Não era assim que os investidores de ações esperavam que 2018 terminasse. Ao longo do ano, os lucros corporativos foram fortes, a economia esteve em alta, e havia a expectativa de que os cortes tributários do presidente dos EUA, Donald Trump, repercutissem na economia, ajudando tantos os consumidores quanto as empresas a gastarem mais.
Mas, ao entrarmos na última semana de 2018, o cenário tem se mostrado muito feio. Nos últimos três meses, o medo e a incerteza tomaram conta dos investidores, desencadeando uma intensa queda que reduziu o valor das ações globais em US$ 5 trilhões e “presenteou” os investidores com um incisivo pregão na véspera de Natal, o qual apresentou seu pior desempenho para esse dia na história do mercado.
A diferença desse declínio é que a estratégia de comprar nas correções, usada diversas vezes pelos investidores para retomar o ciclo de alta sem precedentes da última década, parece não estar mais em jogo. Algumas das ações com perspectiva de crescimento mais forte durante a alta, como a Apple (NASDAQ:AAPL), o Facebook (NASDAQ:FB) e o Google (NASDAQ:GOOGL), devem terminar o ano no vermelho.
O revés para as gigantes das redes sociais: Facebook, Google e Twitter (NYSE:TWTR), foi particularmente intenso. Essas empresas foram prejudicadas pelo medo dos investidores de que houvesse investigações e regulamentações por parte do governo depois que suas plataformas foram usadas por adversários dos EUA, como a Rússia, para manipular a opinião pública e supostamente influenciar a eleição de 2016. Além disso, notícias de grandes violações de dados também geraram preocupações públicas com a viabilidade dessas companhias no longo prazo.
A Apple, fabricante do iPhone e do Mac, que se tornou a empresa mais valiosa do mundo por algum tempo durante o verão e início da primavera nos EUA, permaneceu imune aos problemas enfrentados pelas empresas das redes sociais. Mas, no último trimestre, ela sucumbiu às pressões geradas pela piora do ambiente macro, na media em que os investidores temiam o fim do superciclo do iPhone, o que enfraqueceria as vendas futuras caso o crescimento mundial viesse a desacelerar e a guerra comercial entre China e EUA piorasse.
No espaço tecnológico, as fabricantes de chips, que foram beneficiadas pelo frenesi dos consumidores por smartphones e videogames, bem como pela alta demanda das empresas de inteligências artificial e mineradores de criptomoedas, viram seus papéis serem dizimados ao primeiro sinal de que o pico de demanda já era coisa do passado.
Fabricantes de chips, as grandes perdedoras
A Nvidia (NASDAQ:NVDA), uma das maiores fabricantes de chips do mundo e queridinha de Wall Street por vários anos, sofreu uma das reversões mais dramáticas. A empresa viu sua capitalização de mercado disparar de apenas US$ 14 bilhões, em 2016, para mais de US$ 175 bilhões em setembro de 2018. Desde então, o preço das suas ações sofreu um duro golpe, com uma queda de 54% atualmente, fazendo com que tivesse o pior desempenho no S&P 500 durante o período.
As principais ações de energia do país também devolveram a maior parte dos seus ganhos, depois da rápida reversão do rali que levou o Brent, referência mundial do petróleo, para cima de US$ 86 por barril. Sinais de que havia um excesso de oferta no mercado, em um momento de desaceleração do crescimento mundial, pesaram sobre a commodity.
Temores de uma recessão também ajudaram a fazer com que o sentimento dos investidores se voltasse contra algumas das ações de energia que ainda estão fortes e continuam gerando excelentes fluxos de caixa, graças ao controle de gastos e à maior eficiência de produção. A ExxonMobil (NYSE:XOM) e a Chevron (NYSE:CVX), duas maiores produtoras de energias integradas, estão terminando o ano com perdas de quase 25%.
Nesta tempestade de mercado, entretanto, nem todos saíram perdendo. Com o pico de volatilidade e a piora do ambiente macro, os investidores recorreram a ações que geralmente oferecem segurança e renda. Os papéis de empresas prestadoras de serviços públicos, de saúde e de produtos de consumo não discricionário enfrentaram essa tempestade em condições muito melhores do que a maioria das ações de crescimento.
Tanto a Procter & Gamble (NYSE:PG), fabricante multinacional de produtos básicos de consumo, quanto a Merck (NYSE:NYSE:MRK), prestadora mundial de serviços de saúde, subiram mais de 15% nos últimos seis meses, enquanto o S&P 500 caiu cerca de 20% no mesmo período.
Até o momento, os principais varejistas com lojas físicas nos EUA, como Walmart (NYSE:WMT) e a gigante do comércio eletrônico Amazon (NASDAQ:AMZN), também não conseguiram sustentar seus ralis, apesar dos fortes gastos dos consumidores, que ajudaram a fazer com que seu crescimento ficasse repetidamente acima das estimativas dos analistas.
As ações da Amazon, que chegaram a subir 70% no ano, despencaram agora 34% em relação àquele patamar. O papel pode facilmente terminar 2018 com ganhos um pouco abaixo de dois dígitos.
Resumo
É difícil apontar apenas um culpado pelo atual baixo desempenho das ações em 2018. Talvez o maior catalisador que fez com que os investidores saíssem do mercado, empurrando-o para o território baixista, tenha sido a piora do ambiente macro.
Isso inclui a guerra comercial entre EUA e China, que ameaça frear o crescimento global; a política mais rígida do Fed, que declarou que vai continuar firme em seu aperto monetário; e o presidente Trump que, através dos seus movimentos agressivos, geralmente comunicados via Twitter, deixou os investidores receosos e inseguros quanto ao futuro.