Após o petróleo ter acumulado uma perda de 16% de julho a setembro, em outubro, as commodities energéticas têm apresentado uma recuperação devido ao aumento das tensões no Oriente Médio. Nesse contexto, os custos energéticos tendem a ficar mais altos, o que pode impactar a inflação, prejudicar a confiança dos consumidores e afetar a economia mundial. Não é à toa que o conflito tem aumentado a aversão ao risco nas últimas semanas.
Se, por um lado, não se materializou um dano permanente à infraestrutura da região, quando existem ameaças de retaliação e mísseis sobrevoando alguns dos principais produtores e exportadores de petróleo e gás natural do mundo, é esperado que a volatilidade seja incorporada aos futuros das commodities energéticas.
O prêmio de risco vindo do Oriente Médio tem sido importante para dar suporte aos preços das commodities energéticas, especialmente o petróleo. Em um cenário de grande incerteza, podemos vislumbrar três possíveis escaladas no conflito que irão ditar o comportamento dos futuros do complexo energético.
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No primeiro cenário, teríamos a continuidade da volatilidade observada, com os preços do petróleo flutuando entre 72 e 82 dólares por barril, mas sem nenhum dano significativo à comercialização de petróleo na região. Rápidas apreciações nos contratos futuros energéticos podem resultar em fortes correções no mercado.
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O segundo seria a interrupção do suprimento de petróleo iraniano ao mercado, seja por meio de sanções mais rígidas ao regime iraniano, algum ataque à produção do país ou pela interrupção do suprimento dos seus portos. Aqui, teríamos um forte fundamento altista que resultaria na elevação do barril de petróleo para 100 dólares ou mais. No entanto, no médio prazo, essa força altista seria limitada pela enorme capacidade ociosa da OPEP (aproximadamente 6 milhões de barris), que poderia ser ativada rapidamente para suprir o mercado.
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O terceiro, embora pouco provável, representaria um cenário devastador para a macroeconomia global: uma retaliação do Irã contra países produtores da região, resultando, por exemplo, no bloqueio do estreito de Hormuz, por onde transitam cerca de 21% das commodities energéticas. A expansão do conflito para outras nações poderia elevar o preço do petróleo acima de 150 dólares, com o risco de empurrar o mundo para uma recessão, agravada por pressões inflacionárias.
Uma vez comentados os principais riscos de alta no mercado, que precisam ser geridos com atenção, é importante compreender que existem fundamentos de baixa ganhando força. A China, com uma forte desaceleração no setor imobiliário, tem afetado o consumo de petróleo e reduzido suas importações quando comparadas com 2023. Mesmo a implementação de estímulos econômicos, ainda que bem-vinda, pode não resultar no aumento do consumo de combustíveis. O enfraquecimento do dólar, crucial para impulsionar a demanda por commodities negociadas em dólar, não será linear, com os dados do mercado de trabalho e a inflação nos EUA aumentando as apostas por um corte de juros menos dovish em novembro. Por fim, há cada vez mais sinais de uma difícil cooperação entre os países membros da OPEP+, o que pode resultar em um aumento na produção, especialmente da Arábia Saudita, que pode querer recuperar a participação de mercado perdida nos últimos meses.
O recente rali do setor energético poderá ser limitado à medida que houver um distensionamento do conflito e o mercado passe a precificar com mais intensidade os fundamentos baixistas. A eleição americana poderá ser um ponto de inflexão, e a partir de novembro poderemos começar a ter mais clareza sobre as mudanças no setor e o reequilíbrio de forças na geopolítica internacional.
Nota do Autor:
É importante ressaltar que, independentemente da direção do mercado, precisamos lembrar que muitas vidas foram perdidas durante o conflito e outras ainda poderão se perder. Portanto, todo o nosso respeito às famílias e nossas orações para que o melhor e mais rápido desfecho ocorra na região.