Retardamentos na trajetória da Reforma da Previdência e burburinhos novos no campo político com potencial perturbador já se mostram insuficientes para dar suporte à continuidade do movimento especulativo sobre a formação do preço do dólar a partir do mercado futuro.
O único efeito objetivo que ainda decorre da atual situação é eventual contenção da intensidade do viés de apreciação do real frente à moeda estrangeira, havendo no momento um discreto ponto de sustentação, porém sem ter capacidade de impulsionar mais o preço.
Esta é a síntese do que foi observado ontem.
E é importante observar que a relação real/dólar no nosso mercado ocorre absolutamente assimétrica com o movimento externo.
A despeito das elucubrações midiáticas apontando pareceres sobre as informações vazadas e supostas consequências envolvendo o Ministro da Justiça Sérgio Moro, o mercado financeiro “passou absolutamente em branco”, contrariando até algum efeito esperado, e não repercutiu ou valorizou o fato, aparentemente limitando-o ao nada.
Acreditamos mesmo que o “gatilho” para acentuar a depreciação do preço do dólar frente ao real esteja diretamente alinhado à evolução positiva que ocorrer em torno da trajetória da Reforma da Previdência, fato que com eventual retardamento poderá viabilizar alguma sustentabilidade ou queda mais gradual, mas parece afastada a hipótese de recuperação com sucesso do movimento especulativo no mercado futuro de dólar.
Ao que tudo indica, o interesse maior dos “comprados” neste momento é ultimarem os desmanches de suas posições com o menor grau de prejuízos, pois sabem que na outra ponta estão ávidos “vendidos” os bancos, que não perderão oportunidade para incrementarem o viés de depreciação do preço da moeda estrangeira.
Este é um embate do nosso mercado de câmbio interno, que neste momento tem quase nenhuma sinergia com o comportamento da moeda americana no mercado internacional, pois o país tem situação absolutamente tranquila na questão cambial.
Como temos destacado entendemos que a correlação do preço da moeda americana no nosso mercado com o do mercado externo só se tornará efetiva quando o preço local estiver no seu preço de equilíbrio, ou seja, compatível com o “status quo” brasileiro neste quesito.
A expectativa é que hoje o relator da Reforma da Previdência entregue o seu relatório, o que será, embora tardio, um fator positivo para o andamento do processo.
O cenário externo parece que vai se acomodando à forma de conviver com as inconstâncias do Presidente Trump e sua capacidade incessante de promover conflitos na cena global e alimentá-los com contradições sistemáticas, e desta forma já não repercute de forma tão imediata suas atitudes. Porém, inegavelmente são perturbadoras pelas incertezas que promovem cotidianamente.
Há forte convicção de que na semana próxima na reunião do FOMC a taxa de juro americana sofrerá corte, porém a moeda americana ainda registrou ontem valorização frente à cesta de moedas, quando o viés deveria ser de desvalorização.
E por aqui, com os dados concretos em torno do IPCA e as projeções do Boletim FOCUS é crescente a perspectiva de que o COPOM venha a deliberar um corte na taxa de juros SELIC em sua próxima reunião, ainda que não esteja consolidada a aprovação final da Reforma da Previdência, como era entendida a sua sinalização.