Segundo publicação de notícias no site da B3 (BVMF:B3SA3) em 4 fevereiro de 2022*¹, a bolsa atingiu a marca de 5 milhões de contas investindo em renda variável. Houve um aumento de 994%, 109% e 30% no número de CPFs investindo em BDRs, ETFs e Ações, respectivamente. Aumento expressivo! O aspecto positivo dessa noticia é que são mais pessoas atuando no mercado financeiro; o aspecto negativo é a falta de preparo e conhecimento da maior parte. Infelizmente, a grande maioria pensa que para lançar-se como investidor ou trader basta ter dinheiro. Alguns chegam a pensar que a quantidade de recursos financeiro disponível é proporcional a chance de sucesso. Para refutar esta crença, podemos pensar em inúmeras pessoas que constroem grandes impérios com recursos financeiros escassos. A exemplo disso, a ONU realizou um estudo para identificar as razões que fazem alguns terem sucesso como empreendedores enquanto que outros quebram e fracassam. Chegaram à conclusão de que o comportamento é determinante no resultado entre sucesso ou fracasso. Logo, propuseram, naquele estudo, 10 características de comportamentos que deveriam ser desenvolvidos para ser um empreendedor de sucesso. *²
Para atuar no mercado financeiro são exigidas habilidades especificas, assim como em qualquer outra profissão: técnicas, operacionais e emocionais. Durante estes mais de 10 anos estudando, trabalhando e observando o comportamento de traders e investidores, percebo que é pouco comum aqueles que chegam ao mercado financeiro ciente dessa condição inegociável. Desconsiderar a necessidade e o peso destes três fatores para ter sucesso nos negócios pode levar traders e investidores a atribuir o fracasso nas negociações como algo pessoal. A ausência de resultados esperados pode gerar enfraquecimento emocional, devido ao mau gerenciamento das frustrações. Muitas vezes, esse processo é representado por insegurança, impacto negativo na autoestima, estresse e, consequentemente, ansiedade.
O conhecimento técnico diz respeito a escolha, estudo e aperfeiçoamento em uma estratégia de negociação. E isso é tão amplo e complexo que, muitas vezes, se manifesta na dificuldade que o negociador tem em escolher uma única estratégia, para começar a construir o mínimo de conhecimento necessário, antes de colocar seu dinheiro no mercado. A habilidade técnica é de derradeira importância, no entanto, é importante também compreender que a mesma produz aprendizado subjetivo, ou seja, varia de indivíduo para indivíduo o tempo no processo de aprendizado. Ignorar este princípio pode inibir a autoconfiança daqueles que estão iniciando no mercado porque, ao desconsiderar este fato, muitos começam estudar uma estratégia e, sem esperar o tempo necessário para maturação do conhecimento (testagem, treinamento e validação), a abandonam, atribuindo os resultados negativos à ineficiência da estratégia - o que raramente é verdade. O que implica em mudar, consecutivamente, de estratégia sem obter êxito. O gerenciamento de risco também está atrelado ao conhecimento técnico. Nas raras vezes em que é utilizado pelo negociador, está baseado no senso comum e não em fundamentos. Procedendo em frequentes stops com alavancagem excessiva, ganhos pequenos e perdas grandes, valores altos nas taxas de negociações, entre outros. As emoções decorrentes de um mau gerenciamento de risco são personificadas*³ em medo, em hesitação nas entradas, em ansiedade e em saídas antes dos alvos.
O conhecimento operacional diz respeito ao bom manuseio da ferramenta que o negociador utiliza para fazer suas operações. Se bem que, entrar vendido quando se queria comprar, pode não ser considerado, muitas vezes, um erro operacional e sim, emocional. E é ele que vamos considerar agora, as habilidades emocionais.
Acredita-se que mais de 90% do sucesso no trade deva-se ao autocontrole, a como lidamos com os vieses, a tomada de decisões e a como administramos os sentimentos disfuncionais. Influenciada ou não pela minha profissão, eu concordo! Nossa bagagem mental pode impedir nosso sucesso no mercado. Agimos no mercado financeiro, como agimos na nossa vida. Nossas crenças geram pensamentos que, por conseguinte, liberam emoções que podem ser funcionais ou não. As atitudes que tomamos, na maioria das vezes, são geradas com base nestas emoções e não na realidade dos fatos. Por exemplo, tive um aluno que estava treinando em simulador há mais de 2 anos, e não conseguia abrir ordem em conta real. Devido a bagagem emocional que trazia consigo, alimentava a crença de que não podia fracassar em hipótese alguma. Sua trajetória espelhava isso: vida cheia de conquistas e muito orgulho delas, além da própria presunção para com os relacionamentos. Fato que coincidia com a intolerância dos pais aos seus erros quando criança. Descobrimos que ele atribuía ao stop loss o “poder” de criticar e apontar sua incapacidade pessoal e a impotência em não poder manipular a situação. Sendo assim, um dia de perda no trade era carregado de pesadas e fortes emoções que lhe eram insuportáveis. Emoções que, segundo ele, eram as mesmas de quando se sentia julgado, criticado ou quando não obtinha o controle da situação, fazendo com que experimentasse sensação de incompetente e fracassado.
Certamente, muitos já nos alertaram sobre nossas atitudes pouco funcionais, seja nos relacionamentos ou no trabalho. Geralmente, damos atenção apenas a queixas vindas de pessoas que exercem certa influência sobre nós. Involuntariamente, ouvimos apenas o que temos condições de suportar, no momento. Aquilo que não estamos preparados para compreender caem na gaveta do “...não concordo” ou “...não faz sentido”. No entanto, este mesmo padrão de comportamento nos acompanha nas decisões no mercado. A diferença é que aqui perde-se dinheiro. E de acordo com minha experiência, muito dinheiro. Já passaram por mim uma série de traders que obtiveram sucesso em diversas empreitadas de suas vidas, tornando-se profissionais ou empresários bem-sucedidos que, inconformados, lutam com inimigo invisível e desconhecido para conseguir tomar decisões mais assertivas no mercado. Tudo se transforma quando descobrem ou reconhecem quem é o inimigo e com quem devem lutar. Podemos conceituar isso de autoconhecimento.
O autoconhecimento é fundamental para atuar no mercado financeiro. Ele permite objetivos claros e bem definidos; autocontrole nas negociações; gerenciamento adequado das emoções como medo, ganância, ansiedade e frustração; compreender a própria relação com o dinheiro. Além, é claro, de contribuir para a autoconfiança e qualidade de vida.
Em suma, não é o grau ou o nível intelectual que determinará o sucesso no mercado financeiro, tampouco a quantidade de recursos financeiros que podemos investir, mas sim o desenvolvimento de um conjunto de habilidades que podem ser aprendidas. Essa é a boa notícia, as habilidades emocionais, assim como as técnicas e operacionais, podem ser aprendidas. Notícia ótima para os milhões de novos investidores. Como sugestão, inicie criando o hábito de realizar um diário de emoções no trade – anote nele as razões que o levou a entrar e sair de negociações, bem como os pensamentos, sentimentos e intenções. Isso lhe permitirá identificar um padrão de atitudes vencedoras e atitudes que merecem atenção por resultar em trades fracassados.
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