Parece cedo para saber se o rali que animou os mercados internacionais entre julho e agosto, em especial o norte-americano, seguirá sendo forte em setembro, pois esse bom humor dos mercados parece estar intimamente relacionado ao nível de aperto monetário das principais economias.
O mercado teve um rali de +9,01% no mês passado com os primeiros sinais de arrefecimento da inflação americana e da possibilidade de menores níveis terminais de juros.
Essa euforia dos investidores parece precipitada e aponta que o mercado passou a precificar que os aumentos nas taxas de juros já contratados seriam suficientes para arrefecer a inflação nos EUA.
“O mercado passou a precificar que os níveis de juro atuais, que estão próximos de +4%, sejam suficientes para o Federal Reserve (Fed) trazer a inflação para sua meta de +2% sem criar uma recessão — o que o mercado chama de soft landing (em português, pouso suave)”, disse.
Do ponto de vista econômico, esse processo não será tranquilo. Um dos motivos para isso é que o Fed precisa fazer uma convergência do núcleo da inflação de +5% para +2% em um cenário de excesso de vagas de emprego e pouca mão de obra.
“O crescimento das vagas de emprego tem criado uma pressão por salários e inflação bastante forte. Não será algo trivial de combater, ainda mais sem criar algum nível de recessão.”
Recessão reduz expectativa de lucro
Quando o banco central do país avança no processo de alta de juros, acontecem dois fenômenos: (i) compressão de múltiplo; e (ii) redução de lucro.
Historicamente, temos uma redução de -18% dos lucros e de -25% de contração dos múltiplos.
Se concatenarmos ambas as informações, chegaríamos a uma bolsa americana negociando em uma faixa de 3200 a 3000 — uma queda potencial de -24%.
Por outro lado, se estivermos errados, o S&P 500 pode negociar na média histórica de preço/lucro 17x ou 18x, com lucro crescendo +13,72%, como o mercado precifica.
Nesse sentido, teríamos uma bolsa americana negociando entre 4200 e 4400 (algo entre 4% e 11% de upside).
Mesmo se a probabilidade fosse 50% para cada opção — o que não acredito que seja —, ainda seria assimétrico.
Reserva de oportunidade
Se o movimento positivo acabar nos próximos meses, com as taxas de juros permanecendo elevadas por mais tempo lá fora, podem existir cenários oportunos de novos aportes de entrada em ações e títulos.
Considere, é claro, dispor de uma reserva de oportunidade para este momento, que é “um recurso em dinheiro que você deixa à disposição esperando a oportunidade certa aparecer, como uma ação com bons fundamentos que caiu demais ou um título de renda fixa com taxas atrativas”, disse.
Onde guardar?
Ao invés de deixar esse dinheiro parado, o indicado é fazer o dinheiro trabalhar por você. No entanto, é preciso buscar liquidez, de modo que você consiga acessar esse dinheiro assim que a oportunidade surgir.
“Além da liquidez, é importante avaliar uma boa saída para não ter chances de pagar o imposto de renda máximo. Nesse sentido, invista sua reserva de oportunidade em produtos de renda fixa isentos de IR, tais como LCIs e LCAs. Lembrando sempre que essas aplicações têm que ser de bancos seguros”, orienta meu Cristopher Galvão, analista de renda fixa aqui na Nord.
Reserva de oportunidade ou reserva de emergência?
Em linhas gerais, a reserva de oportunidade é uma quantia de dinheiro que você deixa líquido com a intenção de usá-lo em breve, enquanto a reserva de emergência está mais relacionada a possíveis imprevistos, como perda de emprego ou qualquer outra emergência.
Na prática, a reserva de oportunidade provavelmente será usada em breve, enquanto a reserva de emergência pode ficar praticamente intocável por anos.
Saber diferenciar os conceitos é importante, principalmente devido ao Imposto de Renda (IR).
Para exemplificar, imagine que você enxergou um momento de oportunidade e precisa ter um dinheiro à mão.
Se o dinheiro da reserva de oportunidade estiver no Tesouro Nacional, por exemplo, você pode acabar tendo que pagar a alíquota máxima de Imposto de Renda.
Percebe que não é o investimento interessante para essa finalidade?
Por isso, é melhor que seja aplicado em um título de renda fixa com isenção de imposto e com alta liquidez.
Temos visto que o cenário econômico atual traz muitos riscos, mas também oportunidades.