No último dia 12, a rede Ethereum passou pela atualização “Shapella”, apelido originado a partir da mistura entre os termos “Shanghai” e “Capella”, que representam, respectivamente, as atualizações da camada de consenso e da camada de execução da rede. O importante é entender que estamos falando do fork que foi responsável por destravar os ethers (ETH) que estavam bloqueados em stake até então.
Parte dos investidores estava extremamente receosa de que a liberação pudesse gerar um despejo de ETH no mercado, afetando fortemente o preço de tela do ativo. No entanto, como há um cronograma de saques pré-definido, há também uma diluição desses impactos. Fizemos uma análise prévia sobre isso por aqui.
Agora, duas semanas após a Shapella acontecer, viemos analisar qual o estado atual da Ethereum em relação aos aspectos que envolvem o tema. Inicialmente, quando olhamos para o Net Staking Balance, que mede a relação entre a quantidade de saques e depósitos de ETH, notamos um comportamento bastante interessante e controverso.
Quem está ganhando: número de depósitos ou de saques?
O primeiro ponto é bastante polêmico. De acordo com os dados da Coinmetrics e da Token Unlocks, o Net Staking Balance está negativo, evidenciando que há mais saques do que novos depósitos. De acordo com a segunda plataforma citada, ao observarmos os dados desde a atualização em 12 de abril, o saldo é de -459.45K ETH (gráfico abaixo à direita). Nas últimas 24 horas, saldo de -157.38k ETH.
No entanto, os dados da Nansen (gráfico abaixo), em conjunto com o painel da Dune Analytics do usuário @hildobby_, mostram exatamente o contrário, fornecendo a percepção de que há estavelmente mais ETH entrando (“depósitos”) do que saindo nos últimos dias, com picos mais fortes de retirada esporadicamente. Nas últimas 24 horas, por exemplo, 28,732 ETH teriam sido sacados contra 112,162 depositados, conflitando com os dados anteriores.
Em suma, a leitura não é tão clara sobre o momento atual, e os dados das plataformas divergem. O que pode explicar essa diferença nas métricas é a forma como os números estão sendo contabilizados.
Os gráficos da Nansen e da Dune parecem considerar como “ETH bloqueados” todos aqueles que estão fora de circulação, o que inclui os ETH apostados na Beacon Chain, os ETH depositados na Beacon Chain mas ainda não ativados e também as recompensas do contrato da Beacon Chain. Já quanto ao gráfico da Coinmetrics e da Token Unlocks, não fica claro se a metodologia empregada é a mesma. Isso explicaria os maiores “inflows” computados no primeiro caso. Assim, os saques estariam perdendo para os depósitos.
De qualquer forma, vamos ao que há de sólido e de consenso entre todas as plataformas:
Saques totais ou saques parciais? Quem está liderando?
O mais interessante é notar qual o perfil desses saques que vem sendo feitos. Antes de tudo, precisamos esclarecer que existem dois tipos de saques possíveis:
Saques parciais: São aqueles saques somente dos saldos que ultrapassarem os 32 ETH apostados para validação. Ou seja, nessa modalidade, estamos falando do saque dos ETH recebidos como recompensa pelo staking.
Saques totais: Nesse caso, o validador saca todo seu saldo de 32 ETH acrescido das recompensas recebidas pelo processo, deixando de fazer parte da validação por completo.
Dito isso, o que vimos nos primeiros dias após a atualização foi a predominância de quase 95% de saques parciais (gráfico à esquerda), ou seja, apenas dos ETH recebidos como recompensa da validação. Agora, no entanto, essa tendência se inverteu à medida que os saques totais estão sendo processados, dominando os últimos dias (gráfico à direita):
Filas de espera: o que nos dizem? Protocolos de Liquid Staking podem se beneficiar?
Como citamos, existem limites para a quantia de Ethers (ETH) que pode ser sacado por dia, motivo pelo qual as retiradas possuem filas de espera. Nos primeiros dias após a atualização, a Kraken liderava essa fila, sendo responsável por 62.8% dos ETH aguardando para serem sacados.
Muito disso, claro, em função da pressão regulatória feita pela “Securities and Exchange Commission” (SEC) dos Estados Unidos no início deste ano, forçando a corretora a deixar de oferecer seu produto de staking. Não à toa, a exchange norte-americana segue até agora em primeiro lugar como a entidade que mais sacou ethers (ETH).
Passado esse primeiro momento e observando os saques futuros, no entanto, o que notamos agora é a liderança de corretoras centralizadas nas primeiras posições. A Binance aparece em primeiro lugar (30%), seguida pela Coinbase (NASDAQ:COIN) (15.4%) em segundo.
E o destino desses ETH pode ser justamente as plataformas de Liquid Staking. Vale lembrar que, antes da atualização da Ethereum, manter os ativos indefinidamente travados em stake e sem qualquer previsão de resgate era um fator extremamente repelente para a entrada de novos players. Não à toa, o “staking ratio” da Ethereum (aproximadamente 14.5%) era extremamente baixo comparado ao de outras plataformas Proof-of-Stake.
Esse fator, por si só, já fomentou o crescimento das plataformas de staking líquido, possibilitando que os usuários participassem da validação sem perder a liquidez. E isso vem se refletindo nos dados pós-Shapella. Não à toa, desde a atualização, a Lido Finance já figura em primeiro lugar como entidade que mais depositou novos ETH.
Outros insights relevantes
- Antes da atualização, destacamos que poucos validadores haviam cumprido o pré-requisito de atualizar seus endereços de saque para endereços “0x01”. Agora, 86,4% desses validadores já cumpriram o estabelecido, o que explica a intensificação dos saques recentes.
- O número de validadores subiu de 567.144 em 12 de abril para atuais 603.674, de acordo com a BeaconScan