Lembra daquele filme: “Quero ser John Malkovich”? Eu adorava. Achava o máximo essa ideia de entrar na cabeça de alguém.
Ficava imaginando como seria se eu pudesse saber exatamente o que aquela menina estava pensando...
Valorizo as ideias. Informação, dado, notícia... Isso existe aos montes - e aos excessos - por aí. Inventaram até um nome sofisticado agora: overload de informações. O problema é que a informação vale zero. Ideias e opiniões são coisa diferente.
Por isso, sem rodeios decidi externas algumas das coisas que estão na minha cabeça. Papo direto, sem muita formulação. Aquelas coisas que você pensa no banho ou, para fingir mais profundo e lembrar de Nietzche, durante uma caminhada e provam-se insights valiosos, sabe?
Vomitando aqui, uma por uma:
1 - Papo agora é de que o Banco Central poderia baixar a Selic na próxima reunião, estimulado pelo IPCA-15 ligeiramente abaixo das projeções e pela fraqueza da atividade econômica. Em se confirmando a tese, podemos separar o prêmio da invenção para nossa política monetária: o primeiro país do mundo onde supera-se o teto da meta de inflação em 12 meses e corta-se o juro básico.
2 - Olha, eu acho Lojas Renner uma ação cara em Bolsa. Mas haveria como ser diferente? Que capacidade de gerar resultados acima da média e das estimativas de consenso. Crescer vendas em mesmas lojas em 10% neste contexto é de tirar o chapéu.
3 - Você pode achar o momento ruim para incorporadoras. Eu discordo de você. Eu acho o momento péssimo. Agora, Helbor abaixo de R$ 6 é pra comprar. Não dá pra jogar o histórico inteiro fora, bons projetos, dividendos gordos à frente e valuation barato por conta de um tri. A companhia está na nossa série Vacas Leiteiras, daquelas ações boas, baratas e que pagam divi. Modéstia à parte, não costumamos errar nesta relação. A Carteira está voando.
4 - Como o Eduardo Giannetti é assustadoramente bom economista, meu Deus. #invejaboa
5 - “Por que você gosta tanto das NTN-Bs”? Ora, juro real gordo, com baixo risco de default. O sujeito compara LTN (prefixado) com NTNB (juro + IPCA) e tenta provar que a primeira é melhor, “porque haveria uma inflação implícita muita alta às atuais cotações da NTNB.” Precisa fazer a conta direito. Há o prêmio de risco de inflação na LTN - se a inflação disparar, você estará protegido na NTN-B, e não estará na LTN, tendo seu retorno real corroído. Esse risco exige mesmo mais retorno da LTN - e do jeito que as coisas vão, é um risco que eu não topo.
6 - “Ok, mas compro curtas ou longas.” Com essa política fiscal, precisa ser cabra muito macho para comprar as longas. Não tenho coragem. Sabe como é, sou um cara moderno, mente aberta... rsrsrs
7 - “Por que você não vai logo embora do Brasil?” Essa é a pergunta que eu mais tenho ouvido desde a minha tese envolvendo O Fim do Brasil. Numa boa, que coisa cafona. Achei que tínhamos superado essa coisa ufanista do Médici de ame-o ou deixe-o. Justamente por amar demais o meu país e enxergar possibilidades fabulosas não exploradas por conta da adoção de um caminho errado é que montei as críticas atuais. Sou um otimista, sempre fui. Agora, não posso negar meu dever fiduciário de falar o que penso. O pior cego é aquele que não quer ver: há um ajuste importante a ser feito, com consequências importantes para investimentos, oras.
8 - Queda do PIB está por ai, batendo na porta. No final de agosto, saem os dados do segundo trimestre e deve vir uma ligeira queda - projeto algo em torno de -0,2%. Antes, todo mundo enchia o saco porque Bolsa brasileira era proxy de commodity. Muito volátil, cíclico global, beta, imprevisível. Agora, Ibovespa tem mais economia brasileira e galera reza pra ter um pouquinho mais de commodity. #recessão
9 - Pensa comigo: déficit em conta corrente da ordem de 4% do PIB, déficit nominal, sem receitas extraordinárias, em torno de 4,5% do PIB, inflação na casa de 6,5% ao ano (e represada), PIB crescendo menos de 1%. Isso não combina com o dólar a R$ 2,22. Com yield do Treasury parando de cair, carry trade deixa de ser moleza. Resposta de mercado, num sistema de câmbio flutuante (mesmo aparentemente flutuante apenas), é a desvalorização do real. Não à toa, o dólar é uma das principais apostas da Carteira Empiricus. Vale a pena conhecer. Também está voando.
10 - O que fará a Bolsa brasileira subir? Sempre há espaço para os black swans, né? Os cisnes negros de Taleb. Fora isso, que por definição é algo imprevisível, só se voltar o tal rali eleitoral. Bolsas lá fora estão carésimas, lucros corporativos não crescem e não há espaço para re-rating a partir de eventual queda dos prêmios de risco. Só se voltar o tal rali eleitoral - e mesmo aqui dentro tem de saber escolher direitinho.
Bom, foi isso ai que eu pensei no banho hoje. Lembre-se: a menção a filmes aqui é para Quero ser John Malkovich; não me referi ao Beleza Americana.
Para visualizar o artigo completo visite o site da Empiricus Research.