica trumpiana é sempre repleta de superlativos. Igualmente superlativa é a confiança depositada pelo mercado no POTUS e na sua capacidade de levar suas igualmente superlativas propostas à frente.
Por indução, concluo que será igualmente superlativa a reação se, porventura, esse verdadeiro cheque em branco se mostrar sem fundos.
Enquanto escrevo, parlamentares debatem. Para hoje, é isso. Em caso de dúvidas, sente na mão.
Os cinco estágios
Em livro de 1969, a psiquiatra suíça Elizabeth Kübler-Ross sintetizou suas experiências com pacientes com doenças terminais. Postulou ela que a reação humana a eventos traumáticos obedece, ressalvadas as diferenças individuais, a uma sequência mais ou menos definida de etapas que ficou conhecida como “os cinco estágios do luto”.
Primeiro tem-se a negação: o indivíduo acredita que seu diagnóstico tem que estar equivocado. Após um suficientemente prolongado confronto com a realidade, dá-se por incapaz de continuar sustentando essa posição e mergulha em raiva: sente-se injustiçado e revoltado por estar sendo submetido a uma situação que lhe parece hediondamente injusta.
Quando a raiva enfim cessa, vem a fase a barganha: busca alternativas que minorem o impacto das circunstâncias ou posterguem suas consequências últimas. Diante da inflexibilidade da realidade a seus desejos, desilude-se e afunda em depressão: nada mais importa.
Por fim vem a aceitação de que as coisas, independentemente de nossos desejos mais latentes, simplesmente são como são.
Expandindo o conceito
Sempre que me deparo com o modelo de Kübler-Ross, sinto-me tentado a expandir suas conclusões para além da proposta original. Se desprovido de valor científico, meu engenho traz no mínimo conteúdo simbólico relevante — e não ignoremos jamais a importância dos símbolos.
1. Negação; 2. Raiva; 3. Barganha; 4. Depressão; 5. Aceitação.
1. Não há motivo para impeachment; 2. Vamos pegar em armas; 3. Queremos novas eleições; 4. Vamos denunciar o golpe na ONU; 5. Talvez me candidate a algo em 2018.
1. Estão manipulando o mercado; 2. Boicote aos analistas tendenciosos; 3. Vou esperar o mercado repicar para vender com perda menor; 4. Já era, o mercado acabou, volte para a poupança; 5. No longo prazo eu recupero.
Auto-análise
Se você abraça uma tese e ela é desafiada pelas circunstâncias, sempre vale a pena uma auto-análise sincera sob a ótica de Kübler-Ross.
Será que Trump pode tudo e vale a pena pagar por tudo antecipado? Estaria o mercado, talvez, em negação?
Do lado de cá, Previdência, TSE, Lava Jato e tantos outros fatores podem se traduzir em dificuldades ao longo de nossa trajetória rumo à outra margem. Estaríamos subestimando os riscos?
E aquela ação que você comprou e caiu 80 por cento? Foi um tropeço (e que tropeço, hein?) ou as condições mudaram e você está relutante em encará-las?
Numerologia