O Banco Central Europeu manteve os juros inalterados e repetiu que comprará próximo de 1 trilhão de euros de títulos por pelo menos dois anos. Entretanto, os investidores que duvidam da efetividade do plano ficaram ainda mais ressabiados em saber que boa parcela das compras deve começar apenas em dezembro.
O índice de manufaturados alemão de setembro caiu para níveis que preocupam a atividade do País, levando os títulos da dívida de 10 da Alemanha a negociar com o menor juro da história, 0.93%.
As bolsas europeias perderam entre 2% e 3% nos últimos cinco dias, enquanto as americanas fecharam com queda menor que 1%, ajudadas pelo robusto ganho de postos de trabalhos e diminuição da taxa de desemprego nos Estados Unidos – apesar da confirmação do primeiro caso de Ebola na América.
O dólar índice atingiu o maior patamar dos últimos quatro anos, tendo o Euro batendo os 1.2501 que não se via desde 2012 e o Real desvalorizando para 2.5073 pela primeira vez desde a crise de 2008. O Brasil, ao levar para o segundo turno o candidato Aécio Neves, acalmou um pouco os ânimos.
As principais cestas das commodities ficaram pressionadas com a valorização do dólar. As quedas foram fortes do cacau, gasolina, petróleo e prata; enquanto, do lado positivo, o café foi praticamente a única exceção, com a impressionante alta de 7.97% em New York e 6.39% em Londres – muito embora o último não componha nenhum índice.
O motivo principal dos ganhos foi a postergação da perspectiva de chuvas abrangentes e em bom volume no cinturão de café brasileiro em 3 dias, do dia 9 para dia 12 de outubro. A parte técnica também ajudou a puxar os preços depois do rompimento dos 190 centavos e dos 200 centavos, que atraiu os fundos e especuladores a comprar novamente o mercado.
Claro que houve notícias positivas, mas nenhuma novidade. Para ser franco, uma nova análise global do quadro de uma corretora apontou para um superávit de 3 milhões de sacas este ano (14/15), enquanto manteve para 15/16 um déficit – de tamanho que não dá para falar ainda.
A movimentação no físico foi boa com bastante negócios reportados em diversas origens, que se traduziram em bom volume de fixação na bolsa. A queda da moeda brasileira frente ao dólar fez com que as cotações do arábica do terminal convertidas em Reais por libra-peso negociassem no maior nível desde que o Real se tornou a moeda oficial brasileira. Em outras palavras, New York fez a maior alta em 20 anos, motivo que explica parcialmente a arbitragem de BM&FBovespa e ICE alargar para incríveis US$ 26 centavos por libra.
No FOB saíram negócios com mais de US$ 30 centavos de desconto para o café brasileiro; e para os cafés suaves, os prêmios ficaram ainda menores. O volume de negociação poderia ter sido maior caso existisse demanda externa para limpar o pipeline, um sinal bastante negativo para o curto prazo – junto com os outros indicadores, como arbitragens, diferenciais, spreads, e câmbio.
A divergência entre o flat-price e basis é justamente esta: o primeiro está olhando no que potencialmente pode acontecer daqui a um ano; e o segundo, vê a abundante oferta daqui até lá.
O momento pode ficar explosivo caso o contrato da ICE rompa os US$ 220/230 centavos, pois apertará o fluxo de caixa de muitos. Por outro lado, há muitos operadores que andaram comprando proteção de alta, fazendo com que a volatilidade implícita subisse para 56%.
Novas revisões no prognóstico de precipitações vão provocar reação grande no terminal, para cima ou para baixo, e a tensão não poderia ser maior entre os participantes do mercado, justamente por terem vivido uma situação parecida no começo do ano.
Na sexta-feira, dia 10 de outubro, muitos se reunirão no Swiss Coffee Dinner, talvez o segundo mais importante encontro do setor. Certamente a conversa girará em torno dos desconhecidos efeitos e reações que o pé de café terá na florada. Os detalhes eu mencionarei no próximo comentário, que provavelmente será escrito quando eu estiver voando de volta para New York.