ANÁLISE-Sanções dos EUA podem causar caos em fazendas da América Latina dependentes de fertilizantes russos
ARÁBICA
Os preços externos e, consequentemente, domésticos do café arábica tiveram expressiva alta em setembro, especialmente durante a segunda quinzena do mês. O impulso veio de preocupações relacionadas à oferta global. A menor safra no Brasil em 2021/22 e os impactos da geada e do clima seco sobre a produção em 2022/23 vêm deixando em alerta agentes quanto ao balanço entre oferta e demanda em 2021 e em 2022. Até o momento, floradas significativas ocorreram apenas em Garça (SP) e nas Matas de Minas (Zona da Mata). Nas outras praças acompanhadas pelo Cepea, também houve floração, mas em menor escala, sendo que a principal deve ocorrer após um maior volume de chuva. Em setembro, as precipitações foram, de modo geral, muito baixas para favorecer a recuperação das lavouras e elevar a umidade dos solos. Neste começo de outubro, chuvas voltaram a ser registradas em boa parte das lavouras, mas ainda é necessário maior volume para a recuperação dos cafezais e manutenção das floradas.
Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), em setembro, os volumes de chuvas em Marília (Garça/SP) e em Londrina (PR) somaram 55,2 mm e 43,4 mm, respectivamente. Em Franca (Mogiana/SP), Varginha (Sul de Minas) e Caparaó (Matas de Minas), foram registrados, respectivamente, 29,4 mm, 29 mm e 10,2 mm. Já em Patrocínio (Cerrado Mineiro), não choveu. Diante desse cenário, no encerramento de setembro, os futuros externos voltaram a operar próximos dos 200 centavos de dólares por libra-peso na Bolsa de Nova York (ICE Futures), ou seja, nos patamares observados em 2014. No balanço do mês (entre 31 de agosto e 30 de setembro), no entanto, o contrato Dezembro/21 se desvalorizou 0,7%. No Brasil, produtores estiveram relativamente retraídos nas últimas semanas do mês, reforçando a elevação dos preços domésticos. Assim, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, posto na capital paulista, operou vários dias acima dos R$ 1.100/saca de 60 kg, atingindo, no dia 28 de setembro, o maior patamar diário real desde 12 de janeiro de 2012, ao fechar a R$ 1.146,61/saca (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de agosto/21). De 31 de agosto a 30 de setembro, a elevação foi de 52,71 Reais por saca (ou de 4,8%).
ROBUSTA
As cotações do robusta também subiram com força em setembro. O Indicador CEPEA/ESALQ do tipo 6 peneira 13 acima fechou o dia 30 a R$ 825,86/sc, elevação de 134,85 Reais por saca (ou de 19,5%) em relação ao encerramento de agosto. Esse foi o maior fechamento real desde 19 de janeiro de 2017 (os valores diários foram deflacionados pelo IGP-DI de agosto/21). Quanto ao robusta tipo 7/8, houve aumento de 134,45 Reais por saca (ou de 19,8%) de 31 de agosto a 30 de setembro. As cotações da variedade foram impulsionadas pelos ganhos externos, pela maior demanda nacional e pela retração vendedora. Na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe), o contrato Novembro/21 teve ganho de 7% de 31 de agosto a 30 de setembro. Os futuros externos, por sua vez, foram influenciados por preocupações quanto à oferta global de café em 2021 e em 2022 e por dificuldades logísticas enfrentadas em outros exportadores de robusta, como o Vietnã e a Indonésia.
No spot nacional, grande parte dos vendedores esteve retraída, enquanto a demanda seguiu firme, o que dificultou o fechamento de negócios no País. Devido à valorização do robusta neste ano, cafeicultores estão conseguindo mais recursos, mesmo com o menor volume de vendas. Segundo agentes, produtores devem aguardar o melhor desenvolvimento da safra de 2022/23 – tanto a de robusta quanto a de arábica – para retornarem com mais efetividade ao mercado spot. No campo, o clima seguiu mais seco em setembro no Espírito e Santo e em Rondônia, preocupando agentes. Ainda que o desenvolvimento da safra de robusta não tenha sido prejudicado, seria ideal um maior volume de chuvas nos próximos meses para o pegamento das flores e para o bom desenvolvimento dos chumbinhos.