Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
A esperança de uma recuperação no último trimestre de 2019 desapareceu com o relatório ISM não industrial. Os investidores não podem mais se deixar enganar, achando que os EUA podem escapar da desaceleração global. Depois de revelar que a atividade manufatureira havia se contraído ao seu ritmo mais acelerado em 10 anos nos EUA, o ISM registrou os dados mais fracos para o setor de serviços desde 2016 no país. As empresas americanas estão sentindo os efeitos da desaceleração da economia e da guerra comercial. Infelizmente, mesmo com os bancos centrais afrouxando a política monetária em todo o mundo, haverá um aprofundamento da desaceleração, por isso os investidores ficarão de olho em muito mais do que o relatório de empregos não agrícolas nesta sexta-feira, dando atenção também à reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) no final deste mês para uma possível ação.
Um número tão fraco quanto o ISM de quinta-feira deve afetar o dólar estadunidense, os rendimentos do Tesouro e as ações americanas em vários aspectos. Tivemos uma ideia disso na terça e na quarta-feira, quando as ações caíram mais de 800 pontos após a decepção com os dados da ADP e de manufatura. O dólar norte-americano também recuou, mas vimos uma venda mais restrita na quinta-feira, apesar da maior relevância do ISM não industrial. Tudo isso nos diz que os investidores estão se preparando para números fracos de emprego e têm quase certeza de que o Fed será forçado a reduzir as taxas de juros novamente neste ano.
Os futuros dos fundos federais estão precificando em 87% a chance de um corte no dia 30 de outubro e em 96% no dia 11 de dezembro. Essa perspectiva é muito mais agressiva do que talvez possa imaginar a maioria dos formuladores da política monetária. Quando o banco central norte-americano cortou os juros no dia 2 de setembro, dois membros votaram para que não houvesse alteração, ao passo que a maioria não esperava uma flexibilização maior neste ano. A questão agora é saber se os relatórios deste mês conseguirão mudar o ponto de vista de tantos membros. Embora a indústria já viesse dando sinais de desaceleração ao longo do ano, os serviços se mostraram fortes o bastante em agosto a ponto de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), dizer que esperava que a economia continuasse forte. Os investidores, por outro lado, derrubaram o dólar, na crença de que esses relatórios forçarão o banco central do país a flexibilizar sua política monetária pela terceira vez neste ano.
Quem pretende se posicionar na venda buscará uma validação pela folha de pagamento não agrícola e, apesar de economistas preverem um crescimento de empregos levemente maior, os investidores estão se preparando para mais um relatório decepcionante. Os argumentos favorecem dados fracos. A contratação no setor de serviços ficou estável, ao passo que a indústria cortou empregos ao ritmo mais rápido em 5 anos, de acordo com o ISM. A ADP também divulgou dados mais fracos na folha de pagamento privada, o que explica o colapso no índice de confiança do consumidor do Conference Board. A queda nas demissões registrada pela Challenger e a melhora na pesquisa da Universidade de Michigan não serão suficientes para compensar a deterioração em outros relatórios. A expectativa é que o aumento de salários também desacelere, e não ficaríamos surpresos se a taxas de desemprego aumentar.
A abertura de posição apostando em um relatório de empregos fraco pode trazer mais retornos, mas, em razão da volatilidade típica desse dado, a exposição deve ser limitada. Se o aumento da folha de pagamento for menor que 140K e o crescimento dos ganhos médios por hora trabalhada desacelerar para 0,2%, podemos ver um declínio mais duradouro no dólar, fazendo com que o par USD/JPY venha abaixo de 106. Entretanto, se houver qualquer aspecto nos números de emprego que possa levantar dúvida sobre mais uma rodada de flexibilização do Fed, o dólar pode subir forte. As ações, por outro lado, podem reagir favoravelmente a um número positivo ou negativo, se os investidores imediatamente acreditarem que uma flexibilização maior será necessária.
Principais indicadores para as folhas de pagamento não agrícolas
Argumentos a favor de um relatório mais forte
- Relatórios da Universidade de Michigan de confiança
- Queda nos pedidos de seguro-desemprego
- Queda de 24,8% nas demissões segundo relatórios da Challenger
Argumentos a favor de um relatório mais fraco
- O componente de emprego do Índice ISM Não Industrial caiu para a mínima de 5 anos
- Queda na Variação de Empregos da ADP de 157K para 135K
- Maior declínio no Índice de Confiança do Consumidor em 9 meses
- O componente de emprego do Índice ISM Industrial caiu para a mínima de 3 anos
- Redução na média de 4 semanas de pedidos de seguro-desemprego