Queima de Estoque
Se na segunda-feira eu falei que a vida era uma constante repetição de ciclos, os políticos brasileiros também não são nenhum poço de criatividade: todo acusado e/ou investigado é “inocente”, “vítima de um golpe”, “perseguido político” ou “sofre por ter melhorado as condições do país e do povo brasileiro”
Se é difícil acreditar que Temer seja inocente, beira o impossível acreditar que a celeridade no processo e fatiamento dos inquéritos se dê pura e simplesmente porque Janot e Fachin são paladinos em nome da Justiça.
Janot faz o governo sangrar, paralisa a agenda de reformas e todo o fogo político de Temer se concentra em sua defesa – a boa e velha negociação de benesses para deputados para conseguir os 171 votos e escapar da (primeira) denúncia do MP – dessa vez, não me parece que o Lula vai se instalar no Golden Tulip para “bater um papo” com os deputados.
O PGR parece querer não só a queda do presidente, está lutando pela anulação completa de seu mandato – deu entrada no STF para pedir a suspensão da lei da terceirização; ao menos, a relatoria caiu com Gilmar Mendes, que deve estar inclinado a negar o pedido do procurador.
Me Ajuda a Te Ajudar
Até que se resolva o imbróglio, o máximo que podemos esperar é uma boa vitória da reforma trabalhista hoje na CCJ (governo quer uma margem de, pelo menos, três votos), e votação favorável em plenário na segunda quinzena de julho.
Fica difícil esperar que se avance na Previdência – mesmo a aprovação da idade mínima parece um sonho ambicioso, enquanto a base vai se esfarelando ao redor de Temer.
Até a PF parece disposta a se aproveitar do inferno astral do Bela Lugosi Tupiniquim – a suspensão de emissão de passaportes por “falta de verba” parece retaliação pelo enxugamento do orçamento da entidade – cada passaporte emitido custa 257,25 reais e, imagino, o pagamento da GRU deveria cobrir os custos de emissão.
Mas, quando se tem teto de vidro e conversa gravada, fica fácil tirar uma casquinha.
Quem sofre são os mesmos de sempre: o povo brasileiro, que, querendo ou não, elegeu todo mundo que está ali.
Leio casualmente no Twitter: “Nós do Maranhão não temos sorte. Depois de aturar por décadas a oligarquia Sarney, observamos outra oligarquia em formação” – sobre Flávio Dino (governador do Maranhão) e Nicolao Dino (seu irmão e líder na lista tríplice para sucessor de Janot na PGR).
Não tem muito a ver com sorte, tem? Sarney e Dino foram eleitos pelo povo maranhense, até onde eu sei. É como reclamar do "Temer golpista" depois de terlacrado 13 em outubro.
É como o cara que todo dia reza pedindo a "graça" dos milhões da Mega-Sena. Depois de meses de reza sem resultado, perde a fé e começa a excomungar seu santinho preferido.
O santo se revolta e rebate: "Você podia ao menos jogar na loteria, amigo".
Vovó Sem Papas na Língua
Na Europa, depois do discurso de Draghi sinalizando fim da farra monetária, foi a vez do "banqueiro central" inglês sinalizar que talvez tenha chegado a hora de subir os juros da rainha. Bolsas no Velho Mundo continuam sofrendo e o euro fica próximo a 1,14 dólar, nas máximas em mais de um ano – um pouco de ajuste e acomodação não faz mal a ninguém. Por enquanto, nada de pânico.
Nos EUA, Bolsas sobem porque, bem, por lá as Bolsas sobem.
Ontem, a vovó Yellen resolveu desafiar a lógica e o bom-senso e afirmou que os principais bancos estão “muito mais fortes” e que é improvável que “nossa geração” testemunhe uma nova crise financeira.
Primeiro que depende de qual geração ela está falando – a minha, a sua ou a dela…
Segundo: eu tenho duas certezas nesta vida e uma delas é que a minha geração ainda não viveu sua última crise em 2008. Não tenho a mínima ideia de quando a próxima virá, mas ela virá.
Em janeiro de 2008, o então presidente do Fed, Ben Bernanke, falou que não havia previsão de nenhuma recessão no radar.
" The Federal Reserve is not currently forecasting a recession.” – 10 de janeiro de 2008.
Meses depois, o Lehman já era passado, e o Fed corria pra apagar o incêndio.
"My interest is solely for the strength and recovery of the U.S. economy.” – 23 de setembro de 2008.
Mas, se os caras não aprenderam depois desse tempo todo, quem sou eu pra ensinar alguma coisa?
Só sei que minha “cruzada” para alertar sobre o comportamento “estranho” das Bolsas americanas ganhou mais um adepto: a Economática soltou um estudo mostrando que a volatilidade do Dow Jones está em seu nível mais baixo (8,22 por cento) desde 1966 (8,18 por cento).
Por aqui, a Bolsa tenta se segurar e fica "de lado" com mais uma boa performance de Vale (SA:VALE5) e siderúrgicas. Dólar recua de leve com comportamento difuso da curva de juros, sem sinal definido pra cima ou pra baixo.
Segurança com Emoção
Aliás, falando em juros, quando a gente olha a flutuação de preços dos títulos do Tesouro Direto, fica sempre aquela pergunta de por que o pessoal chama essa coisa de “Renda Fixa”. Que história é essa de renda fixa que “vareia”?
Quem conhece bem o mercado de títulos e bonds, sabe muito bem que a renda fixa, muitas vezes, só é fixa no nome – a tal da marcação a mercado pode trazer flutuações (e emoções) e, se você não estiver preparado, pode tomar um belo susto.
Por outro lado, se você fizer o “dever de casa” e conversar com quem conhece, pode ter lucros expressivos e ainda contar com uma aplicação confiável e segura.
Se comprar uma NTN-B com cupom de 6 por cento ao ano com vencimento em 2026, vai ganhar uma boa grana se os juros caírem mais do que o mercado espera. Se as coisas derem errado e os juros subirem, você carrega o papel até o vencimento e, desde que o Brasil não quebre, garante um rendimento de 6 por cento real pelos próximos 9 anos.
Parece uma boa, não?
"Fixa" só no Nome
No meio de um monte de "equity guys" aqui na Empiricus, a Marília vive uma luta diária pra mostrar que, sim, existe lucro e emoção no mundo da renda fixa. Tenho que confessar que, muitas vezes, é melhor estar ali no conforto dos títulos públicos do que passando esse perrengue todo com ações.
Marília curte e conhece tanto o assunto, que escreveu um livro beeeeem bacana e está te oferecendo de graça, junto com um monte de outras benesses – é só pagar o frete que leva uma montanha de vantagens!
Garanta o seu aqui!
Na linha de retrocessos, podemos esperar o fim do fim do imposto sindical – Paulinho da Força estaria negociando diretamente com o Planalto para que a mamata dos sindicatos não acabe com a reforma trabalhista. Começo a temer pela austeridade da Fazenda quando o presidente precisa abrir os cofres para sobreviver.
Depois de chamar empresários russos de "soviéticos" (podia rolar uma sessão de "Adeus, Lênin!" no Planalto qualquer dia desses) e de fazer um discurso negando evidências e tentando desqualificar seus acusadores, Temer vai personificando sua antiga “chefa”. Dilma e Temer se merecem.
Unidos pelo hífen desde 2010.
Vai lá e lacra 13, amigo!