Balanço final
A Empiricus parabeniza a presidente Dilma Rousseff pela reeleição e deseja boa sorte em seu segundo mandato. Decisões das urnas são legítimas e devem ser respeitadas.
De nossa parte, reafirmamos o compromisso de continuar monitorando os desdobramentos da política econômica para contribuir dentro do possível no enriquecimento do debate. Seguimores críticos e elogiosos, quando pertinente. Vocação se respeita e se cumpre.
Independentemente dos argumentos dissonantes, algo que sempre vai ter, e apesar do clichê, o que está em jogo aqui não é a vitória ou derrota de um ou outro partido político, mas sim um modelo de Brasil.
Stay hungry. Stay foolish.
Continuemos famintos. Continuemos tolos.
E agora, o Brasil vai acabar?
Essa é de longe a questão mais endereçada aos nossos emails neste breve pós-eleição. Boa parte, suspeito, em tom jocoso.
A resposta é não. Sempre foi.
Países não acabam. Acabam apenas metaforicamente.
O que já se provou encerrado foi o modelo de Brasil construído em 1994, a partir da estabilização, adoção do plano real e compromisso com o tripé macroeconômico: respeito ao regime de metas de inflação, câmbio flutuante e metas fiscais, permeado por boa gestão microeconômica, horizontal, menos discricionária, com menor intervencionismo e maior abertura.
Pois bem, esse fim do Brasil já aconteceu, algo provado na defesa de um novo tripé e provado pelos indicadores econômicos divulgados (ainda que alguns tenham sido oportunamente adiados).
O câmbio sofre interferência maçica e diária do Banco Central, a inflação oficial encontra-se atualmente acima do teto de 6,5% ao ano (última leitura do IPCA em 6,75%) e o respeito às metas fiscais prova-se um desafio legal ainda para este ano...
Sobre essa última, copio abaixo ipsis literis trecho de hoje de matéria do Valor Econômico:
“Uma das primeiras providencias do novo governo Dilma Rousseff será decidir como tratar, legalmente, o descumprimento de todas as metas fiscais deste ano. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) dá amparo para um superávit de pelo menos R$ 49,07 bilhões. Se ficar aquém desse valor - a expectativa é de que haja um déficit primário este ano, o que não ocorre desde 1997 - o governo terá que enviar novo projeto de lei ao Congresso, estabelecendo nova meta, ou estará cometendo crime de responsabilidade fiscal. Uma outra hipótese, menos cotada, é adiar despesas deste ano para janeiro de 2015.”
Dilma paz e amor?
A leitura inicial do novo governo, desde que isolada a retórica, parece ir no sentido de reaproximação e união de diferenças...
Na tentativa de conter os ânimos e minimizar o baque inicial sobre os preços dos ativos, começam a ventilar nomes de uma possível composição do novo quadro econômico amigável ao mercado, fala-se em unir opostos e até em um Banco Central mais autônomo.
Infelizmente, ainda é um tanto protocolar, e bastante distante da realidade. Os atos pregam justamente o oposto.
No discurso de posse, falou-se em trabalhar pela conciliação (sem parabenizar ou sequer mencionar a oposição) e buscar uma união ao mesmo tempo em que houve negação de que o país esteja dividido (mesmo com 51 milhões de votos ao candidato da oposição, e 37 milhões de abstenções, votos brancos e nulos).
More than words....
Matéria do Valor destaca que já é considerada proposta no sentido de maior independência do Banco Central, conferindo mandato à diretoria da autarquia... Acreditar nisso depois do terrorismo do BC que rouba comida das pessoas e do que fizeram no trabalho de desconstrução da campanha de Marina? Sério?
Mentiras sinceras lhe interessam?
O risco de derrota nas urnas levou a campanha da situação até as últimas consequências, ao embate mais sórdido já visto na democracia brasileira.
Destruiu não somente as campanhas alheias, como a credibilidade das instituições: o que dizer do Ipea e seus indicadores adiados, barrados ou revisados; da PF, e sua permissão para investigar; do STJ e seus julgamentos “políticos”; da demonização dos bancos e do setor financeiro...
Uma campanha levada ao extremo também tem o seu custo, a sua herança. Esta garantiu o poder, mas desconstruiu qualquer ponte de aproximação com o setor produtivo, que enfrenta o maior processo de desindustrialização da história e convive com o menor ritmo de crescimento da atividade de toda a república desde Floriano Peixoto, e assume isso nos índices de confiança entre mínimas históricas.
O trabalho do segundo mandato será árduo. Terá de lidar com crise institucional, quebra de confiança, um Congresso bem mais duro, uma herança econômica muito ruim, com a pressão dos malabarismos fiscais e dos preços represados e acusações de corrupção que, comprovadas, podem levar a uma ruptura do governo atual.
O caminho é bastante espinhoso, assim como seria para Aécio.
O momento exige cautela, postura defensiva, e vai muito além da retórica.
O homem do ano (para os mercados)
Para os mercados, a indicação mais importante é do próximo Ministro da Fazenda. Trata-se da interlocução direta com os mercados de capitais.
Assim como Lula fez inicialmente a Carta Brasileiros para comprometer-se a dar sequência à política anterior e a posterior nomeação do “banqueiro” Henrique Meirelles ao Bacen para acalmar os mercados...
No caso de Dilma, porém, os nomes ventilados por ora não trazem grande alento. Fala-se iniciamente em Aloísio Mercadante ou Nelson Barbosa.
Gostamos especialmente do segundo e acreditamos que o mesmo geraria em primeiro momento muito maior confiança nos mercados e na iniciativa privada, mas a grande questão é sua capacidade de, sozinho, resistir à imposição da política econômica do partido.
Já Mercadante seria dobrar a mão na política atual. Mais radical e totalmente comprometido com a política de partido.
Especulam-se também os nomes de Luiz Carlos Trabuco para a Fazenda e Eduardo Loyo para o Banco Central...
Sério, o Traduco do Bradesco, representante do demonizado mercado financeiro?
O Loyo do BTG Pactual, que além do mercado financeiro, compunha o embrião da tão criticada equipe econômica de Aécio???
O grande Gapsby
Em um cenário binário, era inevitável a correção à grande distorção de preços nesta segunda-feira. Como se prova no derretimento das ações de estatais e bancos, na resistência dos papéis de empresas com exposição líquida positiva em dólares e forte perda de valor do real em relação ao dólar, que já bate em R$ 2,56.
Mas isso é apenas o primeiro momento, a correção imediata ao grande gap dos preços. Olhando os desafios à frente, até vamos parar?
De princípio, considerando a agravante do fim do superciclo e queda iminente nos preços das commodities e início do afrouxamento monetário como consequência da retirada dos estímulos nas economias desenvolvidas, não me surpreenderia com um dólar em busca de R$ 3,00 e de um Ibovespa a 12 mil pontos em dólares (cerca de 40 mil pontos em reais).