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China redefine a demanda de petróleo: Transição energética e impactos globais

Publicado 09.11.2024, 11:00
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A demanda energética global passa por um período de transição e incertezas, impulsionada pela rápida adoção de tecnologias renováveis e veículos elétricos. Recentemente, o mercado petrolífero testemunhou oscilações nos preços e revisões nas previsões de longo prazo. De um lado, vemos o aumento da oferta de petróleo, com os Estados Unidos e outros grandes produtores expandindo sua capacidade. Por outro, há uma desaceleração na demanda impulsionada por fatores como maior eficiência energética e mudanças estruturais em grandes economias. O contexto atual está criando desafios para empresas como BP, Shell (NYSE:SHEL) e ExxonMobil (NYSE:XOM), que apostam em novos campos de petróleo, mesmo diante de previsões de uma possível estagnação da demanda.

O Papel da China na Demanda de Petróleo

Nos últimos 15 anos, a China foi um dos maiores motores da demanda global por petróleo, em grande parte devido ao aumento da sua classe média e à explosão nas vendas de veículos movidos a combustíveis fósseis. Entretanto, as mudanças econômicas e tecnológicas estão alterando esse cenário. Segundo o International Energy Agency (IEA), a demanda chinesa por petróleo está em um ponto de inflexão. Em 2023, o país registrou um crescimento acentuado na venda de veículos elétricos, que já representam 20% dos carros vendidos globalmente. Esse número pode chegar a 50% até 2030, indicando um futuro em que a demanda por combustíveis fósseis no maior mercado automotivo do mundo será significativamente reduzida.

Além dos veículos elétricos, a China está investindo em transporte ferroviário de alta velocidade e em veículos pesados movidos a gás natural liquefeito (GNL), reduzindo ainda mais sua dependência de petróleo. A alta competitividade dos preços dos carros elétricos no país também impulsiona essa transição. Como resultado, a previsão da IEA é que o consumo chinês de petróleo atinja seu pico até o final desta década, o que coloca em risco novos investimentos em campos de petróleo de custo elevado.

O Contexto Europeu e as Disputas Comerciais

A Europa, por sua vez, está em um delicado equilíbrio entre a proteção de suas indústrias e o risco de disputas comerciais. Recentemente, a União Europeia anunciou a imposição de tarifas de até 45% sobre veículos elétricos importados da China, alegando práticas de subsídios injustos. Essa medida visa proteger a competitividade dos fabricantes locais em um momento de transição energética, mas gerou reações adversas de empresas chinesas e uma retaliação comercial. Em resposta, a China iniciou investigações anti-dumping sobre importações de produtos europeus, como brandy e carne suína, afetando diretamente grandes exportadores como Espanha, França, Países Baixos e Dinamarca. Essa disputa traz preocupações para membros da UE, como a Alemanha, que teme uma escalada nas tensões comerciais e o impacto na sua indústria automobilística.

Os Estados Unidos e o Aumento da Capacidade de Produção

Os Estados Unidos desempenham um papel crucial no cenário energético global, liderando a expansão da capacidade de produção de petróleo. Desde 2019, a participação de gás natural na geração de energia elétrica nos EUA subiu de 38% para 43%, impulsionada por um aumento de 20% na produção de eletricidade a partir do gás nos primeiros nove meses de 2024. Esse aumento responde ao crescimento da demanda por eletricidade, especialmente para a operação e refrigeração de centros de dados impulsionados pelo boom de inteligência artificial. As empresas norte-americanas de geração de energia anunciaram planos para adicionar novos projetos de capacidade de gás natural, refletindo uma estratégia para atender à demanda crescente e equilibrar as flutuações nos preços de energia.

Apesar de os EUA estarem focados em tornar sua rede elétrica livre de carbono até 2035, o uso intensivo de gás natural pode comprometer essa meta, enquanto o crescimento das energias renováveis ainda enfrenta desafios de integração e estabilidade da rede. A expansão de projetos e a manutenção de uma alta capacidade de produção evidenciam o papel estratégico dos EUA na oferta global de petróleo e gás.

O Brasil no Cenário Energético

O Brasil desempenha um papel importante na produção de petróleo, sendo um dos principais países fora da OPEC+ a expandir sua capacidade. De acordo com o último relatório do IEA, o país deve contribuir com cerca de 2,7 milhões de barris por dia em crescimento de capacidade até 2030, junto com Argentina, Canadá e outros. No entanto, o mercado brasileiro também enfrenta desafios à medida que as tendências globais se afastam do consumo intensivo de combustíveis fósseis.

Internamente, o Brasil vem explorando alternativas para ampliar sua matriz energética, como biocombustíveis e a expansão de sua capacidade de refino para atender à demanda interna. Contudo, a dependência de importações de óleo leve e o alto custo de novas descobertas no pré-sal são pontos que geram incertezas no longo prazo. As flutuações nos preços internacionais e a crescente competitividade de energias renováveis podem, eventualmente, pressionar a indústria local a reavaliar seus investimentos.

Perspectivas Futuras

Em um mundo onde as previsões da IEA indicam que a demanda por petróleo pode alcançar seu pico até 2030, as economias que historicamente impulsionaram esse crescimento, como a China, estão reestruturando suas estratégias. Com a transição para veículos elétricos e a aposta em novas matrizes energéticas, a China lidera um movimento que pode redefinir o mercado energético global. Países como o Brasil, por sua vez, precisam equilibrar suas metas de crescimento com as incertezas do mercado e as mudanças nas políticas globais de energia.

O contexto atual oferece oportunidades para diversificação e inovação, mas exige atenção às mudanças de demanda, que podem transformar investimentos em ativos obsoletos. A dependência do petróleo continua sendo um tema central na geopolítica e nas estratégias empresariais, mas a crescente transição energética redefine progressivamente esse cenário.

Referências

- International Energy Agency (IEA), "Oil 2024 Report"

- Notícias da Reuters, Bloomberg, Sierra Club e Ember.

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