Déjà vu no mercado do boi gordo?
No primeiro bimestre, considerando a média dos estados pesquisados pela Scot Consultoria, o preço do boi gordo subiu 4,4%. Em doze meses, a valorização média foi de 9,0%.
O mercado futuro também aponta para preços firmes. Veja a figura 1.
Por outro lado, no mercado atacadista de carne com osso, os preços caíram 3,6%. O boi casado de bovinos castrados estava cotado em R$9,70/kg no início de março, frente a R$10,6 no começo do ano.
Como resultado destes movimentos, ocorreu queda na margem dos frigoríficos nas últimas semanas, atingindo patamares que inspiram cuidado.
A diferença entre o preço pago pelo boi gordo e o recebido pelo Equivalente Scot Desossa (receita com a venda de carne sem osso, couro, sebo, miúdos, derivados e subprodutos) está em 14,7%, queda de 10,6 pontos percentuais em relação à primeira semana de janeiro, quando este índice estava em 25,3%.
Relembrando 2015
A necessidade de cuidado com as margens vem ao olharmos no retrovisor, para ver o que ocorreu em 2015.
Nos primeiros cinco meses do ano passado, a indústria frigorífica trabalhou com margens abaixo da média, chegando a 10,6% em abril, frente à média histórica de 20,7%, considerando o período desde 2007.
Com as margens curtas, muitas foram as paralisações e as férias coletivas nos frigoríficos naquele período. De acordo com levantamento realizado pela Scot Consultoria, em julho de 2015, 30 plantas frigoríficas haviam paralisado as atividades. Somadas às unidades que deram férias coletivas foram mais de 40 unidades paradas.
Assim, houve uma adequação nas atividades das indústrias, que passaram a abater menos bovinos, em um menor número de plantas.
Apesar da pressão generalizada, a oferta limitada de boiadas não permitiu que as cotações cedessem de maneira expressiva.
E em 2016?
A oferta está curta, assim como em 2015. Devemos ter um ano de retenção de fêmeas.
A baixa disponibilidade de garrotes e bois magros no ano passado resulta em menor quantidade de bovinos terminados este ano. Se não havia excesso de reposição em 2015, não haverá grande oferta de bovinos terminados nos próximos meses.
Além disso, o preço pago pela reposição incentiva o criador a manter as fêmeas, com finalidade de produção de bezerros, diminuindo a quantidade de bovinos totais abatidos. Este cenário tem sido comum desde o ano passado.
A expectativa é de que o preço da arroba se sustente na oferta limitada.
Já para a demanda, assim como em 2015, a situação econômica caótica afeta negativamente o consumo.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que representa a inflação oficial no Brasil, iniciou o ano com taxa mensal de 1,27%, a maior desde 2003. A taxa de desemprego ficou em 7,6% em janeiro, a mais alta desde 2009.
Para o PIB, a expectativa é de contração de 3,45% em 2016, segundo dados do boletim Focus (26/2).
Diante deste cenário, projeta-se dificuldade de escoamento de carne bovina.
A boa notícia é que a alta do dólar e a abertura de novos mercados para a carne bovina brasileira incentivam a exportação.
Considerações finais
Em um ano com expectativa de baixo consumo e alta de custo, o objetivo é realizar lucro sempre que a oportunidade aparecer.
Nos períodos em que as margens se estreitaram a indústria reagiu ofertando menos pela arroba do boi gordo. Houve desvalorizações, mesmo que limitadas pela oferta de boiadas.
Somado a isso, a alta dos demais custos, como eletricidade, diesel e mão de obra, influencia a indústria a ofertar preços menores pela arroba, o que não descarta a possibilidade de que as cotações não cheguem aos patamares apontados pelo mercado futuro. É um risco.
O ano é de oferta limitada de boiadas e não está previsto que os preços caiam com intensidade, entretanto, a redução do poder de compra da indústria e a queda do consumo conturbam esse cenário.
Nos últimos dias foram observadas movimentações de pressão de baixa expressivas, das trinta e uma praças pesquisadas pela Scot Consultoria dez praças caíram.
Em algumas regiões as indústrias chegam a oferecer até R$7,00 a menos que o preço da referência. Não ocorreram negócios, entretanto confirma a tentativa das indústrias em recuperar a margem.