O mercado financeiro brasileiro vem aumentando a percepção concreta de que, no contexto atual de taxa cambial desequilibrada na origem da crise por indução clara do governo na busca da estratégia “cambio alto juro baixo”, o BC com os instrumentos que dispõe não tem condições de efetiva intervenção na busca de “corrigir o equívoco” que agora parece consolidado, já que em momento algum deu clareza ao conceito do que seja “câmbio alto”.
O anseio de “câmbio alto” como estratégia de dinamização da atividade econômica, contornando os problemas que assolam o país e impossíveis de superação imediata, posto de forma genérica acabou por estimular movimento fortemente especulativo, que no seu auge foi impulsionado e solidificado pelos impactos da crise do coronavírus que assolou a economia mundial, e, naturalmente, a do Brasil.
A taxa cambial predominante no Brasil tem na realidade 3 estágios na formação do seu preço atual, sendo o primeiro o preço que seria o de equilíbrio na origem algo entre R$ 3,80/R$ 4,00, que fechou o ano de 2019 em R$ 4,01; o segundo fruto do estímulo do dogma estratégico do governo com a pregação do “dólar alto” na marra que o elevou com a ajuda da especulação instalada no mercado futuro de dólares no entorno de R$ 4,50 e a partir de então pressionado pelos maus agouros do coronavírus ficou à mercê do comportamento do dólar no mercado internacional.
Só que a construção deste cenário cabalístico em torno da taxa cambial dada as circunstâncias presentes acabou sucumbindo a tese de que seja o “novo câmbio” no Brasil, de forma irreversível.
Ao BC, como temos dito, restou a ação profilática de suprir com oferta as necessidades do mercado à vista e prover de socorro imperativo as necessidades de liquidez dos bancos em suas linhas externas, retomando a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra e de leilão de compra de títulos soberanos nominados em moeda estrangeira das carteiras das instituições financeiras nacionais com compromisso de revenda.
É o que restou, o mais seria “gastar chumbo grosso sem alcançar o objetivo”, o BC vem cumprindo a manutenção da liquidez do mercado à vista e a liquidez externa dos bancos autorizados a operar em câmbio que tem carregado relevante volume de “posições vendidas” em grande parte financiadas por instituições externas, e que agora, face ao aviltamento do CDS brasileiro que praticamente triplicou em um mês podem estar sentindo pressão seletiva dos bancos estrangeiros nas concessões de linhas de curto prazo e encarecimento das mesmas.
Na realidade um comportamento da taxa cambial menos volátil seria de toda conveniência para os negócios no mercado externo, mas, pelo menos no nosso entendimento, não há no momento possibilidade de atuação mais assertiva por parte da autoridade monetária.
O BC neste mês de março em que os bancos iniciaram com posições vendidas de US$ 38,9 Bi dispondo de tão somente US$ 9,0 Bi de linhas de financiamento em moeda estrangeira concedidas pelo BC, tem mantido suas intervenções, e contabiliza até o dia 20 fluxo cambial negativo de US$ 3,8 Bi, o que elevaria o montante de posições vendidas dos bancos para US$ 43,0 Bi, não fosse a oferta próxima de US$ 10,0 Bi no mercado à vista e mais um suporte adicional em torno de US$ 10,0 Bi em linhas de financiamentos em moeda estrangeiras que permitiu aos bancos a troca do agente financiador externo pelo BC, além do leilão de compra de títulos soberanos em torno de US$ 3,0 Bi com a mesma finalidade e que suplementará com novo leilão amanhã.
Os números podem ter discretas discrepâncias por serem divulgados pela autoridade tardiamente, mas não devem estar muito distantes disto, e reproduzem a atividade da autoridade na ação profilática de prover liquidez no mercado à vista de câmbio e na liquidez externa dos bancos ancorada em linhas de financiamento.
A rigor, é tudo que a autoridade, no nosso entendimento, pode fazer neste momento, não podendo ou não dispondo de efetivas condições de atuar para restabelecer parâmetros de normalidade e estabilidade na formação da taxa cambial.
Entendemos que não há condições de realizar intervenções mais assertivas no mercado de câmbio, neste momento, já que o erro estratégico foi incorporado no preço de forma irredutível.