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Dia D

Publicado 22.03.2018, 08:27
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Sobram motivos para aguçar o vaivém dos negócios, no Brasil e no exterior nesta quinta-feira. A começar pela reação dos mercados domésticos hoje à porta aberta deixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) para um novo corte na taxa básica de juros em maio, após renovar o piso histórico da Selic ontem, a 6,50%, que deve se embaralhar com a expectativa pelo julgamento (14h) no Supremo Tribunal Federal (STF) do pedido que pode evitar a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, turvando o cenário eleitoral deste ano.

Ao mesmo tempo, os investidores ainda ecoam o primeiro aumento nos juros norte-americanos sob o comando de Jerome Powell e a previsão de uma trajetória mais íngreme no processo de normalização da taxa em 2019 e em 2020. Isso sem falar na inesperada decisão do Banco Central da China (PBoC) de elevar em apenas 0,05 ponto, para 2,55%, a taxa de juros de curto prazo (7 dias), a fim de ajustar o fornecimento de caixa ao sistema financeiro, na esteira da decisão do Federal Reserve de aumentar a taxa de juros nos Estados Unidos (FFR) em 0,25 ponto, para a faixa entre 1,50% e 1,75%.

Lá fora, as bolsas da Ásia e da Europa abriram sem muita força, com os investidores assimilando as implicações do aumento do custo do empréstimo nos EUA e na China, em meio às tensões comerciais globais. As bolsas de Hong Kong e de Xangai registraram perdas, antes do presidente Donald Trump anunciar US$ 50 bilhões em tarifas maiores à importação de produtos chineses. Nas moedas, o dólar perde terreno para os rivais de países desenvolvidos - como o iene, o euro e a libra - ao passo que o juro projetado pelos títulos norte-americanos (Treasuries) recuam, após o Fed não sugerir que estaria inclinado a quatro apertos neste ano.

Porém, o BC dos EUA deixou nas entrelinhas do comunicado que acompanhou a decisão amplamente esperada a perspectiva de que o contexto econômico pode demandar ajustes mais intensos, diante da melhora na previsão de crescimento econômico do país e de robustez do mercado de trabalho. Ou seja, as tão preconizadas quatro altas na FFR não estão ainda no cenário-base da autoridade monetária, mas se houver uma resposta crível da inflação, diante da perspectiva de aceleração da atividade e de pleno emprego no país, tal indicação pode começar a fazer parte do plano de voo do Fed.

Na primeira entrevista coletiva à imprensa, o novo comandante do Fed, Jay Powell, adotou um tom ligeiramente mais duro ("hawkish") e começou falando que os preços ao consumidor estão se deslocando rumo à meta de 2%, podendo ficar acima desse nível em algum momento. De qualquer forma, a autoridade monetária norte-americana quer evitar a inflação siga persistentemente abaixo do alvo e, por ora, um ritmo gradual de alta dos juros tende a ajudar o Fed a alcançar tal objetivo.

Já o BC brasileiro, foi bem mais claro e trocou a comunicação junto ao mercado financeiro, dizendo que, agora, vê como “apropriada” uma flexibilização monetária moderada adicional na próxima reunião do Comitê. Já para os encontros posteriores ao de maio - aí sim, a interrupção do processo parece ser o mais adequado, o que altera o prognóstico lançado em janeiro, quando a autoridade monetária sinalizou que o fim do ciclo neste mês era o mais esperado. O Copom se apoia no cenário de inflação de curto prazo e na necessidade de estímulo à atividade doméstica para manter o ritmo de cortes, a doses menores.

Mas enquanto digerem a mensagem do Copom, os investidores monitoram o julgamento no STF do pedido de habeas corpus preventivo impetrado pela defesa de Lula, de modo a evitar a prisão do ex-presidente após o julgamento de todos os recursos em segunda instância. A última peça no TRF-4 será analisada na próxima segunda-feira (dia 26), mas a Corte ainda precisa definir se o líder petista pode seguir em liberdade até que sejam esgotados todos os recursos em todas as instâncias.

A defesa de Lula quer que ele só seja preso quando o processo transitar em julgado. Se a maioria dos ministros aceitar o pedido, o ex-presidente se livra da prisão após a condenação em segunda instância e ganha uma sobrevida para costurar as forças políticas, de olho no pleito de outubro. A expectativa é de que o placar na Corte seja apertado, de 6 a 5, mas ainda é dúvida se o veredicto será favorável ou contrário a ele. Ainda mais após a troca de farpas ontem entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, com a discussão acalorada elevando os nervos no Judiciário.

Nesta quinta-feira será conhecida mais uma decisão de política monetária, desta vez, do BC inglês (BoE), às 9h. A expectativa é de que a taxa de juros no Reino Unido seja mantida em 0,50%, o que também desloca as atenções para a linguagem a ser usada no comunicado que acompanhará a decisão, em busca de sinais sobre um aperto no encontro seguinte, em maio.

Entre os indicadores econômicos, a agenda do dia está recheada de dados preliminares deste mês sobre a atividade (PMI) nos setores industrial e de serviços em países da zona do euro e no bloco da moeda única como um todo, além dos Estados Unidos. Ainda no Velho Continente, chama atenção o índice alemão (IFO) sobre a confiança do empresário em março.

Também no calendário norte-americano, saem os pedidos semanais de seguro-desemprego (9h30) e os indicadores antecedentes de fevereiro (11h). Já no Brasil, serão conhecidos dados sobre a percepção dos consumidores em relação à inflação futura (8h) e sobre o desempenho da indústria no mês passado (11h). Em Brasília, o governo deve anunciar um novo corte de gastos, bloqueando mais uma fatia do Orçamento deste ano.

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