Rompendo o silêncio
Enfim posso falar a respeito.
Você deve ter percebido que, nas últimas semanas, a Empiricus foi objeto de diversas reportagens, que retrataram a empresa de maneira um tanto… que adjetivo usar? Deixo à cargo da sua imaginação.
Fui — tal qual o restante da equipe — fortemente questionado com relação a tudo que foi alegado. Cobranças vieram por e-mail, redes sociais e até por intermédio de contatos pessoais: o tema transbordou da esfera profissional e invadiu a vida privada de cada um de nós.
Permanecemos em silêncio enquanto necessário. Não foi fácil, tenho que admitir, mas era preciso assim proceder enquanto juntávamos as peças.
Agora, enfim, é chegada a hora de colocar as coisas em pratos limpos. Você tem o direito de saber o que está se passando entre Empiricus, CVM, MPF e tudo mais.
As necessárias explicações se encontram aqui. Sugiro leitura atenta.
Tá estranho
Dia de otimismo lá fora, na esteira de dados de emprego e na espera da ata do FED (sobre ambos falo mais abaixo). Nova York opera em alta, e assim fecharam mercados europeus.
Aqui temos leve baixa, pronta para reverter a qualquer momento. Na ponta vencedora, nomes predominantemente locais. Juros em queda moderada nos vencimentos mais longos. Dólar em leve baixa.
Até o fechamento desta edição não consegui verbalizar o porquê, mas o mercado hoje me parece estranho… Se conseguir elaborar, retomo amanhã.
Muito barulho por nada
Causou rebuliço, na noite de ontem, a publicação de uma errata do BC referente ao último relatório de inflação. Resumidamente, algumas projeções divulgadas pela instituição foram rodadas com parâmetros errados, o que poderia conduzir à equivocada conclusão de que a política monetária está perdendo eficácia. A versão corrigida mostra outra história, com revisões expressivas (e para baixo) das projeções de inflação futura — com ênfase para 2018.
A imprensa olhou para aquilo tudo e começou a levantar a possibilidade da errata suscitar a hipótese de cortes ainda mais profundos de juros à frente. Atenções se voltaram ao mercado de juros hoje.
O que aconteceu? Nada. Consternação? Calma, eu explico:
As projeções equivocadas diziam respeito ao chamado “cenário de referência”, que é uma simulação de como as variáveis se comportariam caso a política monetária se mantivesse constante (grosso modo, juros ad aeternum no nível atual). Não é isso que importa: o mercado olha e precifica as quedas à frente.
Foi um tropeço da equipe do BC, mas nada de mais.
Show me the growth
Independentemente disso, fica a pergunta: o mercado hoje trabalha com Selic chegando ao final do ano a 8,75. Tem espaço para cair mais?
Atividade econômica segue fraca e projeções de PIB estão ficando cada vez mais minguadas. A questão é que o decurso do tempo e a natural defasagem da política monetária (baixa-se juros hoje e os efeitos só são sentidos após meses) reduz a margem de manobra para 2017.
É possível — veja que não estou afirmando — que, em breve, o mercado conclua que o movimento de juros para 2017 já está dado.
O ponto passa a ser 2018, ano ao longo do qual o mercado hoje só projeta uma queda de 25 pontos na taxa.
Aí vai depender de como a atividade reagir. Nesse sentido, Meirelles vem com conversa de crescimento de longo prazo.
Com a devida vênia ao Ministro, show me the growth.
A América no longo prazo
Dados (privados) da ADP voltaram a sugerir mercado de trabalho aquecido nos Estados Unidos. A métrica é vista como antecedente do relatório de emprego (oficial), que sai na sexta-feira.
Persiste a leitura de que encontrar emprego na terra do Tio Sam não está sendo problema. O ponto que merece atenção, a meu ver, é que tipo de vaga está sendo preenchida.
Salários não crescem, o que dá espaço para pensar que se tratam de posições de baixa remuneração e produtividade. Alguém pensou em McDonald’s e Wal-Mart?
Que bom que as pessoas têm emprego. O problema é que produtividade do trabalho já é um problema importante nos EUA e, na falta de vagas qualificadas, o crescimento de longo prazo fica prejudicado.
Mas nada disso é para agora — por ora, o mercado simplesmente não se importa. Hoje à tarde tem ata do FED e todas as atenções estão voltadas para o documento. Amanhã é o encontro entre Trump e Xi Jinping, igualmente digno de atenção.
Dois pesos, duas medidas
Do lado de cá, a questão de longo prazo que me chama atenção é institucional. Explico:
TSE: depoimento de Mantega ocorre amanhã, quinta-feira. João Santana e Mônica Moura, cujas delações foram homologadas por Fachin ontem, também serão ouvidos. Já se fala que, por conta de tudo isso, retomada do julgamento no TSE ficou para maio.
Aí começa a sacanagem: a leitura de que, em função do fim do mandato de dois ministros que supostamente seriam propensos a votar a favor da cassação, as chances de Temer são melhores. Em outras palavras: trabalha-se abertamente com a premissa de que as nomeações são feitas com vistas a beneficiar A ou B.
Se fosse no tempo do PT, reação seria (corretamente, enfatizo) de escândalo: “estão mexendo na composição da corte para defender este ou aquele interesse! É uma afronta à dignidade do Judiciário!”
Agora não é? Respondo: é sim. Não conte comigo para ver isso com bons olhos: o enxovalho institucional a que determinados setores estão dispostos a submeter o país simplesmente não pode render boa coisa no longo prazo.
O tempo é o melhor juiz.