A reunião do FED americano, nos próximos dias 17 e 18 deste mês, poderá determinar o inicio do “tapering” do “QE3”, percepção que tem se acentuado desde que na semana passada números da economia americana evidenciaram recuperação da dinâmica da atividade, com destaque para o PIB e, em especial, para os dados da geração de emprego e queda expressiva para 7% da taxa de desemprego, o que repercute na renda/consumo que é a “força motriz” do PIB americano.
A fala de três representantes de FED´s regionais na segunda-feira veio na linha de possível decisão já nesta próxima reunião do FOMC, o que faria boa a manifestação ocorrida a já algum tempo pelo atual Presidente do FED, Ben Bernanke, e que parecia descartada para este ano.
O mercado americano convive com ambiente otimista face à evidente recuperação econômica do país, contudo mesmo assim não deixa de atenuar o momento eufórico para adotar comportamento mais cautelar, por isso houve realização de lucros ontem.
Mas no fundo o mercado americano já não revela tanta preocupação com o “tapering” por entender que a recuperação econômica do país impulsionará os negócios e atrairá também investidores estrangeiros e até o retorno dos nacionais que haviam ido buscar oportunidades no exterior, quando ocorreu a fragilização da atividade econômica.
Para os emergentes a sinalização do possível início do “tapering” sugere saída de recursos estrangeiros como reação à queda de liquidez internacional ou até mesmo para o mercado americano que passa a evidenciar rol relevante de oportunidades atraentes e risco consideravelmente melhor.
Porém, entre os emergentes há uns que estão mais vulneráveis do que outros, por isso uns poderão ter saídas de recursos mais intensas.
O Brasil, incluso no rol de emergentes, tende a perder com saídas de recursos estrangeiros aqui aplicados motivados pelo “tapering”, e sem fatores de atratividade atenuantes compensatórios como os que estão presentes nos Estados Unidos tem baixa capacidade de retenção destes recursos.
O grau de atratividade dos emergentes atualmente é bastante díspar. O México em razão do petróleo tem perspectivas de recebimentos de substantivos investimentos a partir de 2014. Outros emergentes como Colômbia, Chile e Peru também são fortes concorrentes aos investimentos externos no próximo ano, transparecendo terem se organizado melhor e oferecerem oportunidades interessantes de retorno aos investidores. Hoje concorrem com o Brasil na catalisação do interesse dos investidores, e 2013 deixou evidente que o Brasil tem perdido participação relativa nos investimentos para a América Latina.
O Brasil está sem “tração” para o crescimento sustentável, carente de investimentos e a propensão do empresariado neste sentido vem se revelando baixa, e o governo ainda teimosamente busca estimular o consumo ancorado em crédito, modelo já superado.
A atratividade que o Brasil detém atualmente perante os investidores estrangeiros advém do processo de privatizações para recuperação da caótica infraestrutura do país, que contudo precisa ter estimulada a participação do capital estrangeiro.
O Brasil tem sérios problemas de resultados e de gestão da politica fiscal valendo-se de métodos nem sempre bem aceitos e que provocam desgastes não desprezíveis, e 2014 será um ano eleitoral, o que dificulta ainda mais a aplicação dos ajustes e correções absolutamente necessárias.
Então, como já salientamos as ações de impacto de que dispunha o BC, seja o anúncio da continuidade da oferta de liquidez aos mercados de câmbio à vista e futuro, seja o inicio precoce da rolagem da posição de US$ 9,9 Bi de “swaps cambiais” vincendos em 2 de janeiro de 2014, já foram adotadas.
Estas ações causaram efeito pontual que agora já se fragilizam, havendo portanto doravante efetiva tendência de ocorrência da reversão das altas na Bovespa e reversão no comportamento do preço do dólar, que assim retomaria o alinhamento de alta do preço.
Embora o Brasil alegue sempre dispor de US$ 380,0 Bi como reservas cambiais, este fato em sí não exime o real da sua vulnerabilidade ante um cenário adverso de fluxos líquidos para o país decorrente da sua perda de atratividade.
Descontroles na politica fiscal podem ser determinantes para a queda da nota de crédito brasileira, fato já sinalizado por algumas agências de “rating”, ainda ontem novamente mencionado pela S&P, e que, certamente, provocaria como consequência natural saída de recursos estrangeiros do país.
Embora nossa linha de raciocínio possa parecer negativista, acreditamos que seja realista, visto que a percepção de fragilização da moeda pode além da saída de recursos suscitar movimentos especulativos sobre a mesma.
O BC não dispõe de um “arsenal” de grande porte para conter eventual apreciação da moeda americana a partir da continuidade da insuficiência de fluxos líquidos de recursos estrangeiros, e, como já tivemos oportunidade de salientar, entendemos que intervenções devem ser breves e pontuais, quando se tornam longas e programáticas sancionam a existência de um problema mais sério e isto pode provocar dois efeitos ruins para o país, quais sejam a saída de recursos do país e o desestimulo a novos ingressos.
O BC tem enfatizado o programa de oferta de liquidez diária, que foi positivo para coibir aumento da demanda de hedge e movimentos especulativos que já se armavam em agosto e assim cumpriu seu objetivo.
A continuidade naturalmente ocorre por falta de outra opção ante a vulnerabilidade da moeda nacional face à fragilização de fluxos de recursos externos líquidos suficientes, e embora não haja outra forma de evitar uma alta forte do preço do dólar no nosso mercado, a longevidade do programa consagrará a atipicidade da intervenção que acaba por tornar irreal a formação do preço do dólar no nosso mercado.
A rigor, o que pode sugerir ser tranquilizador pode fomentar movimentos especulativos sobre o real, e isto seria perturbador na visão dos investidores estrangeiros.
Este é o ponto que não há como formar-se juízo antecipado a respeito, cabendo observar mais como reagirá o investidor estrangeiro, qual seja até que ponto o volume e a continuidade da intervenção da autoridade monetária com a oferta de proteção de preço ao mercado tranquilizará ou inquietará os investidores.
Semana que vem o BC dará os detalhes dos ajustes no programa de oferta de liquidez em 2014, provavelmente após a reunião do FED, mas tudo leva a crer que os volumes diários deverão ser definidos a partir do monitoramento do comportamento do mercado de câmbio e não com números pré-estabelecidos como ocorre atualmente.
No nosso entendimento é preciso ficar atento, o preço do real deve mudar de rota dado o esgotamento do efeito pontual dos anúncios feitos pelo BC e retomar a depreciação, com a consequente valorização do preço da moeda americana, compatível com o contexto atual do Brasil.